Longe vá o agouro
O mistério da aversão de Cavaco à exposição pública das suas ideias tem afinal uma explicação, cuja foi revelada na entrevista concedida pelo próprio ao JN, em vésperas de Natal, e publicada na edição de 27 de Dezembro. O ex-primeiro-ministro está a guardar-se para quando e se chegar a Belém. «A primeira tarefa que gostaria de realizar era uma conversa longa com o primeiro-ministro», diz o candidato quando questionado sobre o primeiro trabalho que gostaria de fazer se for eleito. Convenhamos que é uma opção de tomo: falar.
É claro que, na ausência de uma bola de cristal digna de crédito, difícil é tentar antecipar o conteúdo da hipotética conversa - sobretudo porque não se entende o que obsta desde já a esse aparentemente tão desejado tète-à-tète com Sócrates -, mas pode-se tentar uma aproximação a partir das pérolas dadas na entrevista.
Generalidades à parte, como as conversas em família, os comentários dos netos, o afastamento partidário, as opções de residência e as profissões de fé na capacidade de cooperação, Cavaco levanta a ponta do véu ao falar da momentosa questão das deslocalizações de empresas estrangeiras, questão que lhe terá deixado uma pedra no sapato desde o seu consulado no governo. Quem é que já se esqueceu do célebre empreendimento Roussel, em Odemira, apontado como exemplo de «sucesso» pelo então primeiro-ministro Cavaco numa visita de Estado, cujo dono deu à sola mal os holofotes se apagaram, deixando dívidas aos trabalhadores e prejuízos ao País?
Pois deve ser isso que explica que o agora candidato a Belém defenda a criação de uma secretaria de Estado para as empresas estrangeiras, cujo titular teria com função fazer o recenseamento das ditas e fosse «de vez em quando, falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparam e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las e inverter essas motivações».
Nem mais. «Ora vocelência tem algum problema? Em que é que podemos ajudá-lo? Veja lá, não se vá embora que nos faz cá falta, se precisar de alguma coisa é só dizer, umas facilidades fiscais, um aperto na lei da greve, uns perdões para Segurança Social», etc., etc., etc., o que não falta é fórmulas de ensinar o padre nosso ao vigário.
Sócrates que se cuide, que a dar-se o desastre o epicentro do governo corre o risco de escapar de S. Bento, pois o que o homem quer é governar. Longe vá o agouro, que para pior já basta assim.
É claro que, na ausência de uma bola de cristal digna de crédito, difícil é tentar antecipar o conteúdo da hipotética conversa - sobretudo porque não se entende o que obsta desde já a esse aparentemente tão desejado tète-à-tète com Sócrates -, mas pode-se tentar uma aproximação a partir das pérolas dadas na entrevista.
Generalidades à parte, como as conversas em família, os comentários dos netos, o afastamento partidário, as opções de residência e as profissões de fé na capacidade de cooperação, Cavaco levanta a ponta do véu ao falar da momentosa questão das deslocalizações de empresas estrangeiras, questão que lhe terá deixado uma pedra no sapato desde o seu consulado no governo. Quem é que já se esqueceu do célebre empreendimento Roussel, em Odemira, apontado como exemplo de «sucesso» pelo então primeiro-ministro Cavaco numa visita de Estado, cujo dono deu à sola mal os holofotes se apagaram, deixando dívidas aos trabalhadores e prejuízos ao País?
Pois deve ser isso que explica que o agora candidato a Belém defenda a criação de uma secretaria de Estado para as empresas estrangeiras, cujo titular teria com função fazer o recenseamento das ditas e fosse «de vez em quando, falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparam e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las e inverter essas motivações».
Nem mais. «Ora vocelência tem algum problema? Em que é que podemos ajudá-lo? Veja lá, não se vá embora que nos faz cá falta, se precisar de alguma coisa é só dizer, umas facilidades fiscais, um aperto na lei da greve, uns perdões para Segurança Social», etc., etc., etc., o que não falta é fórmulas de ensinar o padre nosso ao vigário.
Sócrates que se cuide, que a dar-se o desastre o epicentro do governo corre o risco de escapar de S. Bento, pois o que o homem quer é governar. Longe vá o agouro, que para pior já basta assim.