Convergências
A propaganda e a realidade, quando se trata da política de direita e/ou de submissão ao capital e ao imperialismo, são absolutamente divergentes. Assim como divergem as promessas eleitorais da prática governativa. Assim como divergem as miragens das imagens – ainda assim, as miragens reflectem, com a «divergência» que os espelhos usam, as imagens verdadeiras.
Quando nos enfiaram na CEE – com a pompa e a circunstância das cerimónias realizadas nos claustros dos Jerónimos, onde Mário Soares assinou a abertura das fronteiras de Portugal ao capital europeu – a coisa foi celebrada com efusão pelo que o País e o povo português iriam ganhar. E certamente que alguns portugueses ganharam, e muito, com a operação. Houve toda a espécie de subsídios na agricultura – para arrancar árvores; para exterminar gado; para deixar de produzir. Nas pescas, houve subsídios para destruir a frota e, a seguir, foram tomadas medidas para proteger o ambiente, isto é, estabelecendo-se cotas de pesca em que os outros ganham e os portugueses perdem. Os supermercados e os mercados menos super foram invadidos pelos coloridos e pouco saborosos produtos estrangeiros. Os têxteis – tão obsoletos que eles eram! – quase foram liquidados. A Liberdade(!) passou a reinar e toda a gente a aplaudir as auto-estradas, o fim dos caminhos de ferro, as rotundas de cem em cem metros. A qualidade de vida chegava finalmente a Portugal, a este cantinho ibérico tão desprezado antes mas tão respeitado hoje, que até o europeu de futebol cá se realizou, com novos estádios e bandeiras a drapejar em quase todas as janelas.
Chegámos mesmo a ser um «oásis», segundo Cavaco, que nos inscreveu no «pelotão da frente».
No entanto...
No entanto, outros números, mais reais do que a propaganda, começaram a fazer reflectir muita gente. E hoje, num momento em que a crise económica atinge o conjunto da União Europeia e já povos inteiros dizem não a uma Constituição que, se fosse aprovada, tornaria ainda mais periféricos os países onde se não concentra o poder e a riqueza do capital europeu, a convergência prometida está cada vez mais longe. Houve momentos em que seria preciso esperar algumas décadas para que tal convergência se verificasse. Hoje é admitido por insuspeitos estudos, que faltará mais de cem anos para que Portugal atinja a média do produto interno bruto da UE. Segundo um estudo divulgado pelo Semanário Económico, «a manter-se o ritmo das últimas três décadas, 111 anos é o tempo que demorará» o País a atingir a tão almejada paridade do poder de compra.
E querem ver que há ainda aqui algum optimismo? É porque não acreditamos, pelo andar da carruagem, que o ritmo dessa aproximação, que é actualmente de 0,3 por cento ao ano, possa manter-se tão... acelerado!
Quando nos enfiaram na CEE – com a pompa e a circunstância das cerimónias realizadas nos claustros dos Jerónimos, onde Mário Soares assinou a abertura das fronteiras de Portugal ao capital europeu – a coisa foi celebrada com efusão pelo que o País e o povo português iriam ganhar. E certamente que alguns portugueses ganharam, e muito, com a operação. Houve toda a espécie de subsídios na agricultura – para arrancar árvores; para exterminar gado; para deixar de produzir. Nas pescas, houve subsídios para destruir a frota e, a seguir, foram tomadas medidas para proteger o ambiente, isto é, estabelecendo-se cotas de pesca em que os outros ganham e os portugueses perdem. Os supermercados e os mercados menos super foram invadidos pelos coloridos e pouco saborosos produtos estrangeiros. Os têxteis – tão obsoletos que eles eram! – quase foram liquidados. A Liberdade(!) passou a reinar e toda a gente a aplaudir as auto-estradas, o fim dos caminhos de ferro, as rotundas de cem em cem metros. A qualidade de vida chegava finalmente a Portugal, a este cantinho ibérico tão desprezado antes mas tão respeitado hoje, que até o europeu de futebol cá se realizou, com novos estádios e bandeiras a drapejar em quase todas as janelas.
Chegámos mesmo a ser um «oásis», segundo Cavaco, que nos inscreveu no «pelotão da frente».
No entanto...
No entanto, outros números, mais reais do que a propaganda, começaram a fazer reflectir muita gente. E hoje, num momento em que a crise económica atinge o conjunto da União Europeia e já povos inteiros dizem não a uma Constituição que, se fosse aprovada, tornaria ainda mais periféricos os países onde se não concentra o poder e a riqueza do capital europeu, a convergência prometida está cada vez mais longe. Houve momentos em que seria preciso esperar algumas décadas para que tal convergência se verificasse. Hoje é admitido por insuspeitos estudos, que faltará mais de cem anos para que Portugal atinja a média do produto interno bruto da UE. Segundo um estudo divulgado pelo Semanário Económico, «a manter-se o ritmo das últimas três décadas, 111 anos é o tempo que demorará» o País a atingir a tão almejada paridade do poder de compra.
E querem ver que há ainda aqui algum optimismo? É porque não acreditamos, pelo andar da carruagem, que o ritmo dessa aproximação, que é actualmente de 0,3 por cento ao ano, possa manter-se tão... acelerado!