A importância das eleições gregas

Ângelo Alves

Uma boa notícia, um sinal de confiança

Os resultados eleitorais das recentes eleições legislativas gregas foram marcados pelo reforço eleitoral do Partido Comunista da Grécia (mais 150 000 votos, passando de 5,9% para 8,2% e de 12 para 22 deputados) e pela erosão da base eleitoral dos dois maiores partidos, o Partido “Nova Democracia” (direita tradicional), reconduzido no governo e o PASOK (social-democrata) que registou o seu pior resultado desde 1977.

Estas eleições convidam a uma reflexão que vai bem mais além da interpretação exaustiva dos seus resultados. Não porque, na nossa opinião, os resultados eleitorais possam ser vistos como o único ou mais importante elemento aferidor do acerto de linhas políticas e ideológicas de intervenção e organização. Essa avaliação - sobretudo quando falamos de Partidos Comunistas ou progressistas – assenta fundamentalmente na análise da sua influência social e capacidade de entrosamento com as massas trabalhadoras e populares; do grau de organização dos trabalhadores e das populações; da afirmação e capacidade de penetração do projecto e do ideal comunistas e ainda do grau de fortalecimento orgânico dos Partidos. Por isso, olhamos para os resultados do Partido Comunista da Grécia como uma consequência, não de uma boa campanha eleitoral ou de uma conjuntura particular, mas de um trabalho sistemático de fortalecimento e de construção, sobretudo desde 1991, de um forte Partido Comunista. São a expressão eleitoral da sua linha de aprofundamento de ligação às massas e de aumento da sua influência social. E ainda de uma crescente capacidade e determinação na intervenção política, na luta das ideias e na construção de uma frente popular, anti-imperialista e a anti-monopolista na Grécia.

Dito o essencial é ainda importante referir que os resultados eleitorais não deixam de espelhar tendências no plano da luta social, política e ideológica. Os resultados na Grécia evidenciam um descrédito crescente nos dois partidos do sistema de política única, intimamente ligados e comprometidos com o actual processo de integração capitalista na Europa e alinhados com o imperialismo norte-americano e com a NATO. Esta é de facto hoje uma realidade, na Grécia e noutros países da Europa. Assim como o é a falência da ideia peregrina de que a social-democracia – esteja no governo ou na oposição - poderia nos dias de hoje representar uma qualquer alternativa ao neoliberalismo, mesmo que travestida algumas vezes com a cooperação com alguma esquerda dita “de confiança”.

Contrariando um caldo político propício ao conformismo e à confusão ideológica, e enfrentando campanhas difamatórias e de tentativa de isolamento político, o Partido Comunista da Grécia tem conseguido capitalizar o descontentamento canalizando-o para uma significativa torrente de lutas sociais que atravessaram a sociedade grega nos últimos anos. Mais, os seus resultados eleitorais indiciam a tomada de consciência política por parte de alguns desses sectores de que a alternativa política passa, em primeiro lugar, pelo reforço das posições comunistas. É que foi entre os trabalhadores do sector privado, os desempregados, os pequenos agricultores e, muito importante, entre a juventude – sectores que estiveram envolvidos em importantes processos de luta - que o PC da Grécia reforçou a sua base eleitoral de apoio.
Os resultados da Grécia são por tudo isto uma boa notícia, um sinal de confiança. Um importante contributo para o reforço do movimento comunista, dos seus ideais e projecto.


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