Resistentes de corpo inteiro
Lembramos hoje, aqui, a história de resistente do camarada Josué Martins Romão, falecido no passado dia 30 - precisamente setenta anos e um dia após ter sido encerrado no Campo de Concentração do Tarrafal.
Aos dezassete anos, alistou-se na Armada como voluntário; no ano seguinte tomou parte na revolta dos marinheiros, foi preso, condenado a 16 anos de prisão e enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, que foi inaugurar com mais 151 presos, em 29 de Outubro de 1936 – tinha, então, dezoito anos de idade; menos de um ano após a chegada ao Tarrafal filiou-se no Partido Comunista Português, que viria a ser o partido de toda a sua vida; permaneceu no Tarrafal até 22 de Setembro de 1952, altura em que foi libertado; fiel aos seus ideais de justiça, liberdade, solidariedade e fraternidade, prosseguiu a luta contra o fascismo e pela democracia até ao 25 de Abril de 1974; fiel a esses mesmos ideais, prosseguiu, depois, a luta por Abril e contra a política de direita que há trinta anos flagela os trabalhadores e o povo.
Trata-se de um exemplo de resistente de corpo inteiro, de protagonista de uma resistência que não parou no tempo, que não se esgotou em dezasseis anos de postura heróica no Tarrafal, que prosseguiu ao longo de mais de meio século, numa coerência que confere à sua intervenção resistente um significado que importa realçar e sublinhar - um exemplo do qual emerge, carregada de futuro, a demonstração de que a resistência não é, apenas, nem essencialmente, passado, mesmo quando esse passado é feito de grande heroísmo e coragem; de que resistir não é apenas, nem essencialmente, um momento da vida de quem resiste - mas é, acima de tudo, uma opção de vida.
Há os que foram e são resistentes, e há os que foram mas deixaram de o ser. E esta diferença não é de somenos, particularmente quando se trata de preservar a memória da resistência antifascista e de a apresentar, hoje, como momento relevante da nossa história colectiva.
O direito à memória
Há a memória dos que resistiram e resistem até ao fim, sejam quais forem as condições e as circunstâncias que se lhes deparam, ou seja, a memória do passado continuada no presente e, por isso e só por isso, projectada para o futuro – esta é a memória maior, que importa preservar, não permitindo que os branqueadores do fascismo e os seus acólitos a silenciem, deturpem e aviltem. E há uma outra memória, essa feita apenas de pedaços de passado: a dos que lutaram mas desistiram de lutar, dos que resistiram mas se cansaram de resistir ou, em alguns casos, pior do que isso, dos que abandonaram os ideais em nome dos quais resistiram e se passaram para o outro lado da barricada – essa é uma memória menor, que por vezes cabe num pequeno prato e, mesmo assim, correndo o risco de ficar submersa por meia dúzia de lentilhas. E quem resistiu em nome de um ideal que posteriormente renegou, não pode, honestamente, invocar essa resistência e muito menos apresentar-se como exemplo de resistente ou como zelador da memória que apagou.
A imensa maioria dos homens que, no Campo da Morte Lenta, resistiram ao fascismo fê-lo tendo como fonte de força essencial os ideais de justiça e de liberdade e com a consciência assumida de que a sua resistência era parte integrante da luta pela construção de um Portugal livre, justo, democrático, independente. Foram muitos os que, nessa resistência, por esses ideais e por esse objectivo, lá deixaram as suas vidas. Foram muitos os que, regressando do Tarrafal, em muitos casos com a saúde arruinada, prosseguiram a luta fiéis a esses mesmos ideais, sempre resistindo, sempre batendo-se, coerentemente, contra a exploração e a opressão – quer quando elas eram praticadas pelo regime fascista, quer quando, como acontece de há trinta anos para cá, aparecem mascaradas de democracia e praticadas pelos sucessivos governos PS, ou PSD, ou PS/PSD.
Foram muitos os que, pelo seu exemplo de resistentes de corpo inteiro, conquistaram o legítimo direito à preservação da memória. E é esse exemplo resistente, é essa memória de resistência, que importa ter como referência, hoje, na luta contra a política de direita do Governo PS/Sócrates: na luta pela defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, do povo e do País; na luta pela justiça social e contra a opressão e a exploração; na luta pela democracia e contra práticas e leis de conteúdo fascizante; na luta pela independência nacional e contra a política de subserviência aos interesses do imperialismo; na luta pela paz e contra o envolvimento de Portugal em guerras que vitimam centenas de milhares de inocentes – na luta por um Portugal livre, justo, democrático, independente.
Trata-se de um exemplo de resistente de corpo inteiro, de protagonista de uma resistência que não parou no tempo, que não se esgotou em dezasseis anos de postura heróica no Tarrafal, que prosseguiu ao longo de mais de meio século, numa coerência que confere à sua intervenção resistente um significado que importa realçar e sublinhar - um exemplo do qual emerge, carregada de futuro, a demonstração de que a resistência não é, apenas, nem essencialmente, passado, mesmo quando esse passado é feito de grande heroísmo e coragem; de que resistir não é apenas, nem essencialmente, um momento da vida de quem resiste - mas é, acima de tudo, uma opção de vida.
Há os que foram e são resistentes, e há os que foram mas deixaram de o ser. E esta diferença não é de somenos, particularmente quando se trata de preservar a memória da resistência antifascista e de a apresentar, hoje, como momento relevante da nossa história colectiva.
O direito à memória
Há a memória dos que resistiram e resistem até ao fim, sejam quais forem as condições e as circunstâncias que se lhes deparam, ou seja, a memória do passado continuada no presente e, por isso e só por isso, projectada para o futuro – esta é a memória maior, que importa preservar, não permitindo que os branqueadores do fascismo e os seus acólitos a silenciem, deturpem e aviltem. E há uma outra memória, essa feita apenas de pedaços de passado: a dos que lutaram mas desistiram de lutar, dos que resistiram mas se cansaram de resistir ou, em alguns casos, pior do que isso, dos que abandonaram os ideais em nome dos quais resistiram e se passaram para o outro lado da barricada – essa é uma memória menor, que por vezes cabe num pequeno prato e, mesmo assim, correndo o risco de ficar submersa por meia dúzia de lentilhas. E quem resistiu em nome de um ideal que posteriormente renegou, não pode, honestamente, invocar essa resistência e muito menos apresentar-se como exemplo de resistente ou como zelador da memória que apagou.
A imensa maioria dos homens que, no Campo da Morte Lenta, resistiram ao fascismo fê-lo tendo como fonte de força essencial os ideais de justiça e de liberdade e com a consciência assumida de que a sua resistência era parte integrante da luta pela construção de um Portugal livre, justo, democrático, independente. Foram muitos os que, nessa resistência, por esses ideais e por esse objectivo, lá deixaram as suas vidas. Foram muitos os que, regressando do Tarrafal, em muitos casos com a saúde arruinada, prosseguiram a luta fiéis a esses mesmos ideais, sempre resistindo, sempre batendo-se, coerentemente, contra a exploração e a opressão – quer quando elas eram praticadas pelo regime fascista, quer quando, como acontece de há trinta anos para cá, aparecem mascaradas de democracia e praticadas pelos sucessivos governos PS, ou PSD, ou PS/PSD.
Foram muitos os que, pelo seu exemplo de resistentes de corpo inteiro, conquistaram o legítimo direito à preservação da memória. E é esse exemplo resistente, é essa memória de resistência, que importa ter como referência, hoje, na luta contra a política de direita do Governo PS/Sócrates: na luta pela defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, do povo e do País; na luta pela justiça social e contra a opressão e a exploração; na luta pela democracia e contra práticas e leis de conteúdo fascizante; na luta pela independência nacional e contra a política de subserviência aos interesses do imperialismo; na luta pela paz e contra o envolvimento de Portugal em guerras que vitimam centenas de milhares de inocentes – na luta por um Portugal livre, justo, democrático, independente.