Opiniões
Enlevado, embevecido, épico e hípico, o Público conta-nos a empolgante cavalgada filantrópica de Bill Gates – «o homem mais rico do mundo», «o maior filantropo do mundo», o pai da «maior instituição privada de caridade do mundo», enfim, o mais em tudo nas referidas matérias. Extasiado, derretido, o Público anuncia que Warren Buffett, «o segundo homem mais rico do mundo» - e, como tal, filantropo de gema – ofereceu à Fundação Gates parte da sua fortuna pessoal (qualquer coisa como 30 mil milhões de dólares). Para quê?: para que a caridosa Fundação faça ainda mais e melhor caridade. Trata-se de um autêntico bodo aos pobres. Por isso, teve honra de editorial do Director, José Manuel Fernandes (JMF), o qual se confirma, não apenas como entranhado devoto da filantropia – que ele vê «como forma de devolver à sociedade e ao mundo o grosso do que estas nos deram, ajudando a que a máquina de criar riqueza continue a funcionar em benefício do maior número» (pois, pois...); nem apenas como um piedoso pregador de virtuosos irmãos da caridade; mas, essencialmente, como um admirador incondicional dos EUA e de tudo o que de lá vem e por lá vai e para lá vai. JMF curva-se, reverente, perante a «mensagem quase crística do primeiro grande filantropo, Carnegie: ‘morrer rico é morrer em desgraça’» - assim ensinando à imensa maioria dos mortais a suprema graça de morrer pobre. «Ser rico, ter trabalhado para ser imensamente rico», é outra graça que JMF muito aprecia e louva – certamente pensando, crítico mas não crístico, nas centenas de milhões que, por serem imensamente calões, são imensamente pobres.
O que JMF nos diz, afinal, é que, para o capitalismo, a exploração e a caridade são indispensáveis e inseparáveis: a exploração, para fazer grandes fortunas; a caridade, para justificar a necessidade da exploração, sem a qual não há grandes fortunas e, portanto, não há caridade.....
A resposta à pergunta de Almeida Garret, feita no século XIX – quantos pobres são necessários para fazer um rico? – ganha brutal actualidade à luz destas caridades incensadas pelo Público: as grandes fortunas de todos os filantropos do mundo custam centenas de milhões de explorados e esfomeados, custam, todos os dias – sublinhe-se: todos os dias! – a morte, por falta de comida e de cuidados de saúde, de cerca de cinco dezenas de milhares de pessoas. Há quem chame a isto crime. JMF chama-lhe caridade. Opiniões.
O que JMF nos diz, afinal, é que, para o capitalismo, a exploração e a caridade são indispensáveis e inseparáveis: a exploração, para fazer grandes fortunas; a caridade, para justificar a necessidade da exploração, sem a qual não há grandes fortunas e, portanto, não há caridade.....
A resposta à pergunta de Almeida Garret, feita no século XIX – quantos pobres são necessários para fazer um rico? – ganha brutal actualidade à luz destas caridades incensadas pelo Público: as grandes fortunas de todos os filantropos do mundo custam centenas de milhões de explorados e esfomeados, custam, todos os dias – sublinhe-se: todos os dias! – a morte, por falta de comida e de cuidados de saúde, de cerca de cinco dezenas de milhares de pessoas. Há quem chame a isto crime. JMF chama-lhe caridade. Opiniões.