Obscena franqueza
Dúvidas houvesse sobre o acerto e actualidade da afirmação de Marx e Engels, no Manifesto Comunista, a propósito da distribuição do rendimento na sociedade burguesa em que constata que «os que nela trabalham não ganham, e os que nela ganham não trabalham» bastaria olhar para a proposta de redução em 10% dos salários dos trabalhadores portugueses apresentada por Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI. Segundo a criatura, esta medida, destinada a combater com eficácia o défice orçamental, não só é necessária — agora que, como reconhece, o país perdeu, com a adesão ao euro, a liberdade da fixar o valor da taxa cambial — como, com ela, «o país ganhava tempo, porque melhorava muito no imediato.»
Obscena e atrevida proposta esta de quem, na mesma semana em que a defendeu, o banco a que preside apresentou, neste primeiro semestre, um recorde de lucros traduzido em mais de 22% e 107 milhões de contos. Obscena e atrevida proposta esta da parte de quem, confrontado com os astronómicos salários e regalias de gestores e administradores, remata a questão com a fulminante justificação de que isso «é um problema dos accionistas» e que se isso se fizesse «a redução ia para o bolso dos accionistas»! Donde para o caso presente, mais vale o fruto do árduo labor executivo ir parar ao seu bolso, e de quem como ele gere e administra, do que ir para o saco dos accionistas; para o caso de todos os outros que vivem do seu trabalho, mais vale cortar-lhes no salário sem olhar aos bolsos de quem irá parar o excedente dos acrescidos lucros que dali adviriam.
Aduzida que seja a esta abismal franqueza de um dos altos dignitários do capital financeiro, dois outros singelos exemplos — o da empresa Lear que se decidiu deslocalizar e lançar no desemprego uma centenas de trabalhadores não por falta de encomendas mas com o argumento de estar com um excedente de produção ou os argumentos dos que sustentam residir na exiguidade da remuneração dos titulares dos cargos políticos a dificuldade de para aí atrair a desejada qualidade e produtividade enquanto rosnam contra uma alegada falta de produtividade da massa de trabalhadores que vendem a sua força de trabalho a troco de baixos salários — despida fica em toda a sua crueldade um sistema que faz da exploração de uma larga maioria a razão de sucesso e opulência de uma minoria.
Obscena e atrevida proposta esta de quem, na mesma semana em que a defendeu, o banco a que preside apresentou, neste primeiro semestre, um recorde de lucros traduzido em mais de 22% e 107 milhões de contos. Obscena e atrevida proposta esta da parte de quem, confrontado com os astronómicos salários e regalias de gestores e administradores, remata a questão com a fulminante justificação de que isso «é um problema dos accionistas» e que se isso se fizesse «a redução ia para o bolso dos accionistas»! Donde para o caso presente, mais vale o fruto do árduo labor executivo ir parar ao seu bolso, e de quem como ele gere e administra, do que ir para o saco dos accionistas; para o caso de todos os outros que vivem do seu trabalho, mais vale cortar-lhes no salário sem olhar aos bolsos de quem irá parar o excedente dos acrescidos lucros que dali adviriam.
Aduzida que seja a esta abismal franqueza de um dos altos dignitários do capital financeiro, dois outros singelos exemplos — o da empresa Lear que se decidiu deslocalizar e lançar no desemprego uma centenas de trabalhadores não por falta de encomendas mas com o argumento de estar com um excedente de produção ou os argumentos dos que sustentam residir na exiguidade da remuneração dos titulares dos cargos políticos a dificuldade de para aí atrair a desejada qualidade e produtividade enquanto rosnam contra uma alegada falta de produtividade da massa de trabalhadores que vendem a sua força de trabalho a troco de baixos salários — despida fica em toda a sua crueldade um sistema que faz da exploração de uma larga maioria a razão de sucesso e opulência de uma minoria.