Anticomunismo, ideologia do capitalismo
A revelação na passada semana da existência de centros secretos de tortura no pós-guerra (1), onde as autoridades britânicas assassinaram lentamente à fome, com bárbaros espancamentos e pelo frio, centenas de prisioneiros – «presumíveis comunistas» – que poderiam dar informações «sobre as intenções e os métodos dos serviços secretos soviéticos», sob o pretexto de que estaria eminente um novo conflito mundial, prova onde chegou a histeria anticomunista na época e alerta-nos para as tendências que hoje já se traduzem na banalização da tortura, convocando-nos à denúncia e ao combate contra tais ilegalidades e tão criminosa actuação por parte do imperialismo.
Passados 60 anos sobre os acontecimentos que agora foram tornados públicos – e documentados por fotografias terrivelmente chocantes – é bom recordar que tais factos, datados de 1946, coincidem no tempo com o célebre discurso de Churchill, em Fulton, cujo principal conteúdo é a declaração da «guerra fria» e onde se lança o anticomunismo como doutrina oficial do «Ocidente». Foi aí que surgiu a expressão «cortina de ferro» (2) para «combater as tendências expansionistas» (3) da «Rússia soviética», numa altura em que por toda a Europa os povos vitoriavam a paz e se valorizava o incontestável papel libertador do Exército Vermelho e da URSS. Pouco depois, Truman defendia que os EUA tinham não só o direito, mas o autêntico dever de intervir para «apoiar os povos livres que resistem a tentativas de subjugação» (4) tal como as actuais teorizações das «guerras preventivas» de Bush justificam qualquer agressão em qualquer parte do mundo. Tudo «em nome da liberdade e da democracia». Ontem para combater a «ameaça comunista», hoje para «combater o terrorismo».
Mas, hoje como ontem, o que está em causa é o carácter desumano, antidemocrático e agressivo do imperialismo, capaz de recorrer às maiores ilegalidades e arbitrariedades, humilhações e violências para atingir os seus fins. São já conhecidos, de todo o mundo, os sequestros, as torturas, a existência de prisões clandestinas e de voos ilegais que transportam presos duns continentes para outros (5), mas o que ainda está pouco divulgado é que se esteja a recorrer à subcontratação de serviços de tortura por parte da Administração Bush a regimes como os de Marrocos ou Afeganistão (6).
Um sinal de fraqueza
No capitalismo «tudo se compra, tudo se vende». E para tudo se busca uma cobertura ideológica, política e jurídica. Por isso se trabalha afanosamente para que a actual subversão do direito internacional se transforme em lei. Foi o que fez, passados escassos dois dias da divulgação das torturas do pós guerra, o Ministro da Defesa da Grã-Bretanha, exigindo a revisão das Convenções de Genebra, que considerou desajustadas, devendo as leis «adaptarem-se para melhor servir os tempos». E é o que já está em curso com a «reforma» da ONU, nomeadamente com significativas alterações na Comissão dos Direitos Humanos para que aqueles que os violam possam continuar a fazê-lo e, simultaneamente, puderem ser implacáveis com forças políticas e países que seguem percursos independentes e resistem à «Nova Ordem» imperialista.
É neste quadro que se procura de novo que o anticomunismo se transforme em doutrina de Estado, tentativa que ficou gorada, em Janeiro, no Conselho da Europa. Mas os perigos persistem. A luta ideológica prossegue. Bem recentemente, Berlusconi, durante a campanha eleitoral italiana veio desenterrar a velha calúnia que «os comunistas comem criancinhas», adaptando-a hoje à China, afirmando que elas (as crianças) eram utilizadas, depois de cozinhadas, como fertilizante (!). A criminalização do comunismo e de toda a sua acção passada (7), a que se associa a infame tese de equiparar comunismo e nazismo, e a pretensão de que uma persistente pressão sobre os partidos comunistas os conduza a abjurar dos seus objectivos e ideais, está na ordem do dia. Mas, quanto a nós, tal campanha anticomunista é um sinal de fraqueza e não de força da reacção e do imperialismo que perante a crescente resistência dos trabalhadores e dos povos procura desarmá-los da perspectiva da transformação social e que acalentem a esperança da inevitável superação revolucionária do capitalismo. Mas como a história ensina tais propósitos poderão atrasar a luta, mas não impedirão o seu triunfo.
_______________
(1) - no jornal The Guardian de 3/4
(2) - “De Stettin, no Báltico, até Triestre, no Adriático uma cortina de ferro desceu sobre o continente” – Churchill, em Fulton (5/3/46)
(3) - que , pelos vistos, terão justificado as torturas agora relatadas
(4) - com base nesse «princípio», a doutrina Truman deu lugar ao conhecido Plano Marshall de socorro do capitalismo e de alargamento da influência do imperialismo norte-americano na Europa
(5) - «serviço» designado por «entregas extraordinárias», segundo um editorial (6) - idem
(7) - Jaruzelski, ex-presidente da Polónia, foi acusado de «crime comunista», na passada semana
Mas, hoje como ontem, o que está em causa é o carácter desumano, antidemocrático e agressivo do imperialismo, capaz de recorrer às maiores ilegalidades e arbitrariedades, humilhações e violências para atingir os seus fins. São já conhecidos, de todo o mundo, os sequestros, as torturas, a existência de prisões clandestinas e de voos ilegais que transportam presos duns continentes para outros (5), mas o que ainda está pouco divulgado é que se esteja a recorrer à subcontratação de serviços de tortura por parte da Administração Bush a regimes como os de Marrocos ou Afeganistão (6).
Um sinal de fraqueza
No capitalismo «tudo se compra, tudo se vende». E para tudo se busca uma cobertura ideológica, política e jurídica. Por isso se trabalha afanosamente para que a actual subversão do direito internacional se transforme em lei. Foi o que fez, passados escassos dois dias da divulgação das torturas do pós guerra, o Ministro da Defesa da Grã-Bretanha, exigindo a revisão das Convenções de Genebra, que considerou desajustadas, devendo as leis «adaptarem-se para melhor servir os tempos». E é o que já está em curso com a «reforma» da ONU, nomeadamente com significativas alterações na Comissão dos Direitos Humanos para que aqueles que os violam possam continuar a fazê-lo e, simultaneamente, puderem ser implacáveis com forças políticas e países que seguem percursos independentes e resistem à «Nova Ordem» imperialista.
É neste quadro que se procura de novo que o anticomunismo se transforme em doutrina de Estado, tentativa que ficou gorada, em Janeiro, no Conselho da Europa. Mas os perigos persistem. A luta ideológica prossegue. Bem recentemente, Berlusconi, durante a campanha eleitoral italiana veio desenterrar a velha calúnia que «os comunistas comem criancinhas», adaptando-a hoje à China, afirmando que elas (as crianças) eram utilizadas, depois de cozinhadas, como fertilizante (!). A criminalização do comunismo e de toda a sua acção passada (7), a que se associa a infame tese de equiparar comunismo e nazismo, e a pretensão de que uma persistente pressão sobre os partidos comunistas os conduza a abjurar dos seus objectivos e ideais, está na ordem do dia. Mas, quanto a nós, tal campanha anticomunista é um sinal de fraqueza e não de força da reacção e do imperialismo que perante a crescente resistência dos trabalhadores e dos povos procura desarmá-los da perspectiva da transformação social e que acalentem a esperança da inevitável superação revolucionária do capitalismo. Mas como a história ensina tais propósitos poderão atrasar a luta, mas não impedirão o seu triunfo.
_______________
(1) - no jornal The Guardian de 3/4
(2) - “De Stettin, no Báltico, até Triestre, no Adriático uma cortina de ferro desceu sobre o continente” – Churchill, em Fulton (5/3/46)
(3) - que , pelos vistos, terão justificado as torturas agora relatadas
(4) - com base nesse «princípio», a doutrina Truman deu lugar ao conhecido Plano Marshall de socorro do capitalismo e de alargamento da influência do imperialismo norte-americano na Europa
(5) - «serviço» designado por «entregas extraordinárias», segundo um editorial (6) - idem
(7) - Jaruzelski, ex-presidente da Polónia, foi acusado de «crime comunista», na passada semana