Histeria policial provoca caos
Centenas de milhares de passageiros já foram afectados pelas medidas de excepção adoptadas desde quinta-feira, 10, no aeroporto de Heathrow, na sequência da descoberta de um alegado complot terrorista.
A polícia não apresentou provas convincentes da ameaça terrorista
O anúncio feito, na quinta-feira, 10, pelas autoridades policiais de que tinha sido desmantelado um alegado plano terrorista para fazer explodir sobre o Atlântico vários aviões comerciais, semeou o caos no aeroporto Heathrow, um dos mais movimentados do mundo, que esteve encerrado na quinta-feira, 10, durante três horas, afectando a maioria dos aeroportos europeus.
Milhares de passageiros, sujeitos a controlos minuciosos, amontoaram-se nas instalações aeroportuárias, formando longas filas de espera e provocando demorados atrasos que obrigaram ao cancelamento de boa parte dos voos.
No domingo, Heathrow voltou a estar perto da paralisia total e os cancelamentos mantiveram-se na segunda-feira, apesar de o nível de alerta ter sido baixado durante a madrugada, permitindo-se aos passageiros levarem alguma bagagem de mão para os aparelhos. Os líquidos continuavam, no entanto, a ser proibidos, à excepção de medicamentos prescritos e do leite para bebé, o qual devia ser provado pelo acompanhante antes do embarque.
Todavia, o ministro britânico do Interior fez questão de sublinhar que «a redução do nível de alerta não significa que a ameaça desapareceu». Insistindo na estratégia de informativa seguida desde o início da crise, John Reid declarou que «as pessoas precisam de saber que pode haver indivíduos em liberdade capazes de preparar atentados contra o Reino Unido».
Clima de medo
Desde há um ano que a Grã-Bretanha mantém em vigor o nível de alerta «grave», o penúltimo da escala, adoptado na sequência dos atentados de 7 de Julho de 2005 nos transportes públicos londrinos, que fizeram 56 mortos e 700 feridos.
A passagem para o alerta máximo («crítico») e o histerismo dos responsáveis policiais na gestão da actual crise suscitaram dúvidas e críticas na opinião pública, a que não foi alheio o próprioFinantial Times. Em editorial publicado na sexta-feira, 11, o diário não hesita em qualificar as declarações da Scotland Yard como «alarmistas», mesmo admitindo a existência de uma ameaça real.
Comentando o anúncio feito pela polícia de teria sido desmantelado um plano para «um assassinato em massa numa escala inimaginável e sem precedentes», o jornal observa que «jornalistas – e terroristas – são perfeitamente capazes de disseminar hipérboles sem a ajuda da polícia. A resposta mais poderosa ao terrorismo consiste em não aterrorizar». «Mesmo os piores actos terroristas fazem estragos maiores com reacções histéricas», conclui o editorialista, que acusa ainda as autoridades de terem perdido o «sentido das proporções».
Polícia pouco convincente
Alguns outros testemunhos, divulgados no site daBBC, manifestam cepticismo em relação à dimensão da ameaça: «A táctica utilizada parece mais uma forma de manter o medo na opinião pública dos que uma real tentativa de impedir uma atrocidade», considera um internauta.
Já o site Rebelion observa que no momento da detenção dos 24 «perigosos» terroristas não foi disparado um só tiro, nem aqueles ofereceram resistência ou sequer tentaram suicidar-se.
De resto, é o próprio jornal francês Le Monde a assinalar, no domingo, que, «apesar dos interrogatórios e numerosas buscas efectuadas, nenhum dos suspeitos [um dos quais já libertado] foi inculpado e as autoridades tardam em apresentar provas convincentes a uma opinião pública cada vez mais desconfiada».
Ainda com a memória viva das recentes derrapagens da polícia na luta antiterrorista (veja-se o caso de Jean Charles Menezes), os britânicos não podem deixar de estranhar, num momento em que o país se encontra em alerta máximo, que o primeiro-ministro Tony Blair continue descansadamente de férias a bordo de um luxuoso iate ao largo das Barbados.
Milhares de passageiros, sujeitos a controlos minuciosos, amontoaram-se nas instalações aeroportuárias, formando longas filas de espera e provocando demorados atrasos que obrigaram ao cancelamento de boa parte dos voos.
No domingo, Heathrow voltou a estar perto da paralisia total e os cancelamentos mantiveram-se na segunda-feira, apesar de o nível de alerta ter sido baixado durante a madrugada, permitindo-se aos passageiros levarem alguma bagagem de mão para os aparelhos. Os líquidos continuavam, no entanto, a ser proibidos, à excepção de medicamentos prescritos e do leite para bebé, o qual devia ser provado pelo acompanhante antes do embarque.
Todavia, o ministro britânico do Interior fez questão de sublinhar que «a redução do nível de alerta não significa que a ameaça desapareceu». Insistindo na estratégia de informativa seguida desde o início da crise, John Reid declarou que «as pessoas precisam de saber que pode haver indivíduos em liberdade capazes de preparar atentados contra o Reino Unido».
Clima de medo
Desde há um ano que a Grã-Bretanha mantém em vigor o nível de alerta «grave», o penúltimo da escala, adoptado na sequência dos atentados de 7 de Julho de 2005 nos transportes públicos londrinos, que fizeram 56 mortos e 700 feridos.
A passagem para o alerta máximo («crítico») e o histerismo dos responsáveis policiais na gestão da actual crise suscitaram dúvidas e críticas na opinião pública, a que não foi alheio o próprioFinantial Times. Em editorial publicado na sexta-feira, 11, o diário não hesita em qualificar as declarações da Scotland Yard como «alarmistas», mesmo admitindo a existência de uma ameaça real.
Comentando o anúncio feito pela polícia de teria sido desmantelado um plano para «um assassinato em massa numa escala inimaginável e sem precedentes», o jornal observa que «jornalistas – e terroristas – são perfeitamente capazes de disseminar hipérboles sem a ajuda da polícia. A resposta mais poderosa ao terrorismo consiste em não aterrorizar». «Mesmo os piores actos terroristas fazem estragos maiores com reacções histéricas», conclui o editorialista, que acusa ainda as autoridades de terem perdido o «sentido das proporções».
Polícia pouco convincente
Alguns outros testemunhos, divulgados no site da
Já o site Rebelion observa que no momento da detenção dos 24 «perigosos» terroristas não foi disparado um só tiro, nem aqueles ofereceram resistência ou sequer tentaram suicidar-se.
De resto, é o próprio jornal francês Le Monde a assinalar, no domingo, que, «apesar dos interrogatórios e numerosas buscas efectuadas, nenhum dos suspeitos [um dos quais já libertado] foi inculpado e as autoridades tardam em apresentar provas convincentes a uma opinião pública cada vez mais desconfiada».
Ainda com a memória viva das recentes derrapagens da polícia na luta antiterrorista (veja-se o caso de Jean Charles Menezes), os britânicos não podem deixar de estranhar, num momento em que o país se encontra em alerta máximo, que o primeiro-ministro Tony Blair continue descansadamente de férias a bordo de um luxuoso iate ao largo das Barbados.