Eles andam por aí

José Casanova
Andam por aí uns historiadores cheios de saudades do passado. Um dia destes, o fascistão contador de estórias José Hermano Saraiva – que tem lugar cativo na televisão pública – bramava contra o 25 de Abril que, diz ele, acabou com a liberdade. E incitava a uma «reacção sadia» para que as coisas entrem nos eixos. Pensava, certamente, na «reacção sadia» que foi a dele quando, ministro do fascismo, se celebrizou pela repressão brutal sobre os estudantes, com a ocupação da universidade pelos gorilas da Pide e por outros cães polícias.
Uns dias antes, uma dama gémea do primeiro nas ideias e na profissão – esta com lugar cativo no Público – havia-se atirado aos trabalhadores e aos sindicatos como gata a bofe, com um argumentário que trazia à memória textos da Época fascista. Não dizendo nada que, sobre a matéria, não tivesse já sido dito pela legião de escribas ao serviço do grande capital, a historiadora, M. Fátima Bonifácio de sua graça, derramou-se em insultos e ameaças a todos os que ousam assumir os direitos que a Constituição lhes confere. O patrão ideológico da historiadora há-de ter aplaudido. Os trabalhadores, esses, continuaram a lutar.
Na passada segunda-feira, a historiadora Bonifácio voltou a atacar. Desta vez, o alvo foi o secretário geral do PCP que, em entrevista recente ao Público, cometeu o crime grave que é, segundo a velha senhora, reafirmar o objectivo do PCP de construir em Portugal uma sociedade livre, liberta de todas as formas de opressão e de exploração. Mais e pior: Jerónimo de Sousa ousou ainda, vejam bem!, ter «uma radiosa visão do futuro», coisa que irritou sobremaneira a historiadora Bonifácio que foge do futuro como o Diabo da cruz e para quem tudo quanto cheire a progresso, justiça social direitos dos trabalhadores, é coisa para ser esconjurada ou, se possível, encarcerada – além de que, argumenta demolidora, se o Banco de Portugal traçou «um quadro sombrio para a economia portuguesa» como é que alguém se atreve a falar em futuro radioso e, pior do que isso, a lutar por esse futuro?.
Nos dois textos, a historiadora Bonifácio não faz história: mente, deturpa, manipula, mistifica, calunia, insulta, ofende, ameaça e, sobretudo, desnuda um pensamento tão reaccionário, retrógrado e cavernícola que divertiria se não soubéssemos que transporta consigo o ovo da serpente. Cuidado, eles andam por aí.


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