Arbítrio patronal e Governo paralisado

PCP apoia «luta corajosa»

Jerónimo de Sousa esteve anteontem com os trabalhadores da Pereira da Costa, expressando-lhes a solidariedade activa dos comunistas e exigindo intervenção do Governo para repor a legalidade na empresa.

Os comunistas vão continuar a intervir ao lado dos trabalhadores

Os trabalhadores da Pereira da Costa , na Venda Nova, Amadora, mantêm-se firmes e determinados, na luta pela defesa dos postos de trabalho, ameaçados por um despedimento colectivo ilegal, encapotado com processos disciplinares sem fundamento. Nas conversas trocadas, terça-feira de manhã, com o secretário-geral do PCP, deram igualmente mostras de grande indignação e revolta, face ao comportamento do presidente do conselho de administração, Luís Moreira, o qual até recusa impunemente cumprir as sentenças judiciais que ordenaram já a reintegração de 50 dos 90 operários despedidos.
Jerónimo de Sousa, no interior da tenda que tem abrigado os trabalhadores, desde 1 de Setembro, à porta da empresa, manifestou «solidariedade com estes trabalhadores, em corajosa luta pelo salário e pelo direito ao trabalho» e contra «o arbítrio da entidade patronal, que não respeita sequer os tribunais». O dirigente comunista criticou «a ausência da Inspecção Geral do Trabalho», notando que não se pode aceitar o argumento de que terá falta de meios humanos, pois «isto aqui é uma situação dramática», perante a qual o que se vê é «uma paralisação absoluta dos poderes».
Admitindo que «o Governo não se pode substituir aos tribunais», o secretário-geral do PCP salientou que a acção do executivo deveria verificar-se ao nível da inspecção e para o cumprimento da lei, tanto mais que «o Estado é um dos principais credores neste processo».
Jerónimo de Sousa comprometeu-se a levar as razões dos trabalhadores da Pereira da Costa até ao Parlamento e ao ministro do Trabalho. «Não digo que resolvemos, mas vamos ajudar, contem connosco», garantiu aos operários em luta.
A propósito da intervenção institucional do PCP, neste caso, foi recordado que os deputados comunistas António Filipe e Jorge Machado requereram ao Governo, através do Ministério das Finanças, informação acerca do ponto em que se encontra a aquisição da MB Pereira da Costa pela Pereira da Costa Construções, no verão passado, com o acordo do Estado-credor. Até agora, a escritura que concretizará essa aquisição ainda não foi celebrada e a esperada recuperação deu lugar ao agravamento da conflitualidade, refere-se no requerimento, a que dos gabinetes de Teixeira dos Santos ainda não chegou nenhuma resposta.
Alguns trabalhadores denunciaram, ao secretário-geral comunista e aos jornalistas que acompanharam o encontro de anteontem, o facto de a administração de Luís Moreira, embora só seja compradora da MB Pereira da Costa, estar a usar e a «destruir» património da Pereira da Costa Gás, que funciona nas mesmas instalações.

Novas preocupações

O Sindicato da Construção do Sul revelou anteontem que os representantes dos trabalhadores receberam, com surpresa e muitas dúvidas, a informação de que o conselho de administração desencadeou um processo de falência da Pereira da Costa Construções. Na reunião que teve dia 17 com os sindicatos, Luís Moreira declarou que não acata as sentenças judiciais, sobre reintegração dos despedidos, alegando dificuldades financeiras e falta de trabalho, «quando é sabido que recorreu à contratação de mão-de-obra de subempreiteiros».
O comunicado do Sindicato da Construção do Sul adianta ainda que o principal responsável da empresa e das ilegalidades cometidas revelou que pretendia propor a passagem dos trabalhadores que se encontram ao serviço para outra empresa. No entanto, deveriam solicitar uma licença sem vencimento, exigiu Luís Moreira, que se recusou a identificar a empresa para onde pretende transferir os trabalhadores.
Os trabalhadores alvo de despedimento decidiram aguardar até amanhã, pelo pagamento dos salários em dívida, e desenvolverão novas formas de luta, caso continuem sem receber. O sindicato apelou à participação na manifestação de sábado, convocada pela CGTP-IN, com concentração às 15 horas no Cais do Sodré.


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