O absoluto
Embasbacado, o povo português ouviu em directo na televisão o ex-Primeiro-Ministro António Guterres dizer umas coisas extraordinárias (acrescente-se que a oração foi feita em pleno CCB, com o engenheiro Sócrates, enlevadíssimo, ao lado e a sala atulhada de «notáveis» do PS).
Segundo ele, é «vital para o País que das eleições saia um Governo com maioria absoluta», apostando que «nesta altura só o PS tem condições de a obter» e rematando que, se o PS não conseguir a tal maioria absoluta, seria mesmo «preferível que outros tivessem».
Ou seja, se o PS não conseguir a maioria absoluta (apesar de «nesta altura» só o PS «ter condições de a obter»), António Guterres prefere que o PSD a obtenha.
Uma conclusão ressalta, obviamente, destes peregrinos raciocínios vindos do ex-Primeiro-Ministro do PS.
A que, para António Guterres, a única novidade positiva a esperar das próximas eleições será a do eleitorado a dar a alguém a maioria absoluta, sendo que esse «alguém» tanto pode ser o PS como o PSD. Para Guterres tanto faz.
Talvez inadvertidamente, o ex-secretário-geral do PS acabou assim a confessar o que sempre lhe habitou a alma – a convicção de que o «seu» PS e o PSD são, em substância e no essencial, a mesmíssima coisa.
É sempre bom ouvi-lo da boca do próprio, embora o País bem o tivesse visto, sentido e constatado ao longo dos seis anos do consulado de Guterres, onde ficou exposto - na saciedade dos factos - como a sua governação se esmerou a prosseguir e a aprofundar o essencial da política de direita realizada por Cavaco Silva (com relevo para as privatizações a todo o vapor e nenhuma defesa dos interesses do Estado e do País), restaurando implacavelmente os privilégios das elites capitalistas que a Revolução de Abril abalara – isto mesmo sem as tais «maiorias absolutas» onde Cavaco, nelas sentado, foi confortavelmente ditando o desastre ao longo de 10 anos.
Agora, imagine-se o que o PS de Guterres – e de Sócrates, seu estremecido delfim – não fariam com a rédea solta duma maioria absoluta...
Fica, assim, igualmente descodificado o pretexto invocado por Guterres para reclamar a maioria absoluta – o de que «Portugal vive uma situação complexa, incompatível com a instabilidade política».
Para Guterres, a «estabilidade» política é, simplesmente, o PS ou o PSD (tanto dá...) terem pulso livre para impor o que os capitalistas não apenas exigem, mas já ordenam, como descaradamente se viu nestes malfadados governos da coligação PSD/CDS (a quem, curiosamente, nem Guterres nem Sócrates atacam substantivamente), onde se chegou ao desplante de colocar em ministérios-chave, como a Saúde, o Trabalho ou a Segurança Social, flagrantes comissários dos grandes interesses privados.
Sendo conhecido o carácter fugidio do governante Guterres, escarolado com alguma impudicícia na sua fuga precipitada do último Governo que chefiou, pode conceder-se-lhe alguma tolerância nestes raciocínios admitindo que, por trás deles, estará a convicção de que uma maioria absoluta lhe evitaria o desconforto de nova evasão.
Puro engano. Cavaco Silva teve duas maiorias absolutas consecutivas e acabou a fugir aos bordos, tropeçando na própria pressa.
Com tudo isto, onde fica a «candidatura de esquerda» com que, à viva-força, querem coroar Guterres a caminho de Belém?
Segundo ele, é «vital para o País que das eleições saia um Governo com maioria absoluta», apostando que «nesta altura só o PS tem condições de a obter» e rematando que, se o PS não conseguir a tal maioria absoluta, seria mesmo «preferível que outros tivessem».
Ou seja, se o PS não conseguir a maioria absoluta (apesar de «nesta altura» só o PS «ter condições de a obter»), António Guterres prefere que o PSD a obtenha.
Uma conclusão ressalta, obviamente, destes peregrinos raciocínios vindos do ex-Primeiro-Ministro do PS.
A que, para António Guterres, a única novidade positiva a esperar das próximas eleições será a do eleitorado a dar a alguém a maioria absoluta, sendo que esse «alguém» tanto pode ser o PS como o PSD. Para Guterres tanto faz.
Talvez inadvertidamente, o ex-secretário-geral do PS acabou assim a confessar o que sempre lhe habitou a alma – a convicção de que o «seu» PS e o PSD são, em substância e no essencial, a mesmíssima coisa.
É sempre bom ouvi-lo da boca do próprio, embora o País bem o tivesse visto, sentido e constatado ao longo dos seis anos do consulado de Guterres, onde ficou exposto - na saciedade dos factos - como a sua governação se esmerou a prosseguir e a aprofundar o essencial da política de direita realizada por Cavaco Silva (com relevo para as privatizações a todo o vapor e nenhuma defesa dos interesses do Estado e do País), restaurando implacavelmente os privilégios das elites capitalistas que a Revolução de Abril abalara – isto mesmo sem as tais «maiorias absolutas» onde Cavaco, nelas sentado, foi confortavelmente ditando o desastre ao longo de 10 anos.
Agora, imagine-se o que o PS de Guterres – e de Sócrates, seu estremecido delfim – não fariam com a rédea solta duma maioria absoluta...
Fica, assim, igualmente descodificado o pretexto invocado por Guterres para reclamar a maioria absoluta – o de que «Portugal vive uma situação complexa, incompatível com a instabilidade política».
Para Guterres, a «estabilidade» política é, simplesmente, o PS ou o PSD (tanto dá...) terem pulso livre para impor o que os capitalistas não apenas exigem, mas já ordenam, como descaradamente se viu nestes malfadados governos da coligação PSD/CDS (a quem, curiosamente, nem Guterres nem Sócrates atacam substantivamente), onde se chegou ao desplante de colocar em ministérios-chave, como a Saúde, o Trabalho ou a Segurança Social, flagrantes comissários dos grandes interesses privados.
Sendo conhecido o carácter fugidio do governante Guterres, escarolado com alguma impudicícia na sua fuga precipitada do último Governo que chefiou, pode conceder-se-lhe alguma tolerância nestes raciocínios admitindo que, por trás deles, estará a convicção de que uma maioria absoluta lhe evitaria o desconforto de nova evasão.
Puro engano. Cavaco Silva teve duas maiorias absolutas consecutivas e acabou a fugir aos bordos, tropeçando na própria pressa.
Com tudo isto, onde fica a «candidatura de esquerda» com que, à viva-força, querem coroar Guterres a caminho de Belém?