Miméticos & provisórios

Carlos Gonçalves
O CDS-PP teve este fim-de-semana o seu Congresso para alegadamente resolver a crise decorrente da demissão do «chefe» P.Portas na noite da derrota nas legislativas. E não parece que tenha feito mais que adiar a questão da liderança efectiva e de, sob a aparência de «debate ideológico», consolidar o escopo de ideias e objectivos mais estruturantes da extrema direita parlamentar.
O CDS-PP é um partido cujo «código genético» remonta a sectores do aparelho fascista e colonial, a que a Revolução de Abril impôs que se «travestissem» do «centrismo» e «democracia cristã». Os seus trinta anos são feitos de «desenvolvimentos teóricos» ultra-liberais, de populismo, xenofobia, «patriotismo» retórico e autoritarismo securitário, com laivos fascizantes. A sua base social foi mudando do campo para a cidade, mas sempre nos sectores mais reaccionários da média e grande burguesia a que se juntou uma casta de «yupies» do «vale tudo», em que os tão exaltados «valores perenes» são mero instrumento do marketing político e do «político-banditismo» da «Moderna».
P.Portas tornou-se o «chefe» incontestado e o verdadeiro «alter-ego» do CDS-PP, feito partido unipessoal, usado no bolso do colete do líder, instrumento da sua ambição de «refundar» a direita sob o seu comando. E os quadros do CDS-PP de P.Portas foram emergindo, nestes anos, como clones e «tropa de choque» do seu projecto, em que o próprio partido é, obviamente, descartável.
Por isso P.Portas se demitiu, para que a travessia do deserto dos partidos da direita - em que compete ao PS o governo ao serviço da direita dos interesses – não o impedisse de «andar por aí», a preparar as forças e apoios do seu projecto, como fez D.Barroso, numa universidade-sociedade-secreta dos USA.
E por isso, com P.Portas omnipresente, a liderança não ficou de facto resolvida no Congresso. Há dois meses que Telmo Correia foi escolhido por P.Portas e consensualizado nos «miméticos», mas foi impedido de assumir distâncias e de se fazer passar por «chefe» e por isso abandonado e trocado, por razões de «estilo pessoal» por Ribeiro e Castro, a coberto dum putativo «regresso ao CDS», que não comporta quaisquer diferenças reais – nem de ideias, nem de orientação.
Porque estava tudo decidido. Porque a «nova liderança» pode ser a «mais breve» da história do CDS-PP, como explicitamente afirmou o agora Presidente do CDS-PP. Miméticos & provisórios – à espera que volte o verdadeiro «chefe».


Mais artigos de: Opinião

Gases

O chamado «gás natural» implantou-se a todo o vapor no dealbar do século e do milénio pela zona da Grande Lisboa e hoje já cozinha e aquece em pelo menos 400 mil habitações, que é como quem diz já serve 400 mil utilizadores, todos clientes da «Lisboagás», a empresa que se constituiu para implementar este novo...

Reforçar o Partido nas empresas e locais de trabalho – uma tarefa inadiável

O grau de exigência de cada uma delas é enorme, o que implica uma forte concentração de forças e de esforços, capaz de responder a questões tão exigentes como a resposta política e de massas aos graves problemas sociais que atingem a classe operária, os trabalhadores e o País e a constituição de milhares de listas para...

Tentações....

Em tempo de comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio é difícil não centrar as atenções no nosso país, no nosso povo, mesmo quando se observa a evolução da situação internacional.Quando falamos da Revolução de Abril as palavras, «Participação Popular», «Democracia», «Constituição» têm um peso e importância muito...

Um bloco de causas adiadas

Lê-se por aí que no rescaldo do debate parlamentar sobre o aborto, o PSD se mostra triunfante, sem o assumir publicamente, por ter visto “ adiada a questão para as «calendas»”. A expressão pode ser suficiente para avaliar do resultado final. Mas será insuficiente para ajuizar com mais rigor as opções adoptadas e...

Amigos como dantes

Não foi preciso muita explicação para que o arrojado esquerdista Freitas do Amaral voltasse ao redil dos discípulos bem comportados do tio Sam. Um lugar no Governo, a visita de Bush à Europa e uma ou duas intervenções, com Condoleezza Rice a servir de ponto, garantindo que o unilateralismo já era e que a cooperação com...