A África na mira do imperialismo

Albano Nunes

Puseram em marcha um perigosíssimo programa de expansão militar

Quando o Governo de J. Sócrates exibe como um troféu a possível realização durante a presidência portuguesa da União Europeia de uma Cimeira UE/África, mais necessário se torna saber o que está realmente em jogo na relação do imperialismo com o martirizado continente africano e como se situa Portugal nessa relação.
Nunca é demais denunciar o cinismo e a hipocrisia com que, no quadro da sua ofensiva recolonizadora, o imperialismo conduz um novo assalto a África. A ideologia da «missão civilizadora» e da «evangelização de povos selvagens» que parecia definitivamente enterrada pelos grandes avanços libertadores que varreram o século XX, está a regressar sob novas roupagens. Da Sida ao «terrorismo», da imigração «ilegal» à segurança de embaixadas, da fome ao narcotráfico, de conflitos étnicos e religiosos a disputas fronteiriças – tudo serve de pretexto ao imperialismo para imposições políticas, económicas e militares.

Como esperado a chamada «ajuda» à África foi um dos temas mais mediatizados da cimeira do G8 na Alemanha. Uma das maiores «preocupações» dos líderes deste clube de concertação informal das grandes potências capitalistas terá incidido no combate a flagelos como a Sida, a tuberculose e a malária tendo sido (re)anunciadas cifras sonantes de um pacote financeiro de «ajuda». Trata-se porém de uma manobra propagandística, tão escandalosa, que começou a ser desmontada no próprio dia em que foi anunciada além de que, como sempre, condiciona a concretização de vagas promessas a novas cedências aos insaciáveis apetites das multinacionais e às ambições geo-estratégicas do imperialismo. Não é casual que metade da «ajuda» caiba precisamente aos EUA que, para se apoderarem da maior fatia possível dos recursos petrolíferos africanos (nomeadamente no arco que une o Sudão ao Golfo da Guiné) e contrariar a crescente influência da China, puseram em marcha um perigosíssimo programa de expansão militar, que envolve a criação de bases militares em vários países e a instalação no continente de um comando militar específico.
Acorrida imperialista para África encerra sérias disputas e rivalidades entre as grandes potências. As pretensões hegemónicas dos EUA inquietam importantes fracções do grande capital com base na Europa. Mas o que continua a predominar é a concertação de interesses de classe comuns visando intensificar a exploração dos trabalhadores e recolonizar o planeta. É o que confirma uma primeira análise desta reunião do G8. E o que se vê, tanto no quadro da NATO como das relações bilaterais UE/EUA, é coordenação e partilha de tarefas para a realização de uma mesma política neoliberal, militarista e agressiva de contornos crescentemente fascizantes.

A política externa e de defesa do Governo português insere-se neste curso sem distanciamentos nem reservas de monta. Mais ainda. Na linha das piores tradições de um capital monopolista profundamente parasitário e entreguista, e militando com fervor pela «causa euro-atlântica», o Governo do PS oferece os seus préstimos como intermediário dos projectos dos EUA, da NATO e da UE em África a troco de algumas migalhas do saque imperialista. O Público (10.06.07) escreve mesmo a respeito da recente visita do Ministro da Defesa ao Pentágono que «de acordo com Severiano Teixeira os americanos têm interesse em assuntos privilegiados pela presidência portuguesa como a parceria estratégica entre a União e a NATO, ou as questões ligadas a África, onde os EUA vão instalar um comando operacional». É inquietante. Na senda da «cimeira da guerra» de Durão Barroso, o Governo Sócrates está a arrastar o país para situações igualmente humilhantes. É por isso necessário que soe mais alto a voz de quantos não querem a diplomacia e as forças armadas portuguesas enfeudadas à estratégia de rapina e agressão imperialista.


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