Ucrânia contra a NATO

Luís Carapinha

Os EUA tentam forçar a contra-relógio a adesão de Kiev à NATO

Na Ucrânia, a irrupção de vigorosas acções populares contra a presença militar dos EUA e da NATO possui um significado transcendente. Os protestos dos últimos dias surgidos na península da Crimeia com o apoio dos comunistas e outras formações políticas e movimentos sociais rapidamente alastraram, adquirindo um vincado carácter anti-NATO.
Acções de bloqueio do porto onde desembarcou armamento norte-americano ou de «cerco» da estância balnear que alojou mais de uma centena de marines, chegados para a realização das manobras militares Sea Breeze-2006 – acto que contraria uma decisão de Fevereiro do parlamento de Kiev proibindo a participação estrangeira em manobras militares em território nacional –, não só obrigaram à transferência «clandestina» dos soldados dos EUA para local incerto, como evoluíram para a exigência de demissão do presidente «laranja», Iúchenko, por violação da Constituição.

A desatenção dedicada a estes acontecimentos pelos media dominantes não é casual, nem se deve à sobrecarga informativa do frívolo e do acessório, em si mesma tudo menos inocente, em volta de importante acontecimento desportivo mundial. O seu silêncio confirma a perturbação nos círculos imperialistas causada pelas manifestações contra a NATO na Ucrânia. Um país considerado «estratégico» para os planos expansionistas da Aliança, dirigidos de Washington, em curso na frente activa do leste europeu. Planos agressivos do imperialismo que, incontornavelmente, têm na mira essa complexa realidade, que constitui hoje a emergência de uma Rússia capitalista ensaiando uma crescente «autonomia», apesar de toda a fragilidade histórica decorrente da derrocada da URSS. Situação que não deixa de atestar também o agravamento geral do feixe de contradições internacionais que perpassa a crise estrutural do capitalismo contemporâneo, constituindo uma real ameaça à paz no mundo.
Efectivamente, após a derrota de Iúchenko nas eleições legislativas de Março de 2006 – a sua formação política recolheu menos de 14% dos votos –, apenas mitigada pela obtenção de uma heterogénea e precária «maioria laranja», tornou-se notório que os EUA tentam forçar a «contra-relógio» a adesão de Kiev à NATO. Empresa que conta com a participação de uma UE que prima pela conivência, apesar da desconfiança que vai assaltando Paris e Berlim e das múltiplas contradições que afloram no seu interior.
Numa situação interna na Ucrânia marcada pela instabilidade e o impasse, bem demonstrada pela incapacidade dos aliados «laranjas» em formar uma maioria governativa, onde se acentuam as profundas fracturas e desequilíbrios existentes, a pressa do imperialismo «em ferrar» é tal que a própria presença militar russa no país, resultante do acordo de divisão da antiga frota soviética do mar Negro, deixou de ser encarada como um obstáculo para uma rápida incorporação do segundo maior país europeu na NATO.

Para além de incorrer em inconstitucionalidade, a decisão presidencial de declarar válida a realização de manobras de países da NATO no país afronta a vontade do povo ucraniano.
Não obstante a opressão de classe e todo o «terrorismo social» a que têm sido sujeitos, a maioria dos ucranianos continua a ser contra a entrada para a NATO. A própria ilusão de uma integração numa UE de crescentes contrastes, apresentada como isco para a inclusão no chamado espaço «euro-atlântico», esvanece-se: a UE do grande capital tem esgotada a sua capacidade de absorção.
A rápida inclusão da Ucrânia na Aliança militar afigura-se assim como a saída do imperialismo para o objectivo de «fixar» o país à sua agenda no espaço pós-soviético, e a garantia de sobrevivência para o regime títere no poder.

Quando a NATO se converte em instrumento supranacional ao serviço da tentativa de moldar uma nova ordem mundial imperialista, perder de vista a sua essência ou subestimar os seus objectivos estratégicos seria um erro fatal. A luta dos povos e trabalhadores contra tais propósitos assume nestas condições um significado imperativo. Daí, desafiando os cenários de «facto consumado», a redobrada importância que encerram as acções populares contra a NATO na Ucrânia.


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