Negro Ponto

Jorge Cordeiro
Na longa e negra lista de titulares da Administração norte-americana que ficarão para sempre associados à criminosa intervenção dos EUA nos últimos anos, há que reter o aparecimento de um novo personagem que promete vir a fazer juz ao nome: Jonh Negroponte, encarregado de seguir a «crise» iraniana e de vir a encontrar as «provas» em falta sobre o programa nuclear iraniano.
Reconheça-se que a coisa promete. Um rápido olhar sobre o passado recente deixa antever o que o próximo futuro nos reserva, e ao mundo, em matéria de pretextos, práticas e consequências que resultarão da entrada em cena deste novo peão na estratégia de domínio que os EUA têm sobre a região . Não será pois difícil adivinhar que com a esforçada investigação de uma missão de peritos e o labor de uns quantos cientistas, todos sem excepção, aqueles e estes, apresentados como figuras de uma independência de betão e investidos preferencialmente, por uma qualquer resolução das Nações Unidas, será levada a cabo, com êxito, a difícil mas necessária missão de forjar as desejadas provas. Não será também difícil de adivinhar o frenesim das tão indispensáveis, quanto arreliadoras e retardantes, diligências diplomáticas que entretanto, por razão e força das aparências, é necessário encenar para preparar o mundo para as inevitáveis consequências que resultarão da previsível e intolerável atitude, desde logo perigosa pelo mau exemplo que pode vir a constituir, de afirmação de soberania que o Irão venha a assumir. Não será também muito difícil de adivinhar, desde logo porque já não se torna necessário fazê-lo, o papel que às Nações Unidas e em particular à União Europeia – pela mão de Javier Solana, o mesmo e sinistro figurante usado pelos EUA na agressão e desmantelamento da Jugoslávia – se encontra reservado nos planos agressivos da Casa Branca. E sobretudo não seria difícil adivinhar, olhando para o país ao lado – o Iraque –, o que o futuro reservaria em matéria de «pacificação», «direitos humanos», «estabilidade e normalização democrática» se os objectivos e ambições norte americanas, e do imperialismo em geral, fossem por diante.
Aos povos, às nações não subjugadas ao imperialismo e aos que defendem a paz, está colocada a questão de se oporem a novas e perigosas aventuras belicistas.
Em matéria de armas nucleares a sua não proliferação é sem dúvida um objectivo essencial a um planeta com futuro. Um objectivo tão mais conseguido quanto os seus mais perigosos detentores, os EUA, — não só a única potência que até hoje fez uso das mesmas contra populações indefesas como a que admite delas voltar a fazer uso, — deixar de se afirmar como uma ameaça permanente ao mundo e a todos os povos que a ele se não queiram submeter.


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