Um bloco de causas adiadas
Lê-se por aí que no rescaldo do debate parlamentar sobre o aborto, o PSD se mostra triunfante, sem o assumir publicamente, por ter visto “ adiada a questão para as «calendas»”. A expressão pode ser suficiente para avaliar do resultado final. Mas será insuficiente para ajuizar com mais rigor as opções adoptadas e identificar responsabilidades que permitiram à direita, e aos apoiantes da criminalização das mulheres portuguesas, recuperar a voz e a sua secular arrogância dois meses após uma expressiva derrota eleitoral.
O «cantar vitória da direita» é inseparável da opção que PS e BE assumiram de relegar para um referendo o que com toda a legitimidade, eficácia e prontidão a Assembleia da Republica podia ter resolvido. Assim foi. Porque para o PS, com uma longa história de cedências e de dupla cara quanto à matéria, esta é a decisão que melhor conduz a um lavar de mãos e à possibilidade de manter a questão prisioneira do acordo celebrado por Guterres com o PSD em 1998. E porque para o BE as «causas» só o são na medida em que delas possa resultar qualquer crédito que possa alimentar o seu inesgotável egoísmo partidário. Para o BE a eficácia e o êxito das causas pelas quais diz lutar são subsidiárias face ao protagonismo que em alternativa julgue delas poder obter proveito. Mesmo que daí resulte comprometê-las ou levá-las à derrota. Foi assim, num passado recente, com a ilusão alimentada pelo lançamento de uma petição para convocar um referendo, à boleia do qual o PS suporta agora, invocando coerência com então, a não assunção das sua responsabilidades políticas. E é agora de novo, estendendo ao PS e à direita, em simultâneo, o tapete pelo qual pode vir a passar o adiamento de uma solução que tarda e envergonha o país e a democracia. No BE mora, sob a capa do radicalismo mais inconsequente, um indisfarçável taticismo próprio do oportunismo político. O argumento usado por Ana Drago em defesa do referendo (por alternativa à aprovação da Lei no Parlamento) de que esta podia conduzir ao «risco de ter sobre esta lei algum tipo de guerrilha por parte da direita» é um monumento ao oportunismo e ao radicalismo mais infantil. Para o BE os caminhos que melhor serviriam esta causa seriam aqueles que beneficiassem da compreensão dos seus inimigos e aplacassem a ira da direita mais reaccionária e conservadora. De uma penada o BE não só dá mostras da mais irresponsável subestimação da direita e do impiedoso e retrógrado arsenal dos partidários da criminalização da mulher, como lhe devolve o campo político que as eleições de Fevereiro passado lhe havia retirado. Como a vida testemunha, as cedências à direita, seja por razões de conveniência ou imaturidade, longe de lhe comprarem a simpatia têm-se traduzido sempre em novos e arrogantes avanços contra direitos e conquistas sociais.
O «cantar vitória da direita» é inseparável da opção que PS e BE assumiram de relegar para um referendo o que com toda a legitimidade, eficácia e prontidão a Assembleia da Republica podia ter resolvido. Assim foi. Porque para o PS, com uma longa história de cedências e de dupla cara quanto à matéria, esta é a decisão que melhor conduz a um lavar de mãos e à possibilidade de manter a questão prisioneira do acordo celebrado por Guterres com o PSD em 1998. E porque para o BE as «causas» só o são na medida em que delas possa resultar qualquer crédito que possa alimentar o seu inesgotável egoísmo partidário. Para o BE a eficácia e o êxito das causas pelas quais diz lutar são subsidiárias face ao protagonismo que em alternativa julgue delas poder obter proveito. Mesmo que daí resulte comprometê-las ou levá-las à derrota. Foi assim, num passado recente, com a ilusão alimentada pelo lançamento de uma petição para convocar um referendo, à boleia do qual o PS suporta agora, invocando coerência com então, a não assunção das sua responsabilidades políticas. E é agora de novo, estendendo ao PS e à direita, em simultâneo, o tapete pelo qual pode vir a passar o adiamento de uma solução que tarda e envergonha o país e a democracia. No BE mora, sob a capa do radicalismo mais inconsequente, um indisfarçável taticismo próprio do oportunismo político. O argumento usado por Ana Drago em defesa do referendo (por alternativa à aprovação da Lei no Parlamento) de que esta podia conduzir ao «risco de ter sobre esta lei algum tipo de guerrilha por parte da direita» é um monumento ao oportunismo e ao radicalismo mais infantil. Para o BE os caminhos que melhor serviriam esta causa seriam aqueles que beneficiassem da compreensão dos seus inimigos e aplacassem a ira da direita mais reaccionária e conservadora. De uma penada o BE não só dá mostras da mais irresponsável subestimação da direita e do impiedoso e retrógrado arsenal dos partidários da criminalização da mulher, como lhe devolve o campo político que as eleições de Fevereiro passado lhe havia retirado. Como a vida testemunha, as cedências à direita, seja por razões de conveniência ou imaturidade, longe de lhe comprarem a simpatia têm-se traduzido sempre em novos e arrogantes avanços contra direitos e conquistas sociais.