A Oeste nada de novo

Jorge Cordeiro
Poucos momentos haverá em que o ditado popular que aconselha à não saída de casa em certos dias tenha tão indiscutível actualidade quanto a da recente visita de Sócrates aos Estados Unidos.
Desde logo por razão de forma decorrente das sucessivas «gaffes» com que o primeiro-ministro animou e preencheu a deslocação. E mesmo que em sua defesa se possa sempre aduzir em jeito de justificação que, também aqui não abandonando o aforismo popular que aconselha a que «em Roma sê romano», os vários desacertos de Sócrates teriam sido um gesto diplomático de harmonização intelectual com o seu anfitrião, sempre se diga que remeter Mandela para os não vivos ou trocar os pontos cardeais não é coisa que fique bem. Mesmo que como atenuante se possa sempre alegar que a troca de Oeste por Oriente – dando ao Médio Oriente (Middle East) a designação de Middle West (Médio Oeste) – só pode ser produto da brusca alteração de fusos ou de uma traiçoeira lacuna no curso de inglês técnico, a verdade é que este meter as mão pelos pés, ou mais apropriadamente este trocar de mãos, é de indisfarçável infelicidade.
Mas sobretudo por razões de conteúdo e de política. Primeiro, pela ousada declaração de elogio de Bush às reformas do actual Governo em matéria de segurança social, que em si mesmo deviam de fazer corar de vergonha Sócrates, acaba por constituir um acto de pronunciamento sobre políticas internas de outro Estado, acolhidas ao que tudo indica com aquele agrado interior que os elogios suscitam. Depois, pelo público agradecimento, que por si só envergonhando o País deveria envergonhar Sócrates, com que a Administração Bush quis assinalar aquilo que designa de inteira colaboração da política externa portuguesa com os objectivos dos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão.
Pelo que, tudo somado, se pode afirmar que ali, a Oeste neste caso, nada de novo se passou para além de uma confirmada, ainda que surpreendente no tom, harmonia de interesses políticos entre o Governo do PS e a Administração Bush.


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