Análise de género na Zona do Pinhal

Luísa Araújo (Membro da Comissão Política)
Lançámos a acção 1000 Localidades com as Jornadas da Zona do Pinhal. Reflectimos vários aspectos de uma região deprimida com baixos índices de rendimento, perda de população e aumento do desemprego.

«Em Portugal há profundas desigualdades de género, que se agravam»

Dados específicos relativamente a mulheres confirmam que, em Portugal há profundas desigualdades de género e que se agravam com o retrocesso nas políticas económicas e sociais.
As sub-regiões Pinhal Litoral, Pinhal Interior Sul e Pinhal Interior Norte apresentam entre si algumas diferenças, particularmente na composição etária, na estrutura do emprego e nos indicadores do poder de compra, que confirmam a realidade nacional de um litoral mais desenvolvido e um interior mais esquecido e mais empobrecido. Contudo há traços que acompanham estas três sub-regiões no que se refere à análise de género em diferentes aspectos da realidade local.
Em termos populacionais, o Pinhal Interior é uma zona profundamente envelhecida. Na ausência de perspectivas de emprego, as gerações mais jovens procuraram outras paragens para assegurar meios de sobrevivência. O índice de envelhecimento é elevadíssimo. A média nacional é de 102% (incluindo homens e mulheres). Quanto mais envelhecida é a população maior é a percentagem de mulheres. No Pinhal Interior Norte, por cada 100 raparigas até aos 14 anos há 200 mulheres com 65 e mais anos. No Pinhal Interior Sul a situação agrava-se com a percentagem de 294%. Bastante diferente é a relação dos números no Pinhal Litoral que ultrapassam em pouco a percentagem nacional, e isto deve-se ao facto de os cinco concelhos desta sub-região (Leiria, Marinha Grande, Pombal, Porto de Mós e Batalha) serem profundamente industrializados, potenciadores de emprego, com alguma capacidade de fixar população.
O analfabetismo não afecta exclusivamente a população com mais idade mas é, contudo, nesta que a situação mais se reflecte e no seu seio são as mulheres a maioria dos que enfrentam este problema.
Tomando como exemplo três concelhos do Pinhal Interior Sul pode constatar-se que a zonas com mais atraso de desenvolvimento corresponde maior analfabetismo e que nelas a percentagem de mulheres é superior também aos índices verificados no Continente, onde 8,9% da população com mais de 10 anos é analfabeta, ocupando as mulheres 67% do total. No concelho de Mação, a taxa de analfabetismo é de 17,9%, correspondendo as mulheres a 71,4%. Nos concelhos de Ferreira do Zêzere e da Sertã, onde há taxas de analfabetismo de 16,4% e de 19,4% respectivamente, as mulheres constituem 69,6% dos analfabetos em cada um dos concelhos. Em contraste com estes números está a relação entre homens e mulheres com cursos superiores, correspondendo as mulheres a 60% em Mação, 61% em Ferreira do Zêzere e 62% na Sertã.

Emprego é sinal de progresso

A promoção, a igualdade no acesso e a estabilidade do emprego constituem um factor de progresso e de desenvolvimento integrado. Analisando números de população activa, segundo os censos de 2001, verificamos que há diferenças entre a situação nacional e a situação na zona do Pinhal. No que se refere aos trabalhadores por conta de outrem, os números no Pinhal Litoral acompanham sensivelmente os números nacionais (homens na ordem dos 54% e mulheres na ordem dos 46%). No Pinhal Interior Norte, a relação altera-se para cerca de 56% e 44% respectivamente e, no Pinhal Interior Sul, com maior discrepância, 62% e 38% respectivamente.
No emprego, as diferenças de género reflectem claramente a discriminação actual e a ausência de condições sociais para atingir qualidade de vida e participação em igualdade. As mulheres constituem nestas zonas uma percentagem elevadíssima nos desempregados, com números entre os 64% e 66% (a nível nacional, cerca de 58%). As mulheres representam 78% dos que procuram o primeiro emprego no Pinhal Interior Sul (a nível nacional, 64%).Dos trabalhadores familiares não remunerados as mulheres são 79% no Pinhal Litoral e 75% no Pinhal Interior Norte (a nível nacional, 8%).
Em média, os salários nas zonas do Pinhal Interior correspondem a três quartos da média do Continente. Entretanto, os elementos disponíveis dizem-nos que, na zona Centro, o ganho mensal das mulheres representa cerca de 71% do ganho mensal dos homens. Não sendo possível estabelecer exactamente as diferenças salariais entre homens e mulheres, estes dados permitem-nos considerar que elas são muito acentuadas.
Estes dados estatísticos, entre outros, confirmam o impacto, na população feminina, das políticas económicas e sociais. É possível alterar este caminho. Isto exige maior consciência e participação das mulheres.


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