Fim aos massacres!

Ângelo Alves

Uma atrocidade que as potências europeias e o governo português fingem não ver.

Cerca de 400 mortos, um terço dos quais crianças; 2000 feridos; meio milhão de refugiados; infra-estruturas e bairros residenciais reduzidos a escombros. Este é até ao momento da redacção desta crónica o balanço de 12 dias do crime perpetrado pelo exército israelita no Líbano. Os relatos que chegam são assustadores e revoltantes. Os media já não conseguem esconder a catástrofe humanitária em que se encontra o país e vive-se já uma situação de catástrofe ecológica fruto da maré negra que se alastra pela costa libanesa do mediterrâneo. Começam a chegar as denúncias do uso por parte de Israel de armas não convencionais, como o fósforo branco ou armas químicas.
Mais a sul, e depois de três semanas debaixo de fogo israelita, a população palestiniana vive isolada, sem electricidade no maior campo de concentração do mundo em que se transformou Gaza e enterram a centena de mortos vítimas de mais uma onda de matança israelita.

É este o cenário nesta região: uma matança indiscriminada, uma tentativa fria e calculada de destruição, por um lado da autoridade palestiniana - quando se começava a vislumbrar no horizonte um governo de unidade nacional – e por outro do Líbano que ainda agora se começava a refazer de 18 anos de ocupação israelita que nunca terminou por completo.
O pretexto do rapto dos soldados, quer no caso palestiniano, quer no libanês é um exercício de pura hipocrisia e um insulto à inteligência. É mais que conhecido que Israel já negociou no passado, com o Hesbollah e com a Autoridade Palestiniana trocas de prisioneiros e que recusou até agora iguais propostas de negociação. É igualmente conhecido e hipocritamente ignorado pela chamada «comunidade internacional» que Israel tem nas suas prisões mais de 9000 prisioneiros palestinianos - na sua esmagadora civis - e entre os quais figuram agora 8 ministros e 25 deputados. O ciclo de mentira e hipocrisia é levado ao extremo e o país que mais resoluções da ONU já desrespeitou, o país cuja história é marcada pela agressão a outros povos, pela ocupação de territórios que não lhe pertencem e por uma política de terrorismo de estado, vem agora invocar resoluções das Nações Unidas e o direito de defesa para prosseguir os seus crimes!

O rapto dos soldados foi o «clique» que faltava para pôr em marcha toda uma operação que visa não só uma reocupação do Líbano ou de parte do seu território mas também a criação de condições para uma maior pressão militar junto às fronteiras com a Síria que poderá resultar num alastramento do conflito caso Israel decida provocar ainda mais o governo Sírio.
A verdade é que Israel já há muito preparava esta nova onda de violência. Inclusive com o conhecimento e o apoio dos EUA, que nos últimos tempos aceleraram a entrega de bombas de precisão e «bunker busters» a Israel. A verdade é que a destruição massiva em curso no Líbano não é um acto de procura desesperada de soldados ou de vingança pelo seu rapto mais sim uma fria, precisa e calculada operação de destruição de um país que quase não tem exército e de aumento do «poder de dissuasão de Israel» nas palavras dos próprios…

Uma atrocidade que as potências europeias e o governo português fingem não ver. A palavra «contenção», tão usada nestes dias, ganhou o peso da morte de centenas de inocentes. Os desenvolvimentos, ainda em curso, mostram cada vez mais claramente a conjugação dos interesses Israel-EUA-União Europeia e a fria hipocrisia que orienta a chamada «via diplomática» do imperialismo que aposta agora na reocupação do Líbano através de forças militares da NATO e da UE com o pretexto de «estabilizar» a zona. O PCP opõe-se firmemente a tal solução que em nada contribuirá para a pacificação do Médio Oriente. Só com a retirada imediata das tropas israelitas dos territórios ocupados no Líbano e Palestina e com a retirada das tropas ocupantes do Iraque; com o reconhecimento do direito à existência do Estado Palestiniano independente e viável com capital em Jerusalém Leste; com a libertação dos presos políticos das cadeias de Israel e com a solução do problema dos refugiados de acordo com as resoluções das Nações Unidas será possível uma paz justa e duradoura no Médio Oriente.


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