Secreta estupidez

Ângelo Alves

Não há deturpações e mentiras que apaguem evidências

Na véspera de um acontecimento como o Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários é natural abordar nesta coluna a sua importância e valorizar o facto de termos entre nós, durante três dias, delegações de alto nível de cerca de 70 Partidos de todo o mundo. Natural mas também necessário porque nos media os «residentes» mercenários do anticomunismo, ao tomarem conhecimento de tão importante Encontro, abandonaram rapidamente, e por razões óbvias, o discurso de um PCP isolado do resto do mundo, para, através da manipulação, da mesquinhez e da pura estupidez, caricaturar, minimizar e até dar um ar «secreto» a um Encontro que desde Maio de 2006 está anunciado publicamente. É, sinceramente, com pena, que se assiste a figuras tão tristes como aquela a que um jornalista de um conhecido semanário se permitiu, vendendo a sua ética jornalista sabe-se lá por o quê… aparentemente, por uma «caixa» de primeira página. Entretanto importaria esclarecer o «bem informado» autor da peça «PC da Coreia do Norte secretamente em Portugal» que nesse país não existe nenhum «PC» mas sim um PT (Partido do Trabalho) da Coreia. Sobre a sua presença fique descansado o referido semanário que a participação do PT da Coreia no Encontro Internacional, a acontecer, será bem pública, assim como públicos serão tornados os discursos que nele forem proferidos e as saudações que forem recebidas. Nada temos a esconder, inclusive as nossas diferenças e até discordâncias com partidos que seguem caminhos, métodos e modelos que diferem daqueles que defendemos para o nosso país e o nosso povo.
Não há deturpações e mentiras que apaguem duas evidências: que o PCP esteve, está e estará sempre ligado à luta pela democracia no nosso país e pelo seu aprofundamento nas suas diversas vertentes, mesmo que isso irrite alguns ditos «democratas», e que este Partido, patriótico mas simultaneamente internacionalista, jamais abandonará uma posição de solidariedade para com os trabalhadores e os povos que resistem á violenta ofensiva exploradora, opressora e militarista do imperialismo.
A História está a dar razão ao PCP e a todos os que apontam o imperialismo como o maior perigo para a Humanidade. Uma sondagem internacional recentemente divulgada indica George W. Bush e uma criação dos EUA – Ben Laden – como os maiores perigos para a paz mundial. Em Israel a extrema direita reforça a sua presença no Governo e o exército israelita, prosseguindo a sua senda criminosa, reocupa a cidade de Beit Hanun na Faixa de Gaza e assassina mais de 50 palestinianos nos primeiros 5 dias de massacre. No Líbano prosseguem as manobras de provocação da força aérea israelita sob olhar impávido e sereno da chamada «comunidade internacional». São divulgados diariamente novos escândalos e crimes das forças da NATO no Afeganistão como o do simulacro de uma execução sumária de uma criança que… jogava à bola. Finalmente, relatórios internacionais recentemente divulgados confirmam que os EUA foram responsáveis por 80% do aumento dos gastos militares em 2005; que os complexos militares industriais dos EUA e da Europa Ocidental foram responsáveis por 92,7% das vendas de armas nesse mesmo ano e que as principais potências nucleares do mundo, juntamente com Israel, Paquistão e Índia (que no total possuem mais de 30 000 ogivas nucleares) não só prosseguem projectos de modernização do seu armamento nuclear como estão a aumentar o número de ogivas e a desenvolver mísseis balísticos de maior alcance para o seu transporte.
Entretanto Sadaam Husein é condenado à morte por enforcamento. Deixando de lado o óbvio, ou seja, que efectivamente cometeu crimes contra o seu povo, apoiado e financiado pelo «ocidente», o que ressalta mais nesta «imitação de julgamento» – nas palavras de Ramsey Clark, ex-procurador geral dos EUA - é a hipocrisia de se tentar condenar um homem à morte por crimes… que aqueles que o condenam estão a cometer…
É o mundo que temos… e que queremos mudar! Por isso amanhã inicia-se um Encontro Internacional em Lisboa, no Hotel Metropolitan.


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