Requintes civilizacionais

José Casanova
Ridículos, estes papagaios do Pentágono que palram na lusa comunicação social, todos iguais, gémeos no discurso e na pose, repetindo em êxtase a mentecapta oração bushiana e que, em afinado e colectivo reflexo condicionado, respondem a cada estalar de dedos do dono como os cãezinhos do Pavlov salivavam ao som da campaínha. São muitos, vegetam nos jornais ditos de referência e têm passados vários: uns foram, outrora, esquerdistas de «morte ao imperialismo, já!»; outros, de direita são e de direita foram, sendo hoje o que são por não poderem ser o que seriam se o 25 de Abril não tivesse acabado com o fascismo. Nos últimos dias temo-los visto, lido e ouvido dando pulinhos de contentamento, suspirando suspirinhos de alívio, soltando gritinhos histéricos e exibindo as raivas e os ódios que haviam acumulado enquanto, impacientes, temiam que a vitória militar do Império não viesse a concretizar-se. Tudo isto nos conduz, para já, a duas conclusões: 1) os papagaios, afinal, lá no seu deles íntimo, duvidavam daquilo que era visível para qualquer cidadão medianamente inteligente: a inevitável vitória do brutal exército imperial; e, 2), as raivas e ódios exibidos são elucidativos do que nos esperaria, a nós – homens, mulheres e jovens de esquerda, defensores da paz, da democracia, da liberdade, da justiça social - se um dia os patrões destes criados dominassem o mundo.
Com a arrogância própria de lacaios de senhores da guerra triunfantes, de bárbaros vencedores, deitam foguetes à vitória das forças super armadas do Império, festejam a derrota das forças desarmadas do Iraque, ignoram a carnificina que vitimou milhares e milhares de pessoas, acenam as cabeças, entusiasmados, perante a perspectiva de novas acções libertadoras por parte do Império, sorriem sorrisos benevolentes e compreensivos face às pilhagens em geral e à pilhagem do Museu Nacional de Bagdade em particular, enfim, cumprem exemplarmente a tarefa que lhes está cometida.
E, se necessário for e assim lhes ordenarem, jogarão a suecada da praxe, tal como os quatro soldados do Império que vimos sentados à volta de uma mesa, no saqueado Museu Nacional de Bagdade, a jogar às cartas - com um baralho em que, requinte civilizacional extremo!, as figuras são os ex-dirigentes iraquianos procurados, mortos ou vivos, pelos ocupantes.


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