Depressão
Os portugueses são um povo doente. Dantes dizia-se que era um povo triste, daí a sua queda para o fado, o seu pendor para a saudade que até podia ser saudade do que ainda não houvera sido. Bisonhos, pois, os portugueses. Um povo amável para os turistas, tão amável que grande parte não suportou estar longe dos estrangeiros que apenas nos visitavam no Verão, e daí o seu pendor para a emigração, onde podia também cultivar a saudade ou afogá-la em tinto importado da terra.
Tudo isto, claro, são ideias feitas, embora concorde que cada povo, tomado em geral, tem as suas idiossincrasias que o poder molda a seu gosto, seja na terra natal seja nos longes onde os emigrantes vendem o seu trabalho. Com a comunicação e os seus comunicadores a ajudar, vamos fazendo ideias de outros povos – os ingleses têm a mania, os americanos são o máximo, os russos comiam criancinhas antes de passarem fome, os ciganos são um povo maravilhoso – depois de os considerarmos rapineiros – os judeus são uns coitadinhos – que mais tarde se tornaram heróis do Ocidente...
É claro que também tínhamos de fazer uma certa ideia de nós próprios. Deitados à sombra de um império desvanecido, a sonhar com passados gloriosos, abundantes em ouro, especiarias e escravos, como o Salazar ensinou longas décadas, os portugueses terão acordado num repente, certo dia de Abril, já lá vão 33 anos, e mostraram a si próprios e ao mundo que não, senhores, eram um povo como os outros, ansioso pela liberdade, pela democracia, pela justiça. A alegria e a confiança explodiram na participação popular na coisa pública. E, quem por cá mandava e sugava o trabalho e o ânimo dos lusitanos, como em pesadelo, viveu momentos de pânico. O império foi pela borda fora, os «inimigos» de antes passaram a ser os irmãos do futuro, muitos dos vampiros rasparam-se para a estranja e os outros pareceram moldar-se, virando casacas apressadamente, apostando na recuperação, lenta mas pertinaz, do poder que lhes fugiu.
Os portugueses, paulatinamente, tornaram à soturna melancolia, ao que parece. Pelo menos assim tentam pintar-nos. Segundo quem nos informa todos os dias, não há povo mais doente. Ele são milhões de diabéticos, de hipertensos, de cardíacos, de obesos, de infectados com as mais variadas enfermidades. Fazendo as contas, dir-se-á que os dez milhões que somos por cá, não aguentam tanta doença. A não ser que acumulem.
Hoje, dizem-nos que também somos cada vez mais depressivos – que só entre 2000 e 2005 aumentámos em 65 por cento o consumo de antidepressivos. Porque será?
Tudo isto, claro, são ideias feitas, embora concorde que cada povo, tomado em geral, tem as suas idiossincrasias que o poder molda a seu gosto, seja na terra natal seja nos longes onde os emigrantes vendem o seu trabalho. Com a comunicação e os seus comunicadores a ajudar, vamos fazendo ideias de outros povos – os ingleses têm a mania, os americanos são o máximo, os russos comiam criancinhas antes de passarem fome, os ciganos são um povo maravilhoso – depois de os considerarmos rapineiros – os judeus são uns coitadinhos – que mais tarde se tornaram heróis do Ocidente...
É claro que também tínhamos de fazer uma certa ideia de nós próprios. Deitados à sombra de um império desvanecido, a sonhar com passados gloriosos, abundantes em ouro, especiarias e escravos, como o Salazar ensinou longas décadas, os portugueses terão acordado num repente, certo dia de Abril, já lá vão 33 anos, e mostraram a si próprios e ao mundo que não, senhores, eram um povo como os outros, ansioso pela liberdade, pela democracia, pela justiça. A alegria e a confiança explodiram na participação popular na coisa pública. E, quem por cá mandava e sugava o trabalho e o ânimo dos lusitanos, como em pesadelo, viveu momentos de pânico. O império foi pela borda fora, os «inimigos» de antes passaram a ser os irmãos do futuro, muitos dos vampiros rasparam-se para a estranja e os outros pareceram moldar-se, virando casacas apressadamente, apostando na recuperação, lenta mas pertinaz, do poder que lhes fugiu.
Os portugueses, paulatinamente, tornaram à soturna melancolia, ao que parece. Pelo menos assim tentam pintar-nos. Segundo quem nos informa todos os dias, não há povo mais doente. Ele são milhões de diabéticos, de hipertensos, de cardíacos, de obesos, de infectados com as mais variadas enfermidades. Fazendo as contas, dir-se-á que os dez milhões que somos por cá, não aguentam tanta doença. A não ser que acumulem.
Hoje, dizem-nos que também somos cada vez mais depressivos – que só entre 2000 e 2005 aumentámos em 65 por cento o consumo de antidepressivos. Porque será?