Centrão e Utopia

Aurélio Santos
(peça em vários actos, reflectindo os tempos modernos.)
Personagens: Centrão e Utopia, que no decorrer da peça se descobrirá quem são.
A plateia é formada por duas alas, que por facilidade chamaremos direita e esquerda.

1º acto


A cena decorre no parque de uma cidade europeia (Berlim ou Lisboa, por exemplo).
Centrão, de cara coberta por duas máscaras, uma na face esquerda, outra na direita, que vira alternadamente para a plateia, está sentado num banco, falando sozinho.
Utopia aproxima-se, caminhando pela alameda
.
• Vens em boa hora, preciso de desabafar...
• Não dizes que sou uma ilusão? Recusas reconhecer-me quando apareço como esperança humana de um mundo melhor.
• O que digo em público aos meus eleitores, é sempre no interesse público...
• Sempre invocado quando se arma mais alguma trafulhice, no interesse dos teus mandantes.
• Não te permito...
• Sabes muito bem que o verdadeiro Poder não é o teu. Mantêm-se escondido atrás das tuas duas caras e é quem manda em ti, para arrecadar os milhões que lhe dão o estatuto de «classe dominante», enquanto proclamam que isso de classes e luta de classes acabou. E ainda têm a lata de chamar a isso «democracia e de quererem impor ao mundo esse «modelo». A ferro e fogo, se for o caso... Mas afinal, que querias desabafar?
• É que há por aí uns empates técnicos que não me deixam saber qual a cara que devo virar para a plateia...
• Com as tuas máscaras de alternância tens andado a empatar o mundo, enquanto se agravam problemas urgentes. E agora ficas embatucado com os empates técnicos. O teu modelo começa a meter água.
• Mas não há alternativas a este modêlo, toda a gente sabe isso!
• É o que tu e os teus Mandantes dizem, para espalhar o fatalismo, a resignação, a passividade, e assim ficar tudo na mesma. Ou ainda pior, sempre que podem. Até já inventaram «o fim da História»... Mas as melhores páginas da História ainda estão por escrever.
• Lá vens tu com as tuas ilusões. Utopias!
• Essa é uma das aldrabices dos teus mandantes. Bem sabes que quando More criou o meu nome, dando ao seu livro o título de «Utopia», (o lugar que não existe), quis referir-se a uma terra que ainda não havia mas que se podia conceber como lugar onde a injustiça, a miséria, a fome, o ódio, tinham sido banidos. Exactamente o contrário daquilo que os teus Mandantes têm feito no mundo. A «Utopia» de More não era um mundo impossível de existir, mas sim um mundo que é necessário criar. Talvez por isso mesmo o tenham condenado à morte.

(De tanto virar a cara para a esquerda e a direita, a cabeça de Centrão desenrosca-se. Cai no chão. Vê-se que está oca, cheia de fios eléctricos e microfones.
Não cai o pano de cena, mas cai o pano de fundo do palco, descobrindo, sentados em Bancos altos, os Mandantes que manipulavam o fantoche Centrão. A plateia invade o palco, entre palmas e apupos
.)
...
Os Actos seguintes estão por escrever.
A História não acaba aqui.


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