Um novo rumo para a Serra da Estrela

Carlos Gonçalves (Membro da Comissão Política)
Covilhã, Seia, Gouveia, Manteigas, Oliveira do Hospital, Aguiar da Beira, Fornos de Algodres, Celorico da Beira, Guarda, Belmonte e Fundão, 11 concelhos, 236 freguesias, 222.017 residentes, recursos endógenos assinaláveis (naturais, humanos e socioculturais), mas degradação da situação económica, social e ambiental, depressão, desemprego (cerca de 20%), envelhecimento, desertificação, pobreza, atraso e divergência face à Europa, inter e intra regional - eis a Serra da Estrela.

Um novo rumo para a Serra da Estrela contra o fatalismo

A situação a que se chegou é o resultado da política de direita prosseguida há muito, de concentração capitalista, neoliberal e monetarista, e das medidas erradas, injustas e socialmente predadoras.
E os 28 meses de Governo PS/Sócrates mais não foram que continuidade e agravamento destas políticas.

Os embustes de Sócrates

Nas legislativas de 2005, José Sócrates, candidato por Castelo Branco escreveu, preto no branco, no seu manifesto, «conheço bem os problemas do interior (…) Comigo, um governo do PS acabará com o ciclo do abandono do interior e do mundo rural (…) a nossa região verá recomeçar o investimento (…) o crescimento económico passará a ser uma prioridade clara, para combatermos o desemprego e construirmos um País mais justo e mais próspero».
No manifesto eleitoral criticava-se violentamente o «completo abandono» a que 3 anos de PSD/CDS tinham votado a região e enumeravam-se os serviços públicos encerrados; leia-se a indignação: «foi ainda tentada a extinção da Maternidade de Castelo Branco».
E mais, «o PS tem um compromisso com o interior e vai cumpri-lo (…) coloca a coesão social e territorial como um dos pilares da política que vai prosseguir». Blá, blá!
Mas tudo isto eram embustes sem vergonha e falsas promessas a granel.
José Sócrates sabia bem que não era possível ter como eixo da sua política os critérios do défice e o serviço dos grandes interesses e, ao mesmo tempo, inverter as políticas do PSD/CDS.
Tinha tudo preparado, sabia como ia acusar a direita dum défice «não previsto» (os famigerados 6,83%) e partir dessa treta para a política deplorável com que estava comprometido.
Sócrates e o PS montaram este embuste indecente e o resultado não podia ser senão o que está à vista, neste caso na Serra da Estrela.
É a destruição dos serviços públicos, o encerramento de dezenas de escolas básicas - por exemplo em Gouveia - de urgências - no Fundão – SAPs diversos, valências hospitalares - em Seia - e da Maternidade da Covilhã, que se prepara para concretizar à sorrelfa e com a ajuda dumas quantas mistificações e manobras de baixa política. É o encerramento de serviços da Agricultura, na Justiça e noutros Ministérios e o desmantelamento do Parque Natural da Serra da Estrela. Mas que, em muitos casos, têm sido impedidos ou atrasados pela luta das populações, que vai continuar e alargar-se.
É a política de mão-de-obra barata, de degradação de direitos laborais, salários e pensões e de polarização da riqueza. É o cerco e falência dos micro, pequenos e médios empresários, que pagam o dobro de IRC das empresas do PSI20 e um IVA e preços da energia absurdos. São as deslocalizações, a destruição do tecido produtivo e a substituição da produção nacional pelas importações (e a dívida externa sem controlo), o desinvestimento, a estagnação económica, o aumento das assimetrias e do abandono da região.
No caso da Serra da Estrela, José Sócrates tem de ser duplamente responsabilizado pela situação. Porque é primeiro-ministro – claro! – e porque foi eleito deputado na região, prejudicando-a gravemente e mentindo premeditada e grosseiramente.

A alternativa

No quadro da preparação da Conferência Económica e Social, o Partido, num Encontro regional, definiu a alternativa para a Serra da Estrela, ponto de partida para o desenvolvimento integrado - factor de justiça social -, e sustentado, do ponto de vista económico, social, cultural e ambiental.
A Serra da Estrela precisa de uma ruptura com a política de direita e de novas orientações progressistas – económicas, orçamentais e fiscais, na área social, cultural e científica. Reclama capacidade produtiva e qualificação do território, das pessoas e das organizações, para superar as dificuldades estruturais. Carece de inovação e avanço tecnológico, nos novos produtos e em defesa das produções tradicionais. Reivindica meios financeiros e investimentos. Exige uma nova vontade política, sustentada na regionalização – uma nova governância, uma autoridade para a Serra da Estrela que promova o primado do interesse público, «pense» a serra numa lógica de integração e seja factor determinante do seu desenvolvimento sustentável.
Um novo rumo para a Serra da Estrela contra o fatalismo e as inevitabilidades. Com os trabalhadores e as populações. Com determinação e confiança no futuro.


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