Bilhete só de ida
Na (des)informação vinda a público a propósito da morte de Slobodan Milosevic chama a atenção a veiculada esta segunda-feira pelo médico holandês Donald Uges, que diz ter encontrado no sangue do ex-presidente jugoslavo vestígios de um medicamento susceptível de reduzir a eficácia dos que devia tomar para os problemas de coração e hipertensão.
A conclusão de Uges, amplamente veiculada, é que Milosevic pretendia fazer piorar o seu estado de saúde para assim conseguir «um bilhete só de ida para Moscovo». O mesmo prestimoso médico afirmou ainda que Milosevic «começou por não tomar os medicamentos», e que mesmo quando foi «forçado a tomá-los sob supervisão» a sua «tensão não descia». As autoridades médicas ao serviço do «tribunal» de Haia, afirmou, chegaram esta dedução em Janeiro.
Não é preciso grande esforço para perceber a incoerência da argumentação, como atestam as próprias actas do julgamento de Milosevic, na sessão em que a questão foi suscitada. Só quem não conhece os procedimentos da prisão pode acreditar que a toma de medicamentos é deixada ao arbítrio dos presos. «Somos obrigados a tomar os comprimidos à frente dos guardas da prisão. Não é uma medida só para mim, aplica-se a toda a gente. E a hora a que tomamos os medicamentos é registada num livro.» As palavras são de Milosevic, em resposta ao Procurador Nice, e não foram contestadas.
Mas mesmo admitindo que a cela de «Slobo» fosse equiparável a uma suite de hotel, com entregas de medicamentos ao domicílio sob o ar paternal dos guardas, cabe perguntar que fizeram as autoridades - médicas e judiciais - desde que a alegada suspeita se instalou, em Janeiro. A resposta, dado o óbito, só pode ser uma: validaram o «bilhete só de ida».
Sucede no entanto que Milosevic não parecia disposto a morrer, mas a lutar. E tanto assim era que as entidades financeiras alemãs, primeiro, e as austríacas depois, congelaram ilegalmente os fundos do Comité Internacional para a Defesa de Slobodan Milosevic nos respectivos países, de forma a sabotar-lhe a defesa.
Terá sido por isso que o juiz Bonomy não gostou de ouvir Milosevic falar - como rezam as actas - de quem lhe paga o salário: «(...) as receitas provêm de muitas fontes, a Fundação Soros, diversas fundações de países islâmicos, sendo a NATO o maior financiador. Em 17 de Maio de 1999, Jamie Shea, o porta-voz da NATO, disse: “Os países da NATO são os... os melhores para instituírem o Tribunal. Nós estamos entre os principais financiadores”.»
A voz embaraçosa deixou de incomodar.
A conclusão de Uges, amplamente veiculada, é que Milosevic pretendia fazer piorar o seu estado de saúde para assim conseguir «um bilhete só de ida para Moscovo». O mesmo prestimoso médico afirmou ainda que Milosevic «começou por não tomar os medicamentos», e que mesmo quando foi «forçado a tomá-los sob supervisão» a sua «tensão não descia». As autoridades médicas ao serviço do «tribunal» de Haia, afirmou, chegaram esta dedução em Janeiro.
Não é preciso grande esforço para perceber a incoerência da argumentação, como atestam as próprias actas do julgamento de Milosevic, na sessão em que a questão foi suscitada. Só quem não conhece os procedimentos da prisão pode acreditar que a toma de medicamentos é deixada ao arbítrio dos presos. «Somos obrigados a tomar os comprimidos à frente dos guardas da prisão. Não é uma medida só para mim, aplica-se a toda a gente. E a hora a que tomamos os medicamentos é registada num livro.» As palavras são de Milosevic, em resposta ao Procurador Nice, e não foram contestadas.
Mas mesmo admitindo que a cela de «Slobo» fosse equiparável a uma suite de hotel, com entregas de medicamentos ao domicílio sob o ar paternal dos guardas, cabe perguntar que fizeram as autoridades - médicas e judiciais - desde que a alegada suspeita se instalou, em Janeiro. A resposta, dado o óbito, só pode ser uma: validaram o «bilhete só de ida».
Sucede no entanto que Milosevic não parecia disposto a morrer, mas a lutar. E tanto assim era que as entidades financeiras alemãs, primeiro, e as austríacas depois, congelaram ilegalmente os fundos do Comité Internacional para a Defesa de Slobodan Milosevic nos respectivos países, de forma a sabotar-lhe a defesa.
Terá sido por isso que o juiz Bonomy não gostou de ouvir Milosevic falar - como rezam as actas - de quem lhe paga o salário: «(...) as receitas provêm de muitas fontes, a Fundação Soros, diversas fundações de países islâmicos, sendo a NATO o maior financiador. Em 17 de Maio de 1999, Jamie Shea, o porta-voz da NATO, disse: “Os países da NATO são os... os melhores para instituírem o Tribunal. Nós estamos entre os principais financiadores”.»
A voz embaraçosa deixou de incomodar.