Novos colectivos na Figueira da Foz

A atracção pelos comunistas

Há vários anos que não há colectivos da JCP no concelho da Figueira da Foz. Correcção no tempo verbal: não havia... Há poucas semanas formaram-se dois colectivos em escolas secundárias, com a entrada de 15 novos militantes durante o mês de Fevereiro. Tudo começou com a campanha da organização do secundário no início do ano lectivo, com distribuições de documentos da JCP em várias instituições do distrito de Coimbra, inclusive onde não havia militantes para as assegurar.

A Comissão Regional de Coimbra considerou como prioritária a Figueira da Foz pela sua grandeza e pelo número de jovens. Nas distribuições, a receptividade foi imediata. Só na primeira visita à Escola Secundária Cristina Torres fizeram quatro recrutamentos. João Fonseca, de 17 anos, foi um deles. Espontaneamente foi procurando informações sobre o comunismo e a JCP em leituras em casa e tirou algumas informações na net. Já tinha ido ao uma vez ao centro de trabalho do PCP para se inscrever, mas estava fechado. A distribuição foi a altura certa para preencher a ficha de recrutamento.
João só começou a sua actividade militante no início de Fevereiro. «Gosto. Era o que eu estava a pensar encontrar», conta, lembrando o que o levou a juntar-se à organização: «São os objectivos da JCP, uma sociedade onde exista igualdade. A JCP é a que se identifica mais com as minhas ideologias, a que vai mais ao encontro da minha maneira de ser.»
A militância de João é frequentemente motivo de conversa, numa região com poucas tradições comunistas. «No princípio não percebem porque é que nós somos da JCP e as nossas ideias, mas a gente vai explicando. Há os que continuam a não aceitar, mas outros começam a perceber e a gostar», refere. Já o acusaram de «comuna», com um tom de desprezo. «Mas essas reacções são por nem fazerem ideia do que é a JCP e os seus ideais. Depois de saberem mudam um bocado de atitude. Mesmo não querendo ser da JCP, começam a compreender», sustenta.
O pai respeita a sua decisão, mas não gosta que ele esteja demasiado envolvido. «Já me disse que preferia que eu estivesse noutro lado, mas eu expliquei-lhe que tenho de estar com o que me identifico. Já baixei uma nota, mas não foi por causa da JCP», garante João.

Potencialidades de crescimento

Como refere João Pedro Ferreira, responsável pela organização da Figueira da Foz da JCP, depois das primeiras reuniões começou-se a criar mais dinâmica: iniciativas e intervenção nas próprias escolas, falar da JCP a mais pessoas, responsabilizar os novos camaradas. Ao mesmo tempo, os jovens comunistas desempenharam um importante papel na dinamização da luta do ensino secundário de 16 de Fevereiro, o que levou a novas adesões, como foi o caso de Rui Ferreira, estudante de 15 anos da Escola Joaquim de Carvalho.
«Desde então, procuro explicar aos outros o que é a nossa luta. Está a ser fixe. É uma coisa diferente. Nunca tinha estado assim envolvido em nada», diz Rui, com um sorriso. A manifestação de 16 de Fevereiro foi a primeira em que participou. «Foi muita gente. Foi bom participar e ajudar na sua organização», comenta, lembrando com desagrado que muitos manifestantes se dispersaram rapidamente no final do percurso e que alguns estudantes que fizeram greve às aulas ficaram em casa. «Devíamos estar todos juntos para ter mais significado», defende. «Devíamos cada vez lutar mais e trazer mais pessoal. Temos de explicar melhor as coisas. Não é assim tão difícil...»
De facto, também João Pedro Ferreira considera que «a organização do secundário tem sempre a potencialidade de crescer», porque «a malta é mais aberta, menos preconceituosa». «Quanto mais iniciativas tivermos para que a malta chame os amigos e para que eles nos possam conhecer e desmistificar alguns preconceitos, melhor. Estão criadas as condições para que haja mais crescimento», afirma. Recentemente, a JCP organizou um convívio no centro de trabalho com 40 pessoas. No final, seis inscreveram-se.
João Pedro Ferreira só consegue explicar este elevado número de adesões em tão pouco tempo com a grande receptividade que haveria nos jovens da Figueira da Foz. «Se a JCP e o PCP não fossem bem vistos pela juventude, nunca teria havido este crescimento rápido. O que às vezes faz falta é o esclarecimento e haver quem faça contactos», considera.

Contra a resignação

Os colectivos das escolas Cristina Torres e Joaquim de Carvalho começaram a reunir-se há duas semanas. Rui Ferreira diz que «até é divertido. Basta estarmos interessados e saber o que dizer. É bom expor novas ideias. O colectivo funciona bem.» João Fonseca também gosta das reuniões, «porque há várias hipóteses em debate e todos dão opinião. Podemos ter uma ideia, mas conseguimos que se torne melhor com a ajuda dos outros. Noto que o pessoal está a gostar de lá estar.» As prioridades do seu colectivo são a convocação de uma Reunião Geral de Alunos (RGA), pintar uma faixa na escola para apelar à participação de todos os estudantes e distribuir um documento sobre os problemas específicos sentidos na escola.
Entretanto, prossegue o trabalho de esclarecimento. «Há muita gente resignada, mas também há muitos que não estão. Nós temos de fazer com que eles mudem. Para o País ter um futuro melhor, a educação é a base mais importante. Só teremos mão-de-obra qualificada, por exemplo, se for feito um forte investimento na educação», salienta João.
«A maior parte das pessoas com quem eu falo pela primeira vez dizem-me: “Para que é que vamos lutar? Isto nunca vai mudar.” Eu falo-lhes da revisão curricular que o Governo do Guterres queria implementar e que os estudantes, ao virem para a rua, conseguiram que não avançasse. Há uma coisa que eu digo sempre: “Ao saíres para a rua, o Governo vê que estás contra as políticas educativas. Se ficares nas aulas, é como se fosses a favor.” É um bocado difícil, mas acho que começam a perceber por que é preciso lutar», considera João Fonseca.
A educação sexual é um dos pontos que João mais debate. Aos colegas que estão contra a sua implementação, ele explica que nem todos têm acesso às mesmas informações sobre sexualidade. Depois pergunta: «Se estivesses com uma rapariga e ela engravidasse, o que fazias? Onde te dirigias? Ninguém me sabe responder.»
A terceira escola secundária da Figueira da Foz tem actualmente quatro militantes da JCP. João Pedro Ferreira pensa que em breve será possível pôr o colectivo a funcionar. «É o próximo passo», diz.


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