Três palavras, um sistema
«Atirar a matar»: eis a ordem dada pelo governo de Blair à polícia britânica. E seria difícil dizer tanto com tão poucas palavras. Mais do que uma ordem, estas três palavras constituem um lema - o lema do sistema dominante – e sintetizam exemplarmente a situação de crescente violência, de crescente brutalidade, de crescente desrespeito pelos direitos humanos, que hoje pesa sobre o mundo. O terrorismo e o combate ao terrorismo - irmãos de sangue, geradores de morte e tão estreitamente ligados que se alimentam um ao outro - são o melhor pretexto, na situação actual, para, democraticamente, flagelar a democracia com a ordem de «atirar a matar» sobre tudo o que conteste, ponha em causa, combata o sistema dominante; «atirar a matar» sobre tudo o que belisque os interesses dos donos do mundo; «atirar a matar» sempre em nome da democracia, da liberdade, dos direitos humanos. E da modernidade. É uma ordem que, consoante a situação, pode significar: ou a destruição brutal de vidas, ou a liquidação, igualmente brutal, de direitos dos trabalhadores, ou o empobrecimento, também brutal, da democracia – ou tudo isso em conjunto, numa complementaridade feita à exacta medida do sistema.
«Atirar a matar»: contra um qualquer cidadão, emigrante terceiro mundista de preferência, que se desloque de «modo suspeito» e transporte «uma mochila» - sete balas na cabeça, sete palmos de terra e um caixão e um pedido de desculpas diplomáticas são, na emergência, a receita individual, personalizada, do sistema dominante.
«Atirar a matar»: contra um qualquer povo que o sistema quer dominado, domado e integrado – neste caso a receita é familiar, geral: milhares de toneladas de bombas, centenas de milhares de inocentes mortos, o país ocupado.
Mas as três palavras da ordem do sistema assumem múltiplas e diversificadas expressões. Atente-se nessa outra forma de «atirar a matar» que é explorar povos e países provocando a morte, à fome, todos os dias, de dezenas de milhares de pessoas – neste caso trata-se, obviamente, da rotina, do normal funcionamento do sistema. Rotina é, igualmente, «atirar a matar» sobre os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e dos cidadãos, empobrecer todos os dias a democracia, provocar profundas regressões civilizacionais. A morte, nas sua múltiplas expressões, mostra-nos todos os dias a imensa criatividade deste sistema feito de três palavras.
«Atirar a matar»: contra um qualquer cidadão, emigrante terceiro mundista de preferência, que se desloque de «modo suspeito» e transporte «uma mochila» - sete balas na cabeça, sete palmos de terra e um caixão e um pedido de desculpas diplomáticas são, na emergência, a receita individual, personalizada, do sistema dominante.
«Atirar a matar»: contra um qualquer povo que o sistema quer dominado, domado e integrado – neste caso a receita é familiar, geral: milhares de toneladas de bombas, centenas de milhares de inocentes mortos, o país ocupado.
Mas as três palavras da ordem do sistema assumem múltiplas e diversificadas expressões. Atente-se nessa outra forma de «atirar a matar» que é explorar povos e países provocando a morte, à fome, todos os dias, de dezenas de milhares de pessoas – neste caso trata-se, obviamente, da rotina, do normal funcionamento do sistema. Rotina é, igualmente, «atirar a matar» sobre os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e dos cidadãos, empobrecer todos os dias a democracia, provocar profundas regressões civilizacionais. A morte, nas sua múltiplas expressões, mostra-nos todos os dias a imensa criatividade deste sistema feito de três palavras.