Barrigas de amor
Para bater um recorde do Guiness,«pôr na agenda política» a baixa natalidade do nosso país e «acarinhar as corajosas que assumem a maternidade», 1307 grávidas juntaram-se em Oeiras no domingo passado, com direito a transmissão na RTP e na Rádio Renascença.
Batido o recorde, passado o convívio, registadas as imagens bonitas de mulheres grávidas de filhos desejados, teria sido importante que se tivesse aproveitado a oportunidade para falar dos problemas reais em torno da maternidade e da paternidade. Entre os objectivos dos organizadores pontificava a ideia de «mais incentivos à maternidade». Importava que tivessem dito quais. Porque se o que se quer são incentivos como os que a Ford anunciou no domingo – oferecer 2000 euros a quem tiver um bebé nos dois anos seguintes a comprar um dos seus carros -, não obrigada. É que os portugueses não precisam de caridade para terem mais filhos. Nem de esmolas, nem de enxovais, nem de concursos. O que se exige é mais emprego, melhores salários, mais direitos, melhor protecção social. Mais acesso às consultas de planeamento familiar e mais respeito pelos direitos sexuais e reprodutivos. São necessárias mais creches e jardins de infância, públicos e próximos.
Faltaram na iniciativa outros tantos milhares de mulheres, que têm outras histórias para contar: mulheres jovens a quem se perguntou nas entrevistas de emprego se pensam ter filhos; grávidas despedidas, dispensadas, sem renovação de contrato; casais que gostariam de ter um ou mais filhos e desistem, fazendo as contas aos salários, à precariedade, à prestação da casa e ao aumento das taxas de juro; licenças de maternidade pagas parcialmente; pais impedidos de gozar a licença de paternidade; mães e pais trabalhadores com horários desrespeitados diariamente; maternidades encerradas; crianças inscritas antes de nascer em creches que terão vaga daqui a anos, obrigando as famílias a malabarismos impensáveis; escolas encerradas e crianças de 6 anos a fazerem dezenas de quilómetros por dia para terem direito à educação.
E sobra uma ironia irresistível: para que se batesse o recorde do Guiness, as mulheres tinham de entregar à entrada uma ecografia a provar que estavam grávidas de mais de 12 semanas. E não constou que a Ajuda de Berço, uma das mais destacadas associações dos movimentos do Não à despenalização da IVG, para quem o proveito da iniciativa reverteu, tivesse exigido recontagem...
Batido o recorde, passado o convívio, registadas as imagens bonitas de mulheres grávidas de filhos desejados, teria sido importante que se tivesse aproveitado a oportunidade para falar dos problemas reais em torno da maternidade e da paternidade. Entre os objectivos dos organizadores pontificava a ideia de «mais incentivos à maternidade». Importava que tivessem dito quais. Porque se o que se quer são incentivos como os que a Ford anunciou no domingo – oferecer 2000 euros a quem tiver um bebé nos dois anos seguintes a comprar um dos seus carros -, não obrigada. É que os portugueses não precisam de caridade para terem mais filhos. Nem de esmolas, nem de enxovais, nem de concursos. O que se exige é mais emprego, melhores salários, mais direitos, melhor protecção social. Mais acesso às consultas de planeamento familiar e mais respeito pelos direitos sexuais e reprodutivos. São necessárias mais creches e jardins de infância, públicos e próximos.
Faltaram na iniciativa outros tantos milhares de mulheres, que têm outras histórias para contar: mulheres jovens a quem se perguntou nas entrevistas de emprego se pensam ter filhos; grávidas despedidas, dispensadas, sem renovação de contrato; casais que gostariam de ter um ou mais filhos e desistem, fazendo as contas aos salários, à precariedade, à prestação da casa e ao aumento das taxas de juro; licenças de maternidade pagas parcialmente; pais impedidos de gozar a licença de paternidade; mães e pais trabalhadores com horários desrespeitados diariamente; maternidades encerradas; crianças inscritas antes de nascer em creches que terão vaga daqui a anos, obrigando as famílias a malabarismos impensáveis; escolas encerradas e crianças de 6 anos a fazerem dezenas de quilómetros por dia para terem direito à educação.
E sobra uma ironia irresistível: para que se batesse o recorde do Guiness, as mulheres tinham de entregar à entrada uma ecografia a provar que estavam grávidas de mais de 12 semanas. E não constou que a Ajuda de Berço, uma das mais destacadas associações dos movimentos do Não à despenalização da IVG, para quem o proveito da iniciativa reverteu, tivesse exigido recontagem...