Lá estaremos, na primeira linha

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política)
Nos últimos dias, uma fatia considerável do espaço mediático foi ocupada com a tomada de posse do novo Presidente da República. A este propósito, os comentadores desdobraram-se em comentários e análises sobre o novo quadro político.

Sócrates e Cavaco estão «condenados» a entenderem-se

Como irão coabitar Sócrates e Cavaco? As prioridades da agenda política de um e de outro serão compatíveis? Quais as vantagens de as reuniões entre os dois se manterem à quinta-feira? Quais as características e a origem política dos seus colaboradores e assessores? Até que ponto cada um deles segue os conselhos dos seus colaboradores mais directos? Quais as diferenças de personalidade entre o Presidente e o primeiro-ministro?
Quase todos eles chegaram à mesma conclusão: Não se prevê agitação nas águas da governação e, afinal de contas, é muito mais o que os aproxima do que aquilo que os pode separar.
Estamos de acordo.
O episódio das presidenciais, em que o PS para além dos ziguezagues e das faltas de comparência no combate ao candidato da direita, subestimou – deliberadamente? – os perigos decorrentes da eleição de Cavaco Silva, anunciava-se como que um prenúncio do que estava para vir…
De facto, estão condenados a entenderem-se.
A direita prosseguia de há muito o objectivo estratégico de se apossar do órgão de soberania Presidência da República. Concretizou finalmente o seu objectivo. É certo que o não fez sob o slogan uma maioria, um governo, um presidente mas sob o desígnio da chamada cooperação estratégica.
O grande desafio para análises futuras será o de descortinar qual deles será o melhor ajudante/cooperante na concretização dos objectivos e das políticas do «bloco central» político de interesses, que passa, a partir de agora, a ter representantes seus na base de uma outra maioria, um outro governo e um outro presidente…
Para os grandes senhores do dinheiro (Belmiro afirmou-o com todas as letras) «Sócrates é um bom primeiro-ministro e Cavaco será um excelente Presidente…». Estão satisfeitos e têm razões para isso.
Este governo que, segundo Sócrates, «ficará para a história», está a levar por diante uma política que se apresenta no discurso com alegadas preocupações sociais, mas que a direita não desdenharia realizar.
Afinal, no essencial mantém-se a mesma política, que sucessivos governos têm concretizado em alternância e que sob o manto protector de Cavaco Silva se pretende continuar e aprofundar com a tal cooperação estratégica, essa coabitação à portuguesa onde confluem, numa nova experiência, o tal «bloco central» político e dos interesses que têm conduzido o País para o desastre.

Alternativa é possível

A direita que se bateu pela eleição de Cavaco Silva ambiciona, há muito, acertar contas com o 25 de Abril e com a Constituição da República que, apesar de subvertida em inúmeras revisões na base de acordos entre o PS e PSD, ainda os incomoda profundamente. A direita pretende adulterar o regime democrático consagrado na lei fundamental do país, desferindo-lhe profundos golpes nas componentes política, social, económica e cultural.
O PS, com a sua maioria parlamentar e com o seu governo, não podia fazer melhor para abrir caminho aos propósitos da direita. É a obsessão com o défice, o ataque aos trabalhadores da administração pública e aos direitos dos trabalhadores em geral, o aumento das desigualdades sociais e do desemprego; é o desmantelamento de serviços públicos (escolas, jardins de infância, equipamentos de saúde, etc.); é a política de privatizações, a que pelo andar da carruagem, nem o Mosteiro dos Jerónimos deve escapar…
São as benesses para o grande capital, que não pára de acumular fabulosos lucros, em contraste com a carga fiscal para a generalidade dos portugueses.
Mas é também o anúncio da intenção de alterar a legislação eleitoral para a Assembleia da República e para as autarquias. É por essa razão que o PSD vai fazendo de conta que é oposição, empolando detalhes e divergências secundárias e aguardando pacientemente que o governo do PS vá adiantando o seu serviço para lhe facilitar o regresso ao poder, retomando o ciclo vicioso das falsas alternativas.
E se houvesse dúvidas acerca da consonância de objectivos no imediato, entre Cavaco Silva e José Sócrates, com o discurso de um e as declarações de outro na tomada de posse presidencial desta semana, elas ficaram desfeitas.
É, pois, num quadro complexo, em que a indignação e a revolta ganham forma, que são convocados à luta todos aqueles que não se conformam com este estado de coisas. Que acreditam ser possível contrapor ao bloco central político de interesses uma política alternativa, alicerçada numa alternativa política que é preciso construir. Na primeira linha estarão, como sempre estiveram, os comunistas e o seu Partido!


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