A Visita
Passado um mês sobre a tomada de posse – tempo aproveitado, segundo o próprio, para «se informar», o que é natural num homem com uma carreira de bom aluno - o novo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, fez a sua primeira visita oficial escolhendo um hospital pediátrico (o D. Estefânia, em Lisboa) para a sua presidencial estreia. E explicou porquê: porque estivera ali várias vezes «em resultado do internamento de familiares», generalidade que a mulher, Maria Cavaco Silva, se encarregou de amiudar uns passos atrás (como manda o protocolo das «primeiras-damas»), esclarecendo tratar-se dos netos de ambos, como é o caso do «António» que «já depois de o meu marido tomar posse, passou aqui um domingo inteiro», amenidade que o mais alto magistrado da Nação não resistiu a ilustrar quando, mais adiante, chegou ao agora famoso «quarto 10» e proclamou para a comitiva e para o País, apontando entusiasmado uma cadeira azul: «Era aqui precisamente! Passei muitas horas naquela cadeira!» .
O novo Presidente da República não esqueceu, entretanto, a importância do guião, que tão bem decorou e tão bons frutos deu na sua propaganda eleitoral, pelo que acrescentou em devido tempo afirmações simultaneamente de Estado e de envergadura, como a de esclarecer que estava ali porque prometera, na sua campanha, dedicar «uma atenção particular às crianças», que são «um grupo vulnerável na nossa sociedade» e «o capital mais importante que temos».
O que não o impediu de interpelar os primeiros meninos que visitou com um deslocado «Estão, estás bom?» , inconveniência que a primeira-dama emendou com a sua conhecida espontaneidade proferindo a evidência de que «se estivesse muito bom não estava aqui». O certo é que resultou em cheio, pois o Presidente da República, a partir daí, passou a perguntar às crianças hospitalizadas se «estavam melhores», evidenciando além do mais que continua a manejar os guiões com desenvoltura e até já absorve as emendas de emergência.
Para isto, o Presidente da República foi acompanhado pelo próprio ministro da Saúde, Correia de Campos, o que parece colocar até o Governo de José Sócrates em sintonia com esta opção do Chefe de Estado de iniciar os actos oficiais da sua magistratura com uma visita a um hospital pediátrico, não porque esteja empenhado na assistência médico-hospitalar das crianças portuguesas, mas porque este hospital lhe costuma cuidar dos netos.
Como ambos, Presidente e ministro, se escusaram redondamente a comentar ou, sequer, a mencionar quaisquer questões mais pertinentes sobre o tema dos hospitais pediátricos, como o encerramento da unidade de queimados do próprio D. Estefânia por falta de dinheiro para obras ou os previstos encerramentos de maternidades por esse País fora, impõe-se-nos a desconfiança de que o actual Chefe de Estado, com o aplauso do Governo, terá iniciado uma peregrinação aos locais mais significativos da sua vivência familiar, elevando-os, pela sua presidencial visita, à dignidade de monumento nacional que a História, decerto, registará com o adequado nome de «Família Cavaco Silva», algo, convenhamos, bem mais consistente que a outrora famosa «Vivenda Mariani».
Uma coisa é certa: Cavaco Silva aparenta ter, da função presidencial, um entendimento algo majestático, assim uma espécie de pulsão semelhante à que levava D. Pedro V aos hospitais.
Será isto que ele chama «começar uma outra fase» da sua acção em Belém?
O novo Presidente da República não esqueceu, entretanto, a importância do guião, que tão bem decorou e tão bons frutos deu na sua propaganda eleitoral, pelo que acrescentou em devido tempo afirmações simultaneamente de Estado e de envergadura, como a de esclarecer que estava ali porque prometera, na sua campanha, dedicar «uma atenção particular às crianças», que são «um grupo vulnerável na nossa sociedade» e «o capital mais importante que temos».
O que não o impediu de interpelar os primeiros meninos que visitou com um deslocado «Estão, estás bom?» , inconveniência que a primeira-dama emendou com a sua conhecida espontaneidade proferindo a evidência de que «se estivesse muito bom não estava aqui». O certo é que resultou em cheio, pois o Presidente da República, a partir daí, passou a perguntar às crianças hospitalizadas se «estavam melhores», evidenciando além do mais que continua a manejar os guiões com desenvoltura e até já absorve as emendas de emergência.
Para isto, o Presidente da República foi acompanhado pelo próprio ministro da Saúde, Correia de Campos, o que parece colocar até o Governo de José Sócrates em sintonia com esta opção do Chefe de Estado de iniciar os actos oficiais da sua magistratura com uma visita a um hospital pediátrico, não porque esteja empenhado na assistência médico-hospitalar das crianças portuguesas, mas porque este hospital lhe costuma cuidar dos netos.
Como ambos, Presidente e ministro, se escusaram redondamente a comentar ou, sequer, a mencionar quaisquer questões mais pertinentes sobre o tema dos hospitais pediátricos, como o encerramento da unidade de queimados do próprio D. Estefânia por falta de dinheiro para obras ou os previstos encerramentos de maternidades por esse País fora, impõe-se-nos a desconfiança de que o actual Chefe de Estado, com o aplauso do Governo, terá iniciado uma peregrinação aos locais mais significativos da sua vivência familiar, elevando-os, pela sua presidencial visita, à dignidade de monumento nacional que a História, decerto, registará com o adequado nome de «Família Cavaco Silva», algo, convenhamos, bem mais consistente que a outrora famosa «Vivenda Mariani».
Uma coisa é certa: Cavaco Silva aparenta ter, da função presidencial, um entendimento algo majestático, assim uma espécie de pulsão semelhante à que levava D. Pedro V aos hospitais.
Será isto que ele chama «começar uma outra fase» da sua acção em Belém?