Fim da Festa
A «Festa da Música» morreu esta semana, após sete anos fulgurantes no Centro Cultural de Belém (CCB). A razão do fenecimento deveu-se, liminarmente, à amputação de verbas (600 mil euros) aplicada pelo Ministério da Cultura ao orçamento do CCB.
Faz todo o sentido: a «Festa da Música» nasceu pelas mãos de um Governo PS e morre pelas mãos do Governo PS seguinte, tendo sido, nos sete anos de permeio, consecutivamente apoiada pelos Executivos de direita que, entretanto, nunca se atreveram a atacar uma iniciativa que conquistou desde o início um apoio popular flagrante. Atreveu-se o engenheiro José Sócrates, esse portento «de esquerda».
Convém recordar que a «Festa da Música» apresentou desde o início resultados espectaculares: na primeira edição, em 2000, realizou 72 concertos que atraíram 27.200 espectadores, logo na segunda, em 2001, subiu para 132 concertos com 41.200 espectadores, continuando num crescendo imparável que, em 2005, atingiria o recorde de 158 concertos para 62.700 espectadores.
Se considerarmos que estamos a falar de espectáculos todos de música clássica que, nesta iniciativa, sempre foram servidos por intérpretes de primeira linha, com solistas de eleição, numa organização descontraída de festival, em instalações adequadas e a preços mais acessíveis que os do mercado do género, temos de concluir que a avalancha de espectadores que esgotaram todas as edições e duplicaram de ano para ano a afluência de um público crescentemente heterogéneo corresponde – mesmo sem estudos de análise, como de costume... – a uma vitória ainda maior no campo da Cultura, com evidente alargamento de espectadores na fruição da música erudita e a manifesta conquista de novos públicos.
Quem não pensa assim é a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, que expôs em concomitância tanto a razão do corte orçamental, como a sua perspectiva cultural ao afirmar, na própria Assembleia da República, que a Festa da Música tinha «apenas três dias com uma despesa exagerada».
Já que a ministra da Cultura encara a música clássica como uma «despesa exagerada» só porque 158 concertos, a abarrotar com 62.700 espectadores, duraram «apenas três dias», vem a propósito recordar-lhe que na União Soviética, em plena invasão nazi do seu território, a música clássica e as suas orquestras nunca deixaram de elevar os espíritos, recebendo sempre todo o apoio do Governo, apesar das inenarráveis privações em que o país fora mergulhado, ficando famoso o trajecto da «Sinfonia N.º 7 de Leninegrado», que Chostakovitch começou a compor dentro do próprio cerco de Leninegrado, terminou a 27 de Fevereiro de 1942 e que foi executada pela primeira vez apenas seis dias depois, a 5 de Março de 1942, numa outra cidade e nem mais nem menos que pela Orquestra do Teatro Bolshoi, que por lá aparecera durante a itinerância que esta lendária formação orquestral andava a fazer pelo vasto território da URSS...
Mas se a ministra Isabel Pires de Lima, que já foi comunista e deixou de o ser, tiver agora pruridos em lidar com exemplos soviéticos, podemos convocar expressamente para ela a abonação da Inglaterra que, à semelhança da URSS, também manteve sempre a funcionar em Londres as suas orquestras e recintos sinfónicos em pleno bombardeamento nazi...
Entretanto, não pensem José Sócrates e a sua ministra que a música clássica foi assim acarinhada porque «eram outros tempos».
Nada disso, podem crer. Era, simplesmente, outra visão do mundo...
Faz todo o sentido: a «Festa da Música» nasceu pelas mãos de um Governo PS e morre pelas mãos do Governo PS seguinte, tendo sido, nos sete anos de permeio, consecutivamente apoiada pelos Executivos de direita que, entretanto, nunca se atreveram a atacar uma iniciativa que conquistou desde o início um apoio popular flagrante. Atreveu-se o engenheiro José Sócrates, esse portento «de esquerda».
Convém recordar que a «Festa da Música» apresentou desde o início resultados espectaculares: na primeira edição, em 2000, realizou 72 concertos que atraíram 27.200 espectadores, logo na segunda, em 2001, subiu para 132 concertos com 41.200 espectadores, continuando num crescendo imparável que, em 2005, atingiria o recorde de 158 concertos para 62.700 espectadores.
Se considerarmos que estamos a falar de espectáculos todos de música clássica que, nesta iniciativa, sempre foram servidos por intérpretes de primeira linha, com solistas de eleição, numa organização descontraída de festival, em instalações adequadas e a preços mais acessíveis que os do mercado do género, temos de concluir que a avalancha de espectadores que esgotaram todas as edições e duplicaram de ano para ano a afluência de um público crescentemente heterogéneo corresponde – mesmo sem estudos de análise, como de costume... – a uma vitória ainda maior no campo da Cultura, com evidente alargamento de espectadores na fruição da música erudita e a manifesta conquista de novos públicos.
Quem não pensa assim é a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, que expôs em concomitância tanto a razão do corte orçamental, como a sua perspectiva cultural ao afirmar, na própria Assembleia da República, que a Festa da Música tinha «apenas três dias com uma despesa exagerada».
Já que a ministra da Cultura encara a música clássica como uma «despesa exagerada» só porque 158 concertos, a abarrotar com 62.700 espectadores, duraram «apenas três dias», vem a propósito recordar-lhe que na União Soviética, em plena invasão nazi do seu território, a música clássica e as suas orquestras nunca deixaram de elevar os espíritos, recebendo sempre todo o apoio do Governo, apesar das inenarráveis privações em que o país fora mergulhado, ficando famoso o trajecto da «Sinfonia N.º 7 de Leninegrado», que Chostakovitch começou a compor dentro do próprio cerco de Leninegrado, terminou a 27 de Fevereiro de 1942 e que foi executada pela primeira vez apenas seis dias depois, a 5 de Março de 1942, numa outra cidade e nem mais nem menos que pela Orquestra do Teatro Bolshoi, que por lá aparecera durante a itinerância que esta lendária formação orquestral andava a fazer pelo vasto território da URSS...
Mas se a ministra Isabel Pires de Lima, que já foi comunista e deixou de o ser, tiver agora pruridos em lidar com exemplos soviéticos, podemos convocar expressamente para ela a abonação da Inglaterra que, à semelhança da URSS, também manteve sempre a funcionar em Londres as suas orquestras e recintos sinfónicos em pleno bombardeamento nazi...
Entretanto, não pensem José Sócrates e a sua ministra que a música clássica foi assim acarinhada porque «eram outros tempos».
Nada disso, podem crer. Era, simplesmente, outra visão do mundo...