Por pouco dinheiro

Leandro Martins
Nas toneladas de papel ou nos gigabites de informação que semanalmente nos despejam em cima, há, por vezes, uma frase, uma notícia, um lampejo de realidade – muitas vezes devidamente «ficcionada» - que nos prende, ou alerta, ou, muito simplesmente nos chama a atenção.
Desta vez, entre a chusma de títulos que olhamos quase sem ver, fomos apanhados por uma manchete do Correio da Manhã. «Árbitros vendem-se por 500 euros», lia-se na primeira de sábado.
Seria um anúncio, em que uma confraria de árbitros punha à venda os seus serviços, numa promoção popular?
Não era, certamente. Deu ainda para pensar que, na frase objectiva do jornal, se veiculava a ideia de que a corrupção era barata de mais. Que ficava mal a um árbitro vender os seus «serviços», falseando resultados, por tão pouco, quando arriscava o aborrecimento de, por exemplo, ser detido, levado a julgamento, enxovalhado, apontado a dedo pelos adeptos dos clubes a que terá recusado vitórias (os adeptos dos clubes ganhadores não costumam protestar).
Tão pouco dinheiro, de resto, contribuirá certamente para angariar aos prevaricadores da arbitragem penas severas e uma justiça célere. Quando o montante é grande, os eventuais arguidos podem contar com a preciosa ajuda de advogados pagos também principescamente que asseguram, pelo menos, o arrastar dos processos, os habeas corpus, quiçá uma viagem de ida e volta ao Brasil.
Porque isto da confiança na Justiça – que toda a gente e principalmente os arguidos de crimes mais horríveis do que uma simples «distracção» a deixar cair uma falta ao jogador que meteu a mão à bola, faz gala em garantir – é uma falácia que não convence. Veja-se os casos de Felgueiras ou da Casa Pia, que demoram anos a ir a julgamento, de tal sorte que já ninguém dá como certo que a Justiça vai prevalecer.
E, se quiséssemos falar de política, quanto mais altas e mentirosas são as promessas, mais certo é que os governos vão passar sem julgamento. E quando mentem ou quando metem nos bolsos do capital o dinheiro que é produto do trabalho, ninguém os leva presos.


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