Conferência Nacional – O PCP e o Poder Local

Um útil instrumento de trabalho

Vasco Cardoso (Membro da Comissão Política do PCP)
Da mesma forma em como não absolutizamos os insucessos eleitorais, interiorizando concepções derrotistas e negativistas face ao nosso trabalho colectivo, esta importante e expressiva vitória do PCP não nos deve convocar para a ideia de que não existem dificuldades no nosso trabalho autárquico, aspectos a corrigir e a melhorar na intervenção local do Partido.

Está provado que é possível inverter tendências negativas

Tal como em Fevereiro deste ano (Eleições legislativas), ficou demonstrado que é possível inverter tendências negativas no plano eleitoral. Sem absolutizar os resultados eleitorais no quadro mais geral das batalhas que o Partido trava, é hoje mais claro, que mesmo num plano mais geral de luta e resistência face ao capitalismo é possível avançar e alcançar importantes vitórias. A melhor garantia para que daqui a quatro anos seja possível avançar novamente, com posições no plano autárquico, passa por começar desde já o trabalho com os eleitos e com as populações.
Nas semanas que se seguem irão ter lugar as tomadas de posse e instalações dos órgãos municipais e para muitos eleitos esta irá tratar-se da primeira vez que irão passar por essa experiência autárquica. A CDU passou a contar com 203 eleitos em executivos municipais, 722 em assembleias municipais, 2569 em assembleias de freguesia, 32 presidências de Câmara e 245 Presidências de Juntas freguesia. No total cerca de 3500 eleitos, no entanto delegar apenas nos eleitos a responsabilidade exclusiva desta intervenção seria desperdiçar a contribuição e o trabalho de todos os outros membros do partido que militam nas organizações e intervêm em outras frentes de trabalho associativas, de massas ou de classe.
A Conferência Nacional - O PCP e o Poder Local, realizada em maio de 2003 e cujo o contributo esteve reflectido nestes resultados, mantém uma inestimável actualidade que deve ser tida em conta nas linhas de trabalho que desenvolveremos no futuro.
O trabalho nas autarquias e o exercício dos mandatos de que aí dispomos não constitui um fim em si, no qual se esgota a acção dos eleitos. Mas sim uma frente de trabalho, um espaço de intervenção e de luta, o desenvolvimento de uma tarefa que, necessariamente deve ser articulada com a acção e os objectivos gerais de luta do Partido e constituir factor de elevação da nossa influência política e social. Para tal, é importante continuar a contrariar tendências em que a intervenção partidária se dilui na intervenção autárquica, bem como, ter presente os aspectos gerais do reforço do partido (recrutamento, renovação, rejuvenescimento e funcionamento dos organismos, intervenção e organização do partido nas empresas e locais de trabalho, etc) definidos pelo XVII Congresso como elemento estruturante para garantir a presença da CDU nas autarquias e que pode ter como fonte imediata os milhares de independentes que fizeram parte das listas da CDU, bem como, os numerosos contactos que estas eleições proporcionaram.

Um projecto identificado com as aspirações populares

No início do mandato, é fundamental assegurar o cumprimento por todos os eleitos do princípio que cada um dos eleitos do PCP de não obter benefícios pessoais pelo exercício de um mandato. Constituindo uma expressão de elevada integridade política e pessoal. Factor de prevenção de manifestações de apego ou de disputa de poder inaceitável entre comunistas, e uma condição de saudável relacionamento entre os membros do Partido a quem foi confiada a tarefa e a responsabilidade de exercer um mandato.
A participação constitui também uma condição básica de uma administração democrática.. A participação é para nós comunistas um modo de conduta permanente, não uma conduta ditada por critérios de moda e conjuntura e desde logo um dever democrático de quem exerce o poder, uma condição de acerto de decisões, de aferimento das aspirações populares, de identificação com os seus principais interesses. A participação que pretendemos prosseguir reclama como condições para a sua efectiva concretização, uma política de informação e uma política de proximidade e contacto.
O trabalho em minoria, situação em que iremos intervir na maioria dos órgãos pela sua natureza — em regra exigindo em simultâneo a denúncia do que se contesta e a apresentação do que, em alternativa, se defende – e as condições em que se desenvolve – deve ter em conta a dinâmica determinante de quem detém a maioria, a visibilidade natural que daí decorre, a desproporção de meios e recursos. No entanto é possível alcançar uma qualificada intervenção política capaz de lhe dar eficácia e contribuir para a afirmação e valorização da presença comunista nessas autarquias. Caberá aqui também a assunção de pelouros nos executivos, não se confundindo com alianças políticas ou perda de autonomia e constituindo expressão de uma concepção e prática de procura de unidade em torno da resolução dos problemas concretos.
Uma palavra ainda para a questão do papel de direcção do Partido e da contribuição decisiva que é chamado a dar para o desenvolvimento do nosso trabalho local e nas autarquias. Um papel de direcção que é inseparável da inserção e da contribuição dos eleitos, que deve no seu desenvolvimento procurar assegurar um adequado acompanhamento dos eleitos e assegurar uma efectiva direcção pelos organismos locais, e constituir garantia de que a nossa acção nas autarquias se realiza de acordo com os objectivos e o projecto político do Partido. Concretizar alguns dos aspectos enunciados serão a mais sólida garantia de que daqui por quatro anos estaremos em condições de receber de forma reforçada a confiança das populações e também nisto somos e seremos diferentes.


Mais artigos de: Opinião

Dimensão internacional de uma vitória

A vitória da CDU nas eleições autárquicas de 9 de Outubro em Portugal tem uma dimensão internacional que merece ser sublinhada. Desde logo porque se trata do avanço de uma força progressista num contexto internacional profundamente desfavorável. Eleitoralmente limitado mas politicamente muito significativo. Parafraseando...

Sabe ou não?

O Primeiro-Ministro, José Sócrates, proferiu dias antes das eleições autárquicas (mais exactamente, nas comemorações do 5 de Outubro) umas declarações que vale a pena recuperar.Disse ele que «há uma conflitualidade social, relativamente às medidas do Governo, muito abaixo do que seria de esperar em Portugal», descoberta...

É a vida...

A «declaração de candidatura de Francisco Louçã» - texto que, diga-se de passagem é, politicamente velho-velhinho, ideologicamente um pouco mais idoso, e se desunha tant bien que mal na tentativa de épater les bourgeois de gauche – tem como leitmotiv o desabafo conformado de um primeiro-ministro face às adversidades: «é...

Chover no molhado

As eleições autárquicas já passaram. E, como é de costume, os fazedores de opinião e os jornais do capital onde escrevem, as tevês onde, muito «independentemente» ditam a moda, sempre com sabor a política de direita apesar das diferentes cores que os engalanam, já falam de outra coisa. Orçamento do Estado, gripe das...

Pandemónio

De um momento para o outro tornou-se virtualmente impossível folhear um jornal, sintonizar uma estação de rádio ou um canal de televisão sem que surja o espectro da gripe das aves e da sua eventual transmissão aos humanos, qual papão aterrador para infernizar ainda mais a vida das gentes.A sucessão de reuniões formais e...