O «ajustamento»
«A greve levanta problemas em áreas muito específicas, que temos vindo a superar com alguns ajustamentos», afirmou o presidente da RTP, Almerindo Marques, após garantir aos berros e com murros na mesa que «não negociava sob pressão», elegância democrática com que classifica o direito à greve que todos os trabalhadores da RTP, dirigidos por três sindicatos, desencadearam durante três dias no início desta semana, porque esta administração, nomeada pelo anterior governo de direita PSD/CDS, se recusa a aceitar as alterações à proposta de novo Acordo Colectivo de Trabalho.
Os «ajustamentos» de que fala Almerindo Marques levaram à suspensão do programa matinal da RTP-1 «Bom Dia Portugal» - que, durante toda a manhã, foi substituído pelo canal europeu «Euronews» -, empurraram o Jornal da Tarde da RTP-1 para os estúdios do Porto - porque não havia um só jornalista ou técnico ao serviço em Lisboa - e, mesmo no Porto, teve de ser o director de informação, José Alberto Carvalho, a apresentar, com o subdirector e os coordenadores a inserir caracteres e a fazer misturas - porque também não havia ninguém disponível -, sendo esse Jornal da Tarde fundamentalmente preenchido com «directos» para Roma, onde os «enviados especiais» Fátima Campos Ferreira e Esteves Martins se esfalfaram a exibir, ao vivo, a honesta arte jornalística de encher chouriços, entrevistando interminavelmente qualquer padre ou eclesiástico apanhados a jeito na Praça de S. Pedro, em Roma, para, com eles, tratarem da momentosa adivinhação – não por «avistamento», como fazia o garboso ministro da Defesa Paulo Portas, mas por «palpite» - do que se estaria a passar no interior do conclave cardinalício. À noite, o mesmo José Alberto Carvalho desdobrou-se pelos dois telejornais da RTP-1 e do canal 2:, sendo que ambas as emissões foram de novo enriquecidas com a nobre arte do enchido, sempre prosseguida à volta do conclave de Roma, à falta dos directos da CNN na guerra do Iraque onde, como é sabido, a mortandade diária já não constitui novidade que valha uma cobertura permanente. A par disto, a RTP-Açores transmitiu pela primeira vez a programação do canal 2: porque não teve qualquer programação própria, à semelhança do que também aconteceu na RTP-Madeira.
Isto só no primeiro dia de greve, segunda-feira.
Como «ajustamento», não está mal...
Entretanto, no segundo dia de greve – altura em que estamos a escrever – as adesões maciças de todos os trabalhadores da RTP à greve continuaram não apenas firmes, como se acentuaram, o que só agravou o caos nas programações das várias emissões do canal público de televisão, com as chefias de Redacção a alinhavarem telejornais com «directos» de Roma e uns retalhos manhosos comprados a operadores privados, mais o noticiário da manhã substituído pelas graçolas do padre Borga e seus amigos do «Bom Dia Portugal», que lá cozinharam aquilo com uns tarefeiros a recibo verde e bico calado, naturalmente.
Apesar do silenciamento ditatorial da administração da RTP e da suspeitosa «discrição» com que está a ser noticiada pelos outros canais privados de televisão – onde os trabalhadores se queixam de arbitrariedades e explorações semelhantes às que estão a ser impostas na RTP -, esta greve é absolutamente histórica, na vida da televisão pública, quer pela sua duração de três dias, quer pela adesão maciça que, espectacularmente, a tem concretizado.
Só isso, é já uma vitória espectacular.
E isso prova – mais uma vez - que a lut
Os «ajustamentos» de que fala Almerindo Marques levaram à suspensão do programa matinal da RTP-1 «Bom Dia Portugal» - que, durante toda a manhã, foi substituído pelo canal europeu «Euronews» -, empurraram o Jornal da Tarde da RTP-1 para os estúdios do Porto - porque não havia um só jornalista ou técnico ao serviço em Lisboa - e, mesmo no Porto, teve de ser o director de informação, José Alberto Carvalho, a apresentar, com o subdirector e os coordenadores a inserir caracteres e a fazer misturas - porque também não havia ninguém disponível -, sendo esse Jornal da Tarde fundamentalmente preenchido com «directos» para Roma, onde os «enviados especiais» Fátima Campos Ferreira e Esteves Martins se esfalfaram a exibir, ao vivo, a honesta arte jornalística de encher chouriços, entrevistando interminavelmente qualquer padre ou eclesiástico apanhados a jeito na Praça de S. Pedro, em Roma, para, com eles, tratarem da momentosa adivinhação – não por «avistamento», como fazia o garboso ministro da Defesa Paulo Portas, mas por «palpite» - do que se estaria a passar no interior do conclave cardinalício. À noite, o mesmo José Alberto Carvalho desdobrou-se pelos dois telejornais da RTP-1 e do canal 2:, sendo que ambas as emissões foram de novo enriquecidas com a nobre arte do enchido, sempre prosseguida à volta do conclave de Roma, à falta dos directos da CNN na guerra do Iraque onde, como é sabido, a mortandade diária já não constitui novidade que valha uma cobertura permanente. A par disto, a RTP-Açores transmitiu pela primeira vez a programação do canal 2: porque não teve qualquer programação própria, à semelhança do que também aconteceu na RTP-Madeira.
Isto só no primeiro dia de greve, segunda-feira.
Como «ajustamento», não está mal...
Entretanto, no segundo dia de greve – altura em que estamos a escrever – as adesões maciças de todos os trabalhadores da RTP à greve continuaram não apenas firmes, como se acentuaram, o que só agravou o caos nas programações das várias emissões do canal público de televisão, com as chefias de Redacção a alinhavarem telejornais com «directos» de Roma e uns retalhos manhosos comprados a operadores privados, mais o noticiário da manhã substituído pelas graçolas do padre Borga e seus amigos do «Bom Dia Portugal», que lá cozinharam aquilo com uns tarefeiros a recibo verde e bico calado, naturalmente.
Apesar do silenciamento ditatorial da administração da RTP e da suspeitosa «discrição» com que está a ser noticiada pelos outros canais privados de televisão – onde os trabalhadores se queixam de arbitrariedades e explorações semelhantes às que estão a ser impostas na RTP -, esta greve é absolutamente histórica, na vida da televisão pública, quer pela sua duração de três dias, quer pela adesão maciça que, espectacularmente, a tem concretizado.
Só isso, é já uma vitória espectacular.
E isso prova – mais uma vez - que a lut