Na Póvoa e em Gaia

Margarida Botelho
Durante o fim-de-semana, realizaram-se dois Congressos a norte: o do PSD e o da JCP. E as semelhanças acabam aqui. Felizmente.
O facto mais relevante do Congresso do PSD – agora em ritmo trimestral - parece ter sido o momento de lucidez de Manuela Ferreira Leite. Diz a senhora: estamos numa grande dificuldade, o PS rouba-nos as propostas, faz o que sempre quisemos ter feito, como ser oposição se tudo anda segundo os nossos desejos? E até já tinha deixado escapar esta sua angústia existencial, quando criticou os colegas do PSD por não terem aprovado o Orçamento de Estado de Sócrates, ou quando concordou com o encerramento das maternidades…
Marques Mendes, solícito, apressou-se a elevar a fasquia e a pedir mais e mais privatizações: educação, ambiente, cultura, transportes. E dá exemplos: a alfabetização de adultos, a protecção das florestas, a ocupação dos tempos livres dos jovens. Delirante?! Impressão nossa.
Enquanto isso, em Vila Nova de Gaia, a JCP realizava o seu 8º Congresso. Com uma fase preparatória de 10 meses, amplamente democrática na forma como construiu a resolução política, elegeu os delegados e a Direcção Nacional. Com uma campanha de afirmação em que se distribuíram milhares de documentos, se pintaram murais, se realizaram iniciativas desportivas, culturais, de convívio. Com mais de 750 delegados vindos de todo o país, com uma média etária de cerca de 19 anos, com 45% de delegadas. Com uma componente cultural forte, dos Dealema ao Coro de Letras interpretando Lopes-Graça. Com um carácter internacionalista e solidário bem vincado. Um Congresso que homenageou Álvaro Cunhal de forma emocionada e combativa e que realizou um desfile, impressionante de força, alegria e determinação. Um verdadeiro Congresso de uma organização comunista, juvenil e portuguesa.
Pouco ou nada passou na televisão, nos jornais, na rádio – a discriminação do costume. E do que passou parte foi manipulado. A verdade é que a comunicação social tem dificuldade em encaixar nos seus critérios um Congresso como o da JCP, em que a democracia não é uma luta de galos, nem as discordâncias braços de ferro – antes opiniões que se somam e constroem uma riqueza maior: uma opinião colectiva, uma orientação para a acção e a luta. Pior: não convem mostrar muito, não vão cada vez mais jovens entender que o caminho para concretizar os seus sonhos passa pela militância na JCP e no Partido.


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