«Velhos tempos»
Arriscando-me a que um dia destes algum jornal da cada vez mais escassa panóplia de folhas venha a considerar este texto como escrita saudosista da autoria de um perigoso dinossauro estalinista, gostaria, ainda assim de recordar algo da minha experiência pessoal, não encontrada em folhetos de propaganda mas no lugar dos factos. Sempre que fui a Moscovo em trabalho dei por mim a constatar o que muitos antes de mim já tinham visto. Bastava apanhar o metro para a gente se deparar com uma espécie de biblioteca ambulante. Não eram apenas jornais e revistas mas livros, geralmente forrados para que o manuseamento os não estragasse, que entretinham os passageiros. Cheguei a fazer as contas e a dar conta de que, por vezes e a certas horas, mais de metade de cada carruagem enfiava o nariz num livro, aproveitando as dezenas de minutos que a viagem durava. Por todo o lado se lia – nos transportes ou nos jardins, quando o tempo de Verão o permitia. Ou em casa. Ou nas bibliotecas. E os muitos museus – casas vivas de cultura – estavam cheios, com bichas a dar a volta aos quarteirões. E esgotados se apresentavam os inúmeros cinemas ou outras casas de espectáculos.
Hoje já não é assim. Felizmente, dirão os mais ferrenhos da modernidade digital. Mas a cultura continua a poder medir-se em livros – os de «gestão» também, mas não só – e não em shows da SIC ou da TVI. Um artigo esclarecedor do correspondente da agência EFE em Moscovo dá conta da situação actual. Escreveu há dias Ignacio Ortega, citando a Associação de Livreiros da Rússia, que «mais de metade dos russos não compram livros e ignoram os clássicos da literatura». E refere o lamento de uma professora de teatro: «Antes era obrigatória a leitura de Dostoyevski, Gogol e Tolstoi para entrar na universidade. Agora nenhum estudante pode recitar de memória um poema de Pushkin.»
Nos caminhos da «modernidade», Portugal também vai à frente, com a recente reforma que arredou Camões e outros tantos dinossauros da língua em detrimento dos actualíssimos recortes de jornais. Progresso é progresso, Abril está velho e o socialismo não interessa?
O jornalista, referindo que apenas 23 por cento de russos se considera leitor habitual de livros, contra 37 por cento que confessa nunca ler, recorda o tempo em que as autoridades soviéticas consideravam a URSS como o país «mais leitor do planeta», comparando-o com os tempos modernos, em que 80 por cento dos russos nunca vão a uma biblioteca nem têm um livro em casa. Até um empresário alemão se queixa; «Só é preciso andar de metro para verificar que agora só se vêem novelas policiais e latas de cerveja nos passeios»...
Ainda assim, os americanos, revela o artigo, ainda lêem menos que os russos. Mas estes lá chegarão...
Hoje já não é assim. Felizmente, dirão os mais ferrenhos da modernidade digital. Mas a cultura continua a poder medir-se em livros – os de «gestão» também, mas não só – e não em shows da SIC ou da TVI. Um artigo esclarecedor do correspondente da agência EFE em Moscovo dá conta da situação actual. Escreveu há dias Ignacio Ortega, citando a Associação de Livreiros da Rússia, que «mais de metade dos russos não compram livros e ignoram os clássicos da literatura». E refere o lamento de uma professora de teatro: «Antes era obrigatória a leitura de Dostoyevski, Gogol e Tolstoi para entrar na universidade. Agora nenhum estudante pode recitar de memória um poema de Pushkin.»
Nos caminhos da «modernidade», Portugal também vai à frente, com a recente reforma que arredou Camões e outros tantos dinossauros da língua em detrimento dos actualíssimos recortes de jornais. Progresso é progresso, Abril está velho e o socialismo não interessa?
O jornalista, referindo que apenas 23 por cento de russos se considera leitor habitual de livros, contra 37 por cento que confessa nunca ler, recorda o tempo em que as autoridades soviéticas consideravam a URSS como o país «mais leitor do planeta», comparando-o com os tempos modernos, em que 80 por cento dos russos nunca vão a uma biblioteca nem têm um livro em casa. Até um empresário alemão se queixa; «Só é preciso andar de metro para verificar que agora só se vêem novelas policiais e latas de cerveja nos passeios»...
Ainda assim, os americanos, revela o artigo, ainda lêem menos que os russos. Mas estes lá chegarão...