E, contudo, ela move-se…

Luís Carapinha

Nunca pode ser subestimada a natureza intrinsecamente agressiva do imperialismo

A vitória expressiva de Hugo Chávez, reeleito para a Presidência da Venezuela, é um acontecimento com profundo significado e ressonância. Três aspectos principais devem ser sublinhados.
Em primeiro lugar, a amplitude e carácter do triunfo das
massas populares venezuelanas que abrem reais perspectivas de aprofundamento da revolução bolivariana. Os mais de um milhão de votos adicionais obtidos em relação ao referendo revogatório de 2004, o reforço de forças e sectores mais consequentes, de que é exemplo a triplicação da votação do PCV, a par do alto nível de mobilização popular evidenciado, atestam da vitalidade de um processo transformador que tem avançado mais rapidamente do que inicialmente se pensara. Decorridos oito anos de incessantes lutas e batalhas, a revolução democrática e anti-imperialista na Pátria de Bolívar apresenta-se hoje não só fortalecida como assume o repto da opção socialista. De facto, o processo bolivariano conta já no seu activo com um importantíssimo património de conquistas, nomeadamente no campo social. A experiência de que é palco faz hoje da Venezuela um imenso laboratório de transformação seguido com expectativa no mundo. Porém, os desafios da nova etapa que doravante se inicia não poderão ser simplificados. Nela se revelarão, decisivamente, os limites e consistência da revolução bolivariana, um dos mais marcantes processos emancipadores a irromper no mundo desde as derrotas do campo socialista.
Depois, a evidência de uma nova derrota do imperialismo. A forma democrática como decorreram as eleições de 3 de Dezembro, num país em que a polarização e luta de classes são intensas, constituiu mais um revés para a contínua agenda e campanha desestabilizadoras acalentadas por Washington. A formação de um obscuro gabinete estratégico para o assim designado eixo Cuba-Venezuela, ou o anúncio pela Casa Branca, pouco tempo antes das eleições, do plano de conformação pelos EUA de uma frente continental anti-Venezuela são elementos elucidativos do grau de preocupação que a experiência venezuelana suscita ao imperialismo.
Por último, a projecção internacional de mais esta vitória, nomeadamente no contexto de lutas populares e mudança social que alastra na América Latina e Caraíbas, onde a experiência bolivariana tem desempenhando um activo papel anti-imperialista.

Na região que os EUA secularmente tratam como seu «pátio das traseiras» multiplicam-se os sinais de alarme. À falência generalizada das políticas neoliberais do chamado Consenso de Washington, somam-se os efeitos da acção e luta populares. Num quadro marcado pela diversidade de processos e forças participantes sobressaem a procura de soluções de sentido democrático e progressista e de afirmação da soberania, e o pendor anti-imperialista destes processos. A correlação de forças no sub-continente é hoje desfavorável ao imperialismo, o que não deixa de reflectir também o avolumar das suas próprias contradições e factores críticos. Sobretudo, quando a capacidade de manobra dos EUA se encontra condicionada pela situação no «outro lado» do mundo: o pântano iraquiano onde a resistência confronta o imperialismo com os limites da sua acção rapace, a periclitante situação no Afeganistão, ameaçando o caminho «infalível» de projecção global da NATO; ou a derrota sem paralelo do aliado sionista no Líbano…
Não admiram pois a procura febril de manobras de recuo e de estratégias de reabilitação que percorrem os EUA e as grandes potências capitalistas, em que se insere a patética apologia do restabelecimento da «parceria transatlântica» com uma redentora «verdadeira América», de que foi pródigo o recente congresso do PSE realizado no Porto.

O rasto de sangue deixado por Pinochet e as ditaduras latino-americanas dos anos 70 e 80, inspiradas e suportadas pelos EUA, bastaria para lembrar que nunca pode ser subestimada a natureza intrinsecamente agressiva do imperialismo. Na crise estrutural em que se debate, o capitalismo assume crescentes contornos agressivos e repressivos.
Mas 15 anos depois da proclamação do «fim da história» é a certeza do papel libertador da luta dos trabalhadores e povos que se afirma no mundo de hoje, iluminando em força o inexorável «regresso» da História.


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