Palestina, barbárie e resistência

Luís Carapinha

Numa acção criminosa friamente premeditada, a besta de guerra israelita investe

Israel desencadeou nos últimos dias contra a Palestina uma operação terrorista de grande envergadura. Seja qual for o pretexto invocado, o alvo de mais este episódio da tenebrosa política sionista de «terra queimada» é o mesmo de sempre: o povo palestiniano, vítima de cruel ocupação, e a sua legítima aspiração à constituição de um Estado independente.
Numa acção criminosa friamente premeditada, a besta de guerra israelita investe sobre populações, destrói infra-estruturas civis, bombardeia instalações governamentais e procede à prisão de dirigentes e representantes palestinianos.
A presente arremetida de Israel, que por sinal sucede ao anúncio da assinatura de um acordo para a formação de um governo de unidade nacional entre Hamas e Fatah, não só ignora a já dramática condição humanitária do povo palestiniano, como, pelo contrário, visa precisamente causar o seu agravamento até a um nível insuportável. Punir colectivamente um povo que «ousa» não se subjugar, desencorajando a sua resistência e fazendo-a degenerar no desespero ou resignação, atingir e desmembrar a sua organização e capacidades governativas são os reais objectivos da fascistizante «Chuva de Verão» que se abate sobre território palestiniano.

As últimas atrocidades com as quais o mundo é confrontado, agravando a já explosiva situação no Médio Oriente, enquadram-se na estratégia de Israel de aprofundamento e consolidação da ocupação da Palestina. À revelia do direito internacional mas gozando da impunidade que o imperialismo lhe confere, a direcção sionista prossegue a política de factos consumados. A construção do muro de separação avança dentro de território palestiniano retalhando-o ainda mais. Continua a anexação de terras e a expansão dos grandes colonatos. Em Jerusalém Oriental acentuam-se os efeitos da política de segregação racial. Como era previsível, o famigerado «Roteiro para a paz» – o tal patrocinado pelo quarteto (EUA, UE, Rússia e ONU) – não passa hoje de uma miragem, que permitiu a Israel ganhar tempo. A retirada “unilateral” de Gaza em 2005 foi uma farsa. Este minúsculo território, densamente povoado, permaneceu cercado por mar, terra e ar. Durante meses a fio, Israel procedeu ao seu bombardeamento metódico e à prática regular de assassinatos selectivos – onde estão os acrisolados defensores dos direitos humanos? – sem nunca olhar a qualquer tipo de vítimas. Poderosas campanhas de diversão foram lançadas para descreditar o direito legítimo do povo palestiniano à resistência e associar esta com o terrorismo. Enquanto isso, Israel e o imperialismo promoveram e apoiaram forças extremistas, potenciando as divisões no campo palestiniano e abalando a sua unidade. Através da ingerência e da chantagem permanentes pretendem depurar uma eventual «liderança» palestiniana «pacífica» e «descartável», a quem fosse possível, porventura, transferir a gestão da ocupação. Arafat era um «escolho» nesta via e por isso foi ferozmente diabolizado. A sua morte permanece aliás adensada em mistério. Contra os planos genocidas de Israel e as tentativas de definição unilateral das suas «fronteiras móveis», é urgente desmistificar esta engrenagem e relançar de forma inequívoca o movimento de solidariedade com a OLP e a resistência do povo palestiniano.

O que está a acontecer em terras da Palestina seria impossível sem o suporte dos EUA e a passividade da chamada «comunidade internacional», reveladora de todo o seu cinismo – desde a complacência e conivência da desacreditada UE, que mantém engavetado um inoportuno relatório que aponta duras responsabilidades a Israel, e embarca vergonhosamente com Washington no bloqueio financeiro do povo palestiniano, até à inacção da maioria das burguesias árabes para quem o instinto e interesses de classe se sobrepõem à solidariedade do mundo árabe.
O carácter da operação militar israelita vale certamente como marca da perigosidade imperialista nos tempos que correm, da qual a situação no Iraque, Afeganistão ou a desenfreada corrida neocolonial a África são alguns expoentes. Quadro porém também revelador do «desespero» que vai tomando corpo num sistema que não logrará inverter a roda da História.


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