Alemanha

Antifascistas na lista negra

Partidos e organizações de vários países condenam a decisão do governo alemão de incluir a Federação Internacional das Associações dos Resistentes Antifascistas (FIR) na lista dos «inimigos da Constituição», catalogando-a como uma «organização extremista de esquerda».

Governo alemão ofende combatentes e memória das vítimas do nazi-fascismo

A denúncia foi feita por Ulrich Schnelder, secretário-geral da FIR, após tomar conhecimento de que os serviços secretos alemães (Bundesamt fur Verfassugsschutz), subordinados ao Ministério do Interior, no seu relatório de 2004, qualificaram daquela forma a organização antifascista, criada por antigos combatentes da Segunda Guerra Mundial, com décadas existência e actividade.
Ulrich Schnelder salienta que não existe qualquer indício ou prova de actividades antidemocráticas desenvolvidas pela FIR, tendo por isso solicitado por escrito ao Ministério Federal do Interior a eliminação daquela referência no relatório. Contudo, até ao momento, o governo alemão manteve um preocupante silêncio.
Apelando à solidariedade internacional na condenação de tal escândalo político, a FIR pede quer aos membros associados, quer a outras organizações e personalidades reconhecidas internacionalmente, que expressem o seu protesto junto do Parlamento Europeu ou directamente para o governo federal.

Repúdio
internacional


Manifestando a sua indignação, o Secretariado do CC do PCP endereçou uma mensagem ao presidium da FIR, na qual sublinha que a decisão do governo alemão «revela um claro desrespeito para com as vítimas do fascismo e com todos os que se lhe opuseram e inscreve-se numa campanha internacional de revisão e falsificação da História, tanto mais inadmissível quanto exactamente este ano os povos comemoram o 60.º da vitória sobre o nazi-fascismo».
«O PCP, que se orgulha de ter dado um decisivo contributo na luta de resistência à ditadura fascista de Salazar e Caetano em Portugal durante uns longos 48 anos, não pode deixar manifestar o seu mais veemente protesto e condenação perante tão inaudita, como inaceitável medida e expressa a sua solidariedade com a FIR, bem como com todos os combatentes antifascistas do mundo inteiro».
Tal solidariedade, acrescenta a nota divulgada na segunda-feira, 25, «mais se justifica quando face ao acto ilegítimo das autoridades alemãs se vê recrudescer, em contrapartida, a actividade das forças de extrema direita perante a passividade e tolerância dos responsáveis políticos daquele país».
Por seu lado, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), que é membro associado da FIR, considerou «inacreditável que se ofenda os combatentes e a memória dos que deram a vida pela causa da liberdade e da democracia».
Numa declaração distribuída na terça-feira, 26, a URAP manifesta «grande apreensão» face a «tão fortes indícios de repressão antidemocrática, que nos recorda os episódios mais negros da história da Alemanha nazi» e sublinha que «tudo fará para denunciar este acto indigno e para que o nome da FIR seja reposto no lugar de honra onde sempre esteve e é considerado pelo mundo democrático».

Um acto
provocatório


Em resposta ao apelo da FIR, o Partido Comunista da Grécia (KKE) emitiu uma nota através da sua secção internacional, em que qualifica a decisão do governo alemão como um acto «inaceitável» e «provocatório».
Por seu turno, o Partido Comunista do Chile, solidarizando-se com a FIR, condenou o Estado alemão, acusando-o se «colocar do lado dos que foram responsáveis pelo holocausto» ao «atacar os que lutaram contra o terrorismo nazi». Numa nota divulgada na quinta-feira, 21, o PCC salienta ainda que a decisão das autoridades alemães, revelando sinais «antidemocráticos, de segregação e de intolerância», incentiva e legitima «as organizações fascistas e nazis que têm vindo a surgir e a fortalecer-se no seu território e noutros países da Europa e mesmo na América Latina».
Também o secretário do Conselho Mundial da Paz, Irakis Tsavdaridis, condenando a inclusão da FIR na lista das organizações extremistas, manifesta a convicção de que «aqueles que tentam reescrever a História não terão êxito». Por outro lado, acrescenta, «o acto do governo germânico não só constitui um insulto aos combatentes veteranos, ao movimento de resistência e aos seus ideais, mas também é revelador do conceito de extremismo que os governos do moderno mundo ocidental estão a adoptar».


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