Fraude e abuso de confiança

Corrupção na Volkswagen

Peter Hartz, o inspirador das reformas do governo de Gerhard Schroeder que destruíram o sistema de protecção social alemão, demitiu-se do cargo de director de recursos humanos da Volkswagen, na sexta-feira, dia 8, na sequência de um escândalo de corrupção.

VW é acu­sada de «com­prar» mem­bros do co­mité de em­presa

Em meados de Junho, um inquérito interno provocou a demissão do director de recursos humanos da Skoda, filial checa do construtor automóvel alemão. Helmuth Schuster foi acusado, segundo a imprensa alemã, de ter montado uma rede de empresas fictícias, dirigidas por pessoas da sua confiança, com as quais o grupo Volkswagen firmou contratos.
De acordo com o jornal Süd­deutsche Zei­tung, de dia 5, citado pelo diário francês, Le Monde, foram descobertas empresas na Índia, Angola, na República Checa, no Luxemburgo e na Suíça. Através da sua holding, sediada neste último país, Schuster terá recebido recentemente três milhões de euros em subornos no âmbito da instalação de uma unidade da Volkswagen na Índia, projecto que foi congelado pelo grupo até ao apuramento dos factos.
No início da passada semana, a VW apresentou queixa por tráfico de influências e enriquecimento pessoal contra Helmuth Schuster e Klaus Joachim Gebauer, este último um quadro da direcção de pessoal que teria como missão o «acompanhamento» do Comité de Empresa, dispondo de um orçamento de vários milhões de euros para «despesas de representação».
Ainda na semana passada, a imprensa revelou que o secretário do comité de empresa da Volkswagen, Klaus Volkert, de 62 anos, figura influente no seio do poderoso sindicato IG Metall, estava a ser investigado no quadro do inquérito interno. Confrontado com notícias que o ligavam a uma das empresas de Schuster, o sindicalista admitiu ter colaborado com uma firma em Praga. Na sexta-feira, dia 1, Volkert demite-se, alegando ter atingido a idade da reforma.
O diário de Frankfurt, Süd­deutsche Zei­tung, afirma que a administração da VW presenteou por várias vezes os membros do comité de empresa, cedendo-lhes um jacto privado para viagens de lazer ou pagando-lhes os favores de prostitutas em deslocações para conferências ou eventos da empresa.

A queda de Peter Hartz

O escândalo adquire contornos políticos depois de o ministro-presidente da Baixa-Saxónia, o conservador Christianh Wulff, ter posto em causa o director dos recursos humanos da VW, Peter Hartz, membro de longa data do SPD e do IG Metall, bem como um próximo do chanceler Gerhard Schröeder.
Na terça-feira, dia 5, Wulff foi directo ao assunto declarando que «ninguém é sacrossanto, ninguém recebe um certificado de brancura, ninguém recebe uma absolvição enquanto decorrer a investigação judicial. E como alguns concernem à competência do senhor Hartz, é preciso investigar deixando o resultado em aberto».
No mesmo dia, Hartz refuta os ataques, qualificando de «absurdas» as suspeitas lançadas pela imprensa de que os membros do comité de empresa estariam comprados. «Ninguém na administração conhecia tais práticas» e «ninguém as teria autorizado», afirmou o responsável.
Contudo, a posição de Peter Hartz depressa se tornou insustentável. Não podia ignorar o facto de dois dos seus colaboradores, Schuster e Gebauer, estarem envolvidos num caso de fraude e abuso de confiança: «O que está em jogo ultrapassa a minha pessoa. O que está em jogo é a reputação da Volkswagen, pela qual sinto que tenho uma responsabilidade muito particular», disse Hartz na sexta-feira, explicando as razões da sua demissão.
Gerhard Schroeder, que antes de ser chanceler foi também administrador da Volkswagen, lamentou a saída de Hartz, considerando que este «fez muito pela Alemanha», aludindo à sua contribuição para a série de reformas do mercado de trabalho e do sistema de protecção social (leis Hartz I a IV) que foram alvo de forte contestação social em 2004.
Recorde-se que em Janeiro último, a Volkswagen foi abalada por outro escândalo, sendo obrigada a reconhecer que continuava a remunerar antigos quadros que entretanto tinham sido eleitos para cargos políticos.
O Estado da Baixa-Saxónia detém 13,7 por cento do capital do grupo VW e 18,2 por cento dos direitos de voto, controlando de facto o maior construtor automóvel europeu.


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