Em fila americana
Em estado de choque ou à beira de um ataque de nervos: assim ficaram os propagandistas do imperialismo norte-americano em Portugal quando da tragédia de Nova Orleães. Não pela dor que lhes provocou a tragédia mas, essencialmente, porque ela desnudou a imagem real do modelo de sociedade de que são panegiristas encartados. E, durante uns dias, emudeceram. Depois, refeitos do abalo, passaram ao ataque. Tarefa fácil já que, como se sabe, são (quase) só eles que ocupam o espaço e o tempo do comentário e da análise nos média e quanto ao conteúdo da prosa, tratava-se de escreverem o que sempre escrevem.
Chegaram em fila americana: o primeiro deu o mote, acusando os infiéis de «histeria anti-Bush e antiamericanismo» - e sem se rir, com argúcia e lucidez felinas, proclamou que «se há pensamento único, é aqui (neste antiamericanismo) que ele se encontra».
O segundo cruzado disparou sobre os «antiamericanos militantes», os que «condenam as desigualdades americanas» e garantiu que «a novíssima Orleães que ressurgirá muito proximamente» há-de deixar-nos a todos de bocas abertas de espanto.
Ao terceiro dia, já vinham aos pares. Um – que, como todos os que o antecederam e todos os que se lhe seguiram, tem lugar cativo nos média – afirmou, acusador, que «na nossa comunicação social e em vários dos nossos colunistas mantém-se latente o ódio à América» - e fez questão de informar: «Para que conste, sou amigo cordial, admirador (não cego) e grato da América». O outro, após acusar a «cultura mediática» de «se entregar à tarefa mais ociosa e inútil: denunciar responsáveis e ralhar com culpados», decidiu que não há culpados: o que há, ensina, é «uma dimensão irredutível e inelutável da nossa vulnerabilidade», ou seja, «o poder humano é minúsculo perante a catástrofe». E esta!?
Seguiu-se-lhe um afamado propagandista que esmagou os média com a acusação de terem dado uma «lição de desinformação, exagero, falta de regras, ética duvidosa» - e garantiu que, afinal, só houve «400 mortos»... e que «o essencial da cidade não foi destruído nem danificado e que a cidade voltará à sua vida num curto espaço de tempo».
E todos eles sabem que a tragédia de Nova Orleães apenas confirmou que o capitalismo, por razões óbvias, não está vocacionado para salvar vidas. Se for necessário, de um instante para o outro, tirar a vida a milhares de pessoas, seja onde for, aí sim, o sistema será célere e eficaz.
Chegaram em fila americana: o primeiro deu o mote, acusando os infiéis de «histeria anti-Bush e antiamericanismo» - e sem se rir, com argúcia e lucidez felinas, proclamou que «se há pensamento único, é aqui (neste antiamericanismo) que ele se encontra».
O segundo cruzado disparou sobre os «antiamericanos militantes», os que «condenam as desigualdades americanas» e garantiu que «a novíssima Orleães que ressurgirá muito proximamente» há-de deixar-nos a todos de bocas abertas de espanto.
Ao terceiro dia, já vinham aos pares. Um – que, como todos os que o antecederam e todos os que se lhe seguiram, tem lugar cativo nos média – afirmou, acusador, que «na nossa comunicação social e em vários dos nossos colunistas mantém-se latente o ódio à América» - e fez questão de informar: «Para que conste, sou amigo cordial, admirador (não cego) e grato da América». O outro, após acusar a «cultura mediática» de «se entregar à tarefa mais ociosa e inútil: denunciar responsáveis e ralhar com culpados», decidiu que não há culpados: o que há, ensina, é «uma dimensão irredutível e inelutável da nossa vulnerabilidade», ou seja, «o poder humano é minúsculo perante a catástrofe». E esta!?
Seguiu-se-lhe um afamado propagandista que esmagou os média com a acusação de terem dado uma «lição de desinformação, exagero, falta de regras, ética duvidosa» - e garantiu que, afinal, só houve «400 mortos»... e que «o essencial da cidade não foi destruído nem danificado e que a cidade voltará à sua vida num curto espaço de tempo».
E todos eles sabem que a tragédia de Nova Orleães apenas confirmou que o capitalismo, por razões óbvias, não está vocacionado para salvar vidas. Se for necessário, de um instante para o outro, tirar a vida a milhares de pessoas, seja onde for, aí sim, o sistema será célere e eficaz.