Escalada securitária
Após 20 dias de violência urbana, a polícia francesa congratula-se com o «regresso a uma situação quase normal». Não obstante, o governo aprovou na segunda-feira, dia 14, o prolongamento por três meses do recolher obrigatório.
Repressão policial é a única resposta das autoridades aos motins
Apesar do alívio sentido pela polícia, na madrugada de terça-feira, dia 15, em toda a França foram incendiados 215 veículos e detidos 71 indivíduos. Na noite anterior, tinham ardido 284 veículos e 115 pessoas haviam sido detidas.
Desde o início dos distúrbios, em 27 de Outubro, 130 pessoas foram condenadas a penas de prisão efectiva, 44 estão sob mandado de prisão e 39 menores encontram-se sob detenção. Ao todo tinham sido detidas 1123 pessoas, de acordo com um balanço divulgado no dia 9.
Sob recolher obrigatório, as ruas dos bairros «problemáticos» são patrulhadas por milhares de agentes, situação que poderá manter-se nos próximos meses já que o Governo acaba de fazer aprovar no parlamento o diploma que prolonga o prazo do estado de emergência por mais três meses.
A decisão foi contestada por todas as forças políticas situadas à esquerda da coligação governamental e questionada pelos dois sindicatos de magistrados. Para estes, o estado de emergência constitui «uma medida simbólica» e é «um sinal de uma opção por uma política guerreira», afirmou Dominque Barella, presidente da União Sindical de Magistrados (USM).
A outra organização sindical (SM), considerou a medida como atentatória de vários direitos constitucionais, nomeadamente «a liberdade de expressão, de reunião e de associação e o respeito pela vida familiar e privada» e apelou aos magistrados para que «exerçam o seu papel de garante das liberdades fundamentais», disse Côme Jacqmin, secretário-geral do Sindicato da Magistratura.
Também o bastonário da Ordem dos Advogados de Paris, Jean-Marie Burguburu, manifestou preocupação, lamentando que «uma medida de restrição das liberdades tenha sido a primeira resposta» do Governo.
Na segunda-feira, dia 14, um conjunto de associações e partidos de oposição (onde se inclui o PCF, Verdes, CGT, União de Estudantes, Attac, Lute Ouvrière, etc.) divulgaram uma posição comum contra o estado de urgência, sublinhando que «não se responde a uma crise social com um regime de excepção (...) São os anos de políticas centradas no securitarismo que estão hoje em causa (...) A verdadeira urgência nacional é substituir o estado de emergência policial por um estado de urgência social para que as acções dos governos cessem de contradizer a divisa da República».
Chirac admite
fractura social
O esperado discurso do presidente Jacques Chirac, na noite da passada segunda-feira (o primeiro desde o início da crise) não trouxe qualquer novidade. Reconhecendo que os acontecimentos destes mês «testemunham um profundo mal-estar, uma crise de senso, de referências e de identidade», o presidente considerou que «a primeira necessidade» é «restabelecer a ordem pública», justificando assim o prolongamento do estado de emergência.
Chirac quis ainda por alguma água na fervura provocada pelo seu ministro do Interior, Nicolas Sarkozy que, na quinta-feira, dia 10, telegrafou aos governadores civis ordenando-lhes que expulsassem os estrangeiros detidos nos distúrbios, incluindo os que estão legalizados.
Aos jovens dos «bairros difíceis», Chirac assegurou: «quaisquer que sejam as suas origens, são todos filhos e filhas da República». E «o dever» da República é «oferecer a todos as mesmas oportunidades».
Porém, para a redução das desigualdades, a oferta do presidente foi modesta. Limitou-se a anunciar a criação de um serviço de civil que permitirá aos voluntários que nele se inscrevam ter acesso a profissões na Defesa, na Polícia, bem como nas áreas da saúde, cultura e sector associativo. No total, o objectivo do governo é integrar 30 mil jovens até final de 2006 e 50 mil até ao fim de 2007.
Tal como a intervenção do presidente, este programa peca por tardio e insuficiente, lembraram vários representantes da oposição, notando que Chirac, no poder desde há dez anos, continua sem dar sinais de pretender romper com as políticas económicas e sociais que conduziram o país à actual situação.
Desde o início dos distúrbios, em 27 de Outubro, 130 pessoas foram condenadas a penas de prisão efectiva, 44 estão sob mandado de prisão e 39 menores encontram-se sob detenção. Ao todo tinham sido detidas 1123 pessoas, de acordo com um balanço divulgado no dia 9.
Sob recolher obrigatório, as ruas dos bairros «problemáticos» são patrulhadas por milhares de agentes, situação que poderá manter-se nos próximos meses já que o Governo acaba de fazer aprovar no parlamento o diploma que prolonga o prazo do estado de emergência por mais três meses.
A decisão foi contestada por todas as forças políticas situadas à esquerda da coligação governamental e questionada pelos dois sindicatos de magistrados. Para estes, o estado de emergência constitui «uma medida simbólica» e é «um sinal de uma opção por uma política guerreira», afirmou Dominque Barella, presidente da União Sindical de Magistrados (USM).
A outra organização sindical (SM), considerou a medida como atentatória de vários direitos constitucionais, nomeadamente «a liberdade de expressão, de reunião e de associação e o respeito pela vida familiar e privada» e apelou aos magistrados para que «exerçam o seu papel de garante das liberdades fundamentais», disse Côme Jacqmin, secretário-geral do Sindicato da Magistratura.
Também o bastonário da Ordem dos Advogados de Paris, Jean-Marie Burguburu, manifestou preocupação, lamentando que «uma medida de restrição das liberdades tenha sido a primeira resposta» do Governo.
Na segunda-feira, dia 14, um conjunto de associações e partidos de oposição (onde se inclui o PCF, Verdes, CGT, União de Estudantes, Attac, Lute Ouvrière, etc.) divulgaram uma posição comum contra o estado de urgência, sublinhando que «não se responde a uma crise social com um regime de excepção (...) São os anos de políticas centradas no securitarismo que estão hoje em causa (...) A verdadeira urgência nacional é substituir o estado de emergência policial por um estado de urgência social para que as acções dos governos cessem de contradizer a divisa da República».
Chirac admite
fractura social
O esperado discurso do presidente Jacques Chirac, na noite da passada segunda-feira (o primeiro desde o início da crise) não trouxe qualquer novidade. Reconhecendo que os acontecimentos destes mês «testemunham um profundo mal-estar, uma crise de senso, de referências e de identidade», o presidente considerou que «a primeira necessidade» é «restabelecer a ordem pública», justificando assim o prolongamento do estado de emergência.
Chirac quis ainda por alguma água na fervura provocada pelo seu ministro do Interior, Nicolas Sarkozy que, na quinta-feira, dia 10, telegrafou aos governadores civis ordenando-lhes que expulsassem os estrangeiros detidos nos distúrbios, incluindo os que estão legalizados.
Aos jovens dos «bairros difíceis», Chirac assegurou: «quaisquer que sejam as suas origens, são todos filhos e filhas da República». E «o dever» da República é «oferecer a todos as mesmas oportunidades».
Porém, para a redução das desigualdades, a oferta do presidente foi modesta. Limitou-se a anunciar a criação de um serviço de civil que permitirá aos voluntários que nele se inscrevam ter acesso a profissões na Defesa, na Polícia, bem como nas áreas da saúde, cultura e sector associativo. No total, o objectivo do governo é integrar 30 mil jovens até final de 2006 e 50 mil até ao fim de 2007.
Tal como a intervenção do presidente, este programa peca por tardio e insuficiente, lembraram vários representantes da oposição, notando que Chirac, no poder desde há dez anos, continua sem dar sinais de pretender romper com as políticas económicas e sociais que conduziram o país à actual situação.