A alma e a luta de um povo combatente
A Organização Regional de Beja realizou, mais uma vez, a Festa Alentejana. Alegria, música, cultura, debate político e afirmação comunista foram os principais ingredientes. E para o ano há mais!
Catarina Eufémia assume-se como um estímulo para os comunistas alentejanos
Vindos de todo o País, comunistas e amigos encontraram-se em Beja, no passado fim-de-semana, para mais uma edição da Festa Alentejana. Mas a diversidade dos participantes não tirou à Festa Alentejana o seu carácter profundamente… alentejano!
Os odores, as pronúncias, os paladares, os ritmos lentos e cadenciandos (como lento e cadenciado é o trabalho do campo), as memórias de lutas passadas, as reivindicações presentes, tudo era Alentejo. E falar de Alentejo e de povo alentejano é falar de opressão e de exploração, mas também de luta e de dignidade… e do PCP, que se mantém firmemente implantado na região e no seu povo.
Mas se o passado estava presente na Festa era como estímulo para as lutas do presente e do futuro, como era o caso da exposição sobre a luta dos trabalhadores alentejanos, intitulada «Reforma Agrária – uma ideia actual». Com as terras abandonadas ou entregues a grandes proprietários ou à agro-indústria, com o desemprego e a desertificação a fazerem parte do dia-a-dia, uma mais justa repartição de terras mantém-se uma exigência actual e viva no coração dos alentejanos, que lutam também pela plena utilização de Alqueva, que devia estar há muito a regar os campos da região. Campos agrícolas, entenda-se, e não de golfe, porque esses estão verdejantes e viçosos.
Searas vermelhas
A cultura marcou – como é normal nas festas dos comunistas – forte presença na Festa Alentejana. Para além da gastronomia, a música foi predominante. No desfile de coros – vindos de várias zonas do Alentejo e de outras regiões para onde os alentejanos foram obrigados a ir, em busca de pão e trabalho – os cânticos cadenciados falavam de amor, mas também de trabalho e da busca pelo pão, nos campos ou nas minas.
No espaço dos colóquios, falou-se da edição – da Cooperativa Cultural Alentejana – de «Poesias», de Francisco Miguel Duarte, dirigente histórico do PCP e natural de Baleizão. No debate, lembrou-se a faceta poética do comunista de Baleizão: Um poeta que cantava o povo e a sua labuta diária, as crianças e os seus sorrisos, a luta por um mundo livre de exploração. No palco, a música popular portuguesa marcou forte presença. Cá em baixo, todos – alentejanos ou não – dançavam alegremente, pois é de alegria que é feita a luta por um mundo melhor.
Jerónimo de Sousa no comício de encerramento
Vamos ter mais do mesmo
No comício de encerramento da Festa Alentejana, Jerónimo de Sousa alertou para as medidas que o Governo prepara que, embrulhadas no discurso da «pedagogia do sacrifício», trará mais do mesmo, ou seja, mais cortes nos salários e pensões, mais peso fiscal sobre os pequenos e médios empresários. Tal como no «discurso da tanga», utilizado pelo governo anterior, esta «pedagogia» vem prejudicar ainda mais os que já pagam com as medidas neoliberais prosseguidas.
Para Jerónimo de Sousa, o «premeditado dramatismo à volta dos resultados da “Comissão Constâncio” e sobre o real valor do défice orçamental que, com ensaiado espanto, se prevê e anuncia ser muito pior do que se supunha, está a servir de pretexto não só para desresponsabilizar o novo Governo dos seus compromissos eleitorais de garantir o prometido melhoramento das condições de vida do povo, como para justificar e preparar uma nova ofensiva contra os salários, o emprego e os direitos dos trabalhadores». Outros eixos destes ataques são os serviços públicos e o agravamento dos impostos indirectos que, «como se sabe, são os mais injustos de todos».
Seguindo uma atitude – realmente – pedagógica, o secretário-geral do PCP afirmou ser preciso explicar porque é que «depois de todos estes últimos anos a pedir sacrifícios aos mesmos de sempre, particularmente aos trabalhadores e aos reformados, com a promessa de mais adiante estar garantido um futuro radioso de desenvolvimento económico e de desafogo a situação está pior do que estava antes»?. Para o dirigente comunista, a resposta é simples e prende-se com a aposta na «mesma desastrosa política e nas mesmas gastas soluções de favorecimento de actividades especulativas e de concentração da riqueza nas mãos de uma minoria». Política que o PS e o seu Governo parecem querer prosseguir, denunciou.
E desafiou o Governo a explicar porque é que a economia não cresce – apesar dos aparentemente necessários sacrifícios –, apesar do brutal aumento de lucros por parte das grandes empresas e dos grandes grupos económicos. E recordou que o País desceu 13 lugares no ranking da competitividade.
Antes do secretário-geral, tomou da palavra o responsável pela Organização Regional de Beja, António Vitória, que destacou o trabalho feito pelas autarquias CDU e recordou os importantes projectos pelos quais a região espera: o Aeroporto de Beja, o aproveitamento pleno de Alqueva, entre outros. Francisco Santos, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Beja, realçou a importância da regionalização para o desenvolvimento da região e lembrou as suas origens humildes. Actualmente médico cirurgião, o candidato comunista afirmou a plenos pulmões: «Sou o mesmo homem de sempre.» Sara Bravo, da JCP, destacou a importância da juventude – e dos comunistas em particular – para as lutas pelas reivindicações dos jovens portugueses e por um Alentejo mais desenvolvido.
Chamava-se Catarina… e vive!
«Aqui jaz Catarina Eufémia, nascida a 13-2-1928, camponesa e militante do Partido Comunista Português, assassinada pelos fascistas quando encabeçava a luta dos trabalhadores de Baleizão por melhores jornas em 19 de Maio de 1954», lê-se na campa da revolucionária alentejana, sepultada (apenas depois do 25 de Abril) no cemitério da terra que a viu nascer… e morrer. Os cravos vermelhos abundam e muitos foram os que, na manhã de domingo, trouxeram flores para homenagear a comunista que pagou com a vida a sua luta por melhores condições de vida para si e para os seus companheiros, e, desta forma, desafiar o fascismo português e os grandes agrários que o suportavam.
Mas Catarina permanece viva e a prova está nas largas centenas de pessoas que, uma vez mais, se deslocaram à aldeia alentejana para homenagear a mártir comunista no largo com o seu nome. E sobretudo, continuando a sua luta por uma melhor vida para os trabalhadores alentejanos.
No largo, na caixa de um tractor, o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa (que desfilou desde o cemitério, junto com centenas de outros camaradas) destacou o «exemplo de luta e de coragem de uma mulher que se tornou símbolo e orgulho do proletariado agrícola do Alentejo e de todo o povo trabalhador que luta por um mundo melhor e mais justo». Para Jerónimo de Sousa, evocar Catarina Eufémia é evocar «todos aqueles que lutaram pelo pão, pela liberdade, pela dignidade do homem e da mulher e todos aqueles que nas mais diversas condições não desistem da luta pela transformação social».
O Alentejo mudou desde os tempos de Catarina, lembrou o dirigente do PCP. «Mas não mudou na essência a luta que travamos pelo mesmo direito ao pão, ao trabalho e ao desenvolvimento económico e social desta sempre combativa e digna região.»
Os odores, as pronúncias, os paladares, os ritmos lentos e cadenciandos (como lento e cadenciado é o trabalho do campo), as memórias de lutas passadas, as reivindicações presentes, tudo era Alentejo. E falar de Alentejo e de povo alentejano é falar de opressão e de exploração, mas também de luta e de dignidade… e do PCP, que se mantém firmemente implantado na região e no seu povo.
Mas se o passado estava presente na Festa era como estímulo para as lutas do presente e do futuro, como era o caso da exposição sobre a luta dos trabalhadores alentejanos, intitulada «Reforma Agrária – uma ideia actual». Com as terras abandonadas ou entregues a grandes proprietários ou à agro-indústria, com o desemprego e a desertificação a fazerem parte do dia-a-dia, uma mais justa repartição de terras mantém-se uma exigência actual e viva no coração dos alentejanos, que lutam também pela plena utilização de Alqueva, que devia estar há muito a regar os campos da região. Campos agrícolas, entenda-se, e não de golfe, porque esses estão verdejantes e viçosos.
Searas vermelhas
A cultura marcou – como é normal nas festas dos comunistas – forte presença na Festa Alentejana. Para além da gastronomia, a música foi predominante. No desfile de coros – vindos de várias zonas do Alentejo e de outras regiões para onde os alentejanos foram obrigados a ir, em busca de pão e trabalho – os cânticos cadenciados falavam de amor, mas também de trabalho e da busca pelo pão, nos campos ou nas minas.
No espaço dos colóquios, falou-se da edição – da Cooperativa Cultural Alentejana – de «Poesias», de Francisco Miguel Duarte, dirigente histórico do PCP e natural de Baleizão. No debate, lembrou-se a faceta poética do comunista de Baleizão: Um poeta que cantava o povo e a sua labuta diária, as crianças e os seus sorrisos, a luta por um mundo livre de exploração. No palco, a música popular portuguesa marcou forte presença. Cá em baixo, todos – alentejanos ou não – dançavam alegremente, pois é de alegria que é feita a luta por um mundo melhor.
Jerónimo de Sousa no comício de encerramento
Vamos ter mais do mesmo
No comício de encerramento da Festa Alentejana, Jerónimo de Sousa alertou para as medidas que o Governo prepara que, embrulhadas no discurso da «pedagogia do sacrifício», trará mais do mesmo, ou seja, mais cortes nos salários e pensões, mais peso fiscal sobre os pequenos e médios empresários. Tal como no «discurso da tanga», utilizado pelo governo anterior, esta «pedagogia» vem prejudicar ainda mais os que já pagam com as medidas neoliberais prosseguidas.
Para Jerónimo de Sousa, o «premeditado dramatismo à volta dos resultados da “Comissão Constâncio” e sobre o real valor do défice orçamental que, com ensaiado espanto, se prevê e anuncia ser muito pior do que se supunha, está a servir de pretexto não só para desresponsabilizar o novo Governo dos seus compromissos eleitorais de garantir o prometido melhoramento das condições de vida do povo, como para justificar e preparar uma nova ofensiva contra os salários, o emprego e os direitos dos trabalhadores». Outros eixos destes ataques são os serviços públicos e o agravamento dos impostos indirectos que, «como se sabe, são os mais injustos de todos».
Seguindo uma atitude – realmente – pedagógica, o secretário-geral do PCP afirmou ser preciso explicar porque é que «depois de todos estes últimos anos a pedir sacrifícios aos mesmos de sempre, particularmente aos trabalhadores e aos reformados, com a promessa de mais adiante estar garantido um futuro radioso de desenvolvimento económico e de desafogo a situação está pior do que estava antes»?. Para o dirigente comunista, a resposta é simples e prende-se com a aposta na «mesma desastrosa política e nas mesmas gastas soluções de favorecimento de actividades especulativas e de concentração da riqueza nas mãos de uma minoria». Política que o PS e o seu Governo parecem querer prosseguir, denunciou.
E desafiou o Governo a explicar porque é que a economia não cresce – apesar dos aparentemente necessários sacrifícios –, apesar do brutal aumento de lucros por parte das grandes empresas e dos grandes grupos económicos. E recordou que o País desceu 13 lugares no ranking da competitividade.
Antes do secretário-geral, tomou da palavra o responsável pela Organização Regional de Beja, António Vitória, que destacou o trabalho feito pelas autarquias CDU e recordou os importantes projectos pelos quais a região espera: o Aeroporto de Beja, o aproveitamento pleno de Alqueva, entre outros. Francisco Santos, candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Beja, realçou a importância da regionalização para o desenvolvimento da região e lembrou as suas origens humildes. Actualmente médico cirurgião, o candidato comunista afirmou a plenos pulmões: «Sou o mesmo homem de sempre.» Sara Bravo, da JCP, destacou a importância da juventude – e dos comunistas em particular – para as lutas pelas reivindicações dos jovens portugueses e por um Alentejo mais desenvolvido.
«Aqui jaz Catarina Eufémia, nascida a 13-2-1928, camponesa e militante do Partido Comunista Português, assassinada pelos fascistas quando encabeçava a luta dos trabalhadores de Baleizão por melhores jornas em 19 de Maio de 1954», lê-se na campa da revolucionária alentejana, sepultada (apenas depois do 25 de Abril) no cemitério da terra que a viu nascer… e morrer. Os cravos vermelhos abundam e muitos foram os que, na manhã de domingo, trouxeram flores para homenagear a comunista que pagou com a vida a sua luta por melhores condições de vida para si e para os seus companheiros, e, desta forma, desafiar o fascismo português e os grandes agrários que o suportavam.
Mas Catarina permanece viva e a prova está nas largas centenas de pessoas que, uma vez mais, se deslocaram à aldeia alentejana para homenagear a mártir comunista no largo com o seu nome. E sobretudo, continuando a sua luta por uma melhor vida para os trabalhadores alentejanos.
No largo, na caixa de um tractor, o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa (que desfilou desde o cemitério, junto com centenas de outros camaradas) destacou o «exemplo de luta e de coragem de uma mulher que se tornou símbolo e orgulho do proletariado agrícola do Alentejo e de todo o povo trabalhador que luta por um mundo melhor e mais justo». Para Jerónimo de Sousa, evocar Catarina Eufémia é evocar «todos aqueles que lutaram pelo pão, pela liberdade, pela dignidade do homem e da mulher e todos aqueles que nas mais diversas condições não desistem da luta pela transformação social».
O Alentejo mudou desde os tempos de Catarina, lembrou o dirigente do PCP. «Mas não mudou na essência a luta que travamos pelo mesmo direito ao pão, ao trabalho e ao desenvolvimento económico e social desta sempre combativa e digna região.»