CDU na autarquia de Alcochete

Uma vitória consistente e séria

Isabel Araújo Branco
A vitória eleitoral da CDU em Alcochete está relacionada com a campanha de reforço do PCP, segundo Luís Franco, o novo presidente da Câmara Municipal, e Virgolino Rodrigo, o responsável pela organização local do Partido. O contrário também é válido: esta sucesso contribuirá para o crescimento do PCP.
Na noite das eleições autárquicas, a primeira alegria dos muitos militantes do PCP que enchiam o centro de trabalho de Alcochete foram as sondagens que davam a vitória da CDU no Barreiro; a segunda os resultados nas várias mesas de voto daquela localidade. «Os resultados eram de tal forma esmagadores que muito cedo se percebeu que a vitória não ia fugir», recorda Luís Franco, o presidente eleito nesse dia.
Apesar de estar a chover torrencialmente, o largo à frente ao centro de trabalho estava repleto de pessoas à espera de saber os resultados. Quando se soube da vitória, uma longa caravana percorreu o concelho, em festa.«O mais fácil está feito, agora vem o pior», afirmou, já com a vitória garantida, Virgolino Rodrigo, o responsável local do PCP.
De facto, apenas três anos e nove meses de gestão do PS fragilizaram em vários aspectos a autarquia de Alcochete. A população, embora desconhecendo o buraco financeiro da Câmara Municipal, estava claramente descontente com o trabalho desenvolvido e encontrou no projecto da CDU a alternativa natural. «Tínhamos um capital de prestígio local e caminhámos para outro patamar: reafirmar que somos os mais capazes, os mais sérios e os mais competentes», diz Virgolino.
O novo projecto da coligação teve início logo em 2001, quando o PS venceu as eleições. «Iniciámos um trabalho de longo prazo de preparação e, no início de 2004, começámos um processo de auscultação dos militantes do PCP, depois alargado a simpatizantes e activistas da CDU, que culminou na identificação dos cabeças de lista à Câmara e Assembleia Municipais, apresentados em Janeiro de 2005», conta Luís Franco.
«Mantivemos o processo para a selecção de toda a equipa, com a preocupação de o processo ser o mais abrangente possível, para que ninguém pudesse dizer que tinha ficado de fora da escolha final. Isto possibilitou a criação de uma grande união em torno das listas. Apesar de poderem ter tido uma opinião diferente, as pessoas foram ouvidas e aceitaram a opção da maioria dos militantes e lutámos todos por um objectivo comum», salienta.
«Paralelamente fomos fazendo o combate político à gestão do PS, divulgámos os traços mais identificativos de uma gestão inacreditavelmente desastrosa e a nossa mensagem passou para a opinião pública porque era verdadeira. José Dias Inocêncio, o anterior presidente, era uma pessoa indisponível, incompetente, incapaz e dissimulada», acrescenta.

A terrível gestão do PS

Virgolino Rodrigo acusa a presidência do PS de ser despesista, caracterizando-se pela contratação de muitos assessores desnecessários, o crescimento astronómico das despesas de pessoal e empreendimentos megalómanos e desenquadrados.
«Foi também uma gestão arrogante, prepotente, anti-democrática e perseguidora dos direitos dos trabalhadores da autarquia, deslocalizando algum pessoal justificando a decisão com motivos políticos», afirma, dando o exemplo de funcionários dos serviços socio-culturais que foram transferidos para as piscinas e para os transportes.
«Essa gestão eliminou também o direito à dispensa de um dia por mês, no caso de não haver faltas. Em três anos e nove meses de mandato, reuniu-se apenas duas vezes com a estrutura sindical, a segunda no fim do mandato. Além disso, não respondeu a muitos pedidos de atendimento dos munícipes ou de audiências do PCP e de colectividades», acrescenta.
O responsável pela organização local do Partido vai mais longe e considera o PS de ter desenvolvido uma «política demagógica e mentirosa» à frente da autarquia. «Não inovaram e as obras que prometeram nunca foram concretizadas; consideravam exclusivamente sua cada obra concretizada no seu mandato, mesmo já estando em andamento no mandato da CDU; e afirmaram que tinha herdado um desastre financeiro, quando as finanças da CM estavam numa situação muito confortável», enumera.
«Tudo isto era dito por nós, mas também sentido pela população», refere. Daí à vitória da CDU foi um passo. «Foi uma campanha transparente, credível e extremamente participada», diz Luís Franco. «Tivemos 30, 40 pessoas permanentemente em acções de rua, às vezes 60 pessoas, sempre com a preocupação de não deixar nenhuma localidade por visitar», conta. O porta a porta e o contacto pessoal foi o meio privilegiado até porque «a comunicação social praticamente não divulgou as iniciativas da CDU».
«Fizemos um trabalho extraordinário na redacção do projecto eleitoral a partir da auscultação de pessoas, colectividades e outras organizações do concelho. Este projecto é da CDU, mas também da população», sublinha o novo presidente da câmara.

Potenciar a participação

Um dos factores com que a CDU lidou foi a mudança de eleitorado devido ao grande crescimento da população de Alcochete. «Era a maior interrogação que se colocava: se este eleitorado tinha as mesmas preocupações que o eleitorado tradicional», diz Virgolino Rodrigo. Mas, surgiu outro elemento: «Este é um concelho pequeno, em que as pessoas se conhecem e há contacto pessoal, o que torna mais fácil passar a nossa mensagem», refere Luís Franco.
Para Virgolino, existia a expectativa de mudança e a população começou a participar e a manifestar a sua opinião: «O interesse das pessoas na vida política local foi em crescendo. Fizemos as pessoas discutir o concelho. Se não houvesse interesse não tínhamos estes resultados.» «As autarquias têm de ser espaços de participação, potenciando a efectiva e crescente presença da população», defende Luís Franco.
Virgolino Rodrigo considera que «os comunistas e o Partido podem estar orgulhosos de si próprios, porque esta foi uma batalha claramente vencida e isso foi possível com a unidade e a confiança. O Partido foi a mola real desta vitória.»~

«Estamos aqui para
resolver os problemas»


Os eleitos da CDU tomaram posse no passado dia 31, mas, em menos de um mês, já desenvolveram trabalho. «Estamos aqui para resolver os problemas e vamo-los resolvendo», afirma Luís Franco.
A falta de condições e as dificuldades de acesso ao centro de saúde do Samouco constituía uma das dificuldades da população. Na semana passada, a autarquia remediou a situação: as instalações vão ser transferidas em breve para um rés-do-chão com mais condições. A decisão tem o acordo da direcção do centro de saúde de Alcochete. Ao mesmo tempo, continua programada a construção de instalações de raiz.
Outro problema resolvido foi o desbloqueamento do problema jurídico com a Santa Casa da Misericórdia relativo aos terrenos para a construção da biblioteca municipal. «Os acordos assinados anteriormente não foram assumidos pela gestão do PS, as obras foram embargadas e a CM estava a pagar uma indemnização diária ao empreiteiro por não poder utilizar as máquinas», explica Luís Franco. Prevê-se agora que a biblioteca – que deveria ter sido concluída em 2003 – estará pronta em Maio.
Outra decisão da nova maioria camarária foi a apresentação da Candidatura ao programa FORAL para aumentar a formação dos funcionários da autarquia e a reformulação da arquitectura da organização da CM.

Preocupações com as finanças

A nova equipa está ainda a avaliar as finanças da autarquia, mas Virgolino Rodrigo classifica-o já como «desastroso» e adianta que o projecto autárquico da CDU terá de ser reformulado com base na situação encontrada. As questões que agora se colocam passam pela reabilitação financeira da autarquia. «Para isso temos de entrar numa nova campanha política de informação aos munícipes», afirma.
Outra medida prioritária de intervenção interna é a racionalização dos recursos humanos. «Há áreas que estão sobrecarregadas, outras que têm défices marcantes. A gestão do PS foi pródiga na contratação de avençados que auferiam rendimentos elevadíssimos. Não critico o avençado, mas sim a política de gestão que estava a ser seguida», diz o novo presidente da autarquia.
Luís Franco mostra-se muito preocupado com as finanças da autarquia. «Temos um passivo de curto prazo elevado e um passivo de médio e longo prazo elevadíssimo, que vão condicionar a concretização integral do projecto que tínhamos para o concelho. A última gestão da CDU tinha deixado uma situação financeira claramente desafogada para, com a construção da ponte Vasco da Gama e com tudo o que daí adveio, poder desenvolver de forma sustentada o concelho. A CDU fez com que a autarquia tivesse, em Junho de 2003, uma disponibilidade de tesouraria de cerca de quatro milhões de euros», refere.

Reforço do PCP foi fundamental
para vitória da CDU


Virgolino Rodrigues considera que o sucesso eleitoral em Alcochete está relacionado com a campanha de reforço do PCP, nomeadamente com o contacto com os militantes. «Alguns não votavam há mais de dez anos, não tinham cartão de eleitor e nessa altura essas pessoas foram ganhas para voltar às urnas. Temos de conseguir um maior enquadramento dos militantes na vida do Partido. O percursor da dinâmica da CDU foi o Partido estar inteirado da vida social», defende.
O responsável concelhio do PCP afirma que esta é também uma oportunidade para reforçar ainda mais o Partido, embora possa trazer novos problemas. «Quando estávamos em minoria era mais fácil estarmos ao ataque. Agora não podemos ter a tendência de defender tudo. O perigo maior é uma natural tendência para a “autarquização” do Partido, em especial tratando-se de uma organização pequena e com poucas empresas», diz.
«A autarquia é uma parcela de poder que conquistámos e sobre a qual temos de ter uma atenção especial, mas o Partido tem de intervir na sociedade em toda a sua plenitude, mesmo nas poucas empresas que existem, no movimento associativo, nos problemas sociais... O Partido tem de continuar a preocupar-se e isso também contribui para preservar o poder autárquico conquistado», declara Virgolino Rodrigo.
Para isso foi adoptada um novo método nas reuniões: «Para eliminar a tendência no concelho para discutir apenas a autarquia – porque é um ponto apelativo –,discutimos primeiro outras questões. Não podemos permitir que o Partido deixe de se discutir a si próprio. Temos de continuar a cumprir os objectivos traçados pelo congresso, o enquadramento dos militantes, o recrutamento e a introdução de mais gente nova na direcção e nas responsabilidades do Partido. Para manter a Câmara Municipal, temos de começar por aqui», garante.
Luís Franco concorda com esta ideia: «Se o reforço do Partido foi importante para alcançarmos a vitória autárquica, a manutenção da dinâmica do Partido vai ser fundamental para o futuro e para daqui a quatro anos voltarmos a vencer as eleições, conjugado com o trabalho desenvolvido pelos eleitos.»


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