O choque com a Rússia
«Parece irremediavelmente esfumar-se a tão apregoada “parceria estratégia” entre Washington e Moscovo»
A cimeira Rússia-UE de sexta-feira, precedida da visita a Moscovo de Condoleezza Rice, confirmam o aprofundamento das divergências e clivagens no relacionamento entre a Rússia e os EUA, a NATO e a UE, evidenciado nos últimos meses.
Este será, certamente, um dado a reter no horizonte da cena internacional, até porque o actual choque de interesses «inter-capitalistas» indicia a cristalização de profundas e sérias contradições, que ultrapassam largamente o âmbito conjuntural.
À sua luz parece irremediavelmente esfumar-se a tão apregoada «parceria estratégia» entre Washington e Moscovo, que na realidade nunca passou de um eufemismo para uma relação desigual, uma fórmula oca sem outro conteúdo real que não a obrigatoriedade da «subordinação» às exigências insaciáveis do imperialismo norte-americano.
No centro da actual tensão emerge a renovada espiral da ofensiva euro-atlântica de «cerco à Rússia», na esteira dos planos de hegemonia planetária dos EUA e configurando uma perigosa dinâmica de confrontação, passível de cavar novas linhas de divisão na Europa e provocar uma degradação sensível na sua segurança. Como testemunho desta escalada agressiva, bastará referir a continuada expansão da NATO para Leste e a instalação de um cordão de bases militares dos EUA junto às fronteiras russas, cobrindo o arco do Báltico ao Cáspio, o projecto estratégico (também nas vertentes política e económica) dos EUA de defesa antimíssil, integrado com os seus planos de militarização do espaço e a modernização do seu potencial nuclear ofensivo, visando a total «supremacia nuclear» – que hoje apenas o potencial dissuasor nuclear estratégico da Rússia é capaz de contrariar –, ou a tentativa da UE de impor à Rússia a sua «carta energética», facto que não deixará de encontrar articulação com a pretensão de «polícia energético global» crescentemente assumida pelos EUA/NATO. Para além, da cobertura da UE à vaga de anti-comunismo, revisionismo histórico e branqueamento do fascismo que se vai instalando pela Europa, e em especial nos países de Leste…
Apesar das incertezas existentes quanto à evolução da situação na Rússia, decorrentes da própria natureza de classe do regime russo, das contradições e fraquezas estruturais não superadas no quadro actual de consolidação capitalista – não obstante o claro contraste com o «caos» reinante há uma década –, a afirmação de soberania e a crescente «autonomia» da direcção russa, tanto a nível interno como no seu relacionamento com o mundo, são fonte de grande perturbação em Washington (e Bruxelas).
É impossível ignorar que depois do discurso contundente de Pútin em Munique, dos anúncios de uma nova doutrina militar e de política externa, o presidente russo chegou ao ponto, a 9 de Maio, na Praça Vermelha, por ocasião das comemorações da vitória sobre o nazi-fascismo, de traçar um paralelo entre o III Reich e as actuais ameaças no mundo, decorrentes do «mesmo desprezo pela vida humana e das mesmas pretensões de diktat (…) mundial». A mensagem que o Kremlin veio depois dizer não se destinar aos EUA – a quem então, à Al-Qaeda?!! – não deixa dúvidas de que em Moscovo há perfeita consciência do carácter mortífero da ameaça imperialista, oriunda dos EUA.
Percebem-se assim as motivações da feroz campanha russófoba que ecoa nos grandes média, no mundo e por cá. Uma campanha que não olhando a meios de promoção da ingerência e intervencionismo não deixa, por sinal, de evidenciar o seu cunho de classe: dificilmente o «odioso regime» de Pútin é acusado de reprimir aqueles que na pátria de Lénine defendem os interesses dos trabalhadores e combatem a exploração capitalista…
Este será, certamente, um dado a reter no horizonte da cena internacional, até porque o actual choque de interesses «inter-capitalistas» indicia a cristalização de profundas e sérias contradições, que ultrapassam largamente o âmbito conjuntural.
À sua luz parece irremediavelmente esfumar-se a tão apregoada «parceria estratégia» entre Washington e Moscovo, que na realidade nunca passou de um eufemismo para uma relação desigual, uma fórmula oca sem outro conteúdo real que não a obrigatoriedade da «subordinação» às exigências insaciáveis do imperialismo norte-americano.
No centro da actual tensão emerge a renovada espiral da ofensiva euro-atlântica de «cerco à Rússia», na esteira dos planos de hegemonia planetária dos EUA e configurando uma perigosa dinâmica de confrontação, passível de cavar novas linhas de divisão na Europa e provocar uma degradação sensível na sua segurança. Como testemunho desta escalada agressiva, bastará referir a continuada expansão da NATO para Leste e a instalação de um cordão de bases militares dos EUA junto às fronteiras russas, cobrindo o arco do Báltico ao Cáspio, o projecto estratégico (também nas vertentes política e económica) dos EUA de defesa antimíssil, integrado com os seus planos de militarização do espaço e a modernização do seu potencial nuclear ofensivo, visando a total «supremacia nuclear» – que hoje apenas o potencial dissuasor nuclear estratégico da Rússia é capaz de contrariar –, ou a tentativa da UE de impor à Rússia a sua «carta energética», facto que não deixará de encontrar articulação com a pretensão de «polícia energético global» crescentemente assumida pelos EUA/NATO. Para além, da cobertura da UE à vaga de anti-comunismo, revisionismo histórico e branqueamento do fascismo que se vai instalando pela Europa, e em especial nos países de Leste…
Apesar das incertezas existentes quanto à evolução da situação na Rússia, decorrentes da própria natureza de classe do regime russo, das contradições e fraquezas estruturais não superadas no quadro actual de consolidação capitalista – não obstante o claro contraste com o «caos» reinante há uma década –, a afirmação de soberania e a crescente «autonomia» da direcção russa, tanto a nível interno como no seu relacionamento com o mundo, são fonte de grande perturbação em Washington (e Bruxelas).
É impossível ignorar que depois do discurso contundente de Pútin em Munique, dos anúncios de uma nova doutrina militar e de política externa, o presidente russo chegou ao ponto, a 9 de Maio, na Praça Vermelha, por ocasião das comemorações da vitória sobre o nazi-fascismo, de traçar um paralelo entre o III Reich e as actuais ameaças no mundo, decorrentes do «mesmo desprezo pela vida humana e das mesmas pretensões de diktat (…) mundial». A mensagem que o Kremlin veio depois dizer não se destinar aos EUA – a quem então, à Al-Qaeda?!! – não deixa dúvidas de que em Moscovo há perfeita consciência do carácter mortífero da ameaça imperialista, oriunda dos EUA.
Percebem-se assim as motivações da feroz campanha russófoba que ecoa nos grandes média, no mundo e por cá. Uma campanha que não olhando a meios de promoção da ingerência e intervencionismo não deixa, por sinal, de evidenciar o seu cunho de classe: dificilmente o «odioso regime» de Pútin é acusado de reprimir aqueles que na pátria de Lénine defendem os interesses dos trabalhadores e combatem a exploração capitalista…