A insustentável clareza da coisa
Para tranquilidade de umas quantas inquietas consciências a pergunta para o referendo sobre o novo tratado está aprovada. Notável esforço, diga-se, só possível por tão coesa e desprendida coligação de interesses que PS e PSD representam em matéria de políticas de integração, para dar à luz tão engenhosa pergunta. A missão parece assim estar cumprida e as aparências ressalvadas. Tudo o resto serão trocos.
A pergunta é imperceptível? Nada que uma boa legião de insignes letristas, peritos da língua portuguesa, criptógrafos de mérito ou meros decifradores de charadas não possa remediar para ultrapassar esta incorrigível iliteracia de que os portugueses dão mostras, perante, segundo o líder parlamentar do PS, tão «clara, objectiva e precisa questão».
A pergunta conduz a um referendo sem objectivo nem consequências? Nada que os autores ignorem ou que os inquiete por aí além. No meio da trapalhada que o referendo se ameaça transformar o que menos conta é o resultado que dele se pretende seriamente retirar. Quer morra desde logo pela inconstitucionalidade da pergunta, quer chegue ao momento dos votos, o que importa é fazer de conta, para salvar as aparências.
Sob o mote dado por uma pergunta que sabem profundamente enganosa e mistificatória — questionar os portugueses se estão de acordo com uma carta de direitos ignorando o que de substancial o tratado coloca em matéria de alienação e transferência de soberania — o que os autores da mesma preparam é uma campanha, não para debater com seriedade o que está em jogo, mas sim para a fazerem resvalar para a demagógica dicotomia entre os que seriam a favor ou contra a Europa.
A gravidade do que propõe o novo tratado, o seu significado para o futuro da União Europeia e de cada um dos países membros, para o futuro de Portugal, exigem uma esclarecida, séria e soberana participação do povo português. A inequívoca importância e necessidade de os portugueses serem chamados a pronunciar-se sobre o que está efectivamente em causa não pode ser ludibriada por quaisquer tentativas de simulacro de um referendo construído na base de perguntas capciosas e indutoras do resultado pretendido pelos partidos que apoiam os actuais rumos da integração europeia.
A pergunta é imperceptível? Nada que uma boa legião de insignes letristas, peritos da língua portuguesa, criptógrafos de mérito ou meros decifradores de charadas não possa remediar para ultrapassar esta incorrigível iliteracia de que os portugueses dão mostras, perante, segundo o líder parlamentar do PS, tão «clara, objectiva e precisa questão».
A pergunta conduz a um referendo sem objectivo nem consequências? Nada que os autores ignorem ou que os inquiete por aí além. No meio da trapalhada que o referendo se ameaça transformar o que menos conta é o resultado que dele se pretende seriamente retirar. Quer morra desde logo pela inconstitucionalidade da pergunta, quer chegue ao momento dos votos, o que importa é fazer de conta, para salvar as aparências.
Sob o mote dado por uma pergunta que sabem profundamente enganosa e mistificatória — questionar os portugueses se estão de acordo com uma carta de direitos ignorando o que de substancial o tratado coloca em matéria de alienação e transferência de soberania — o que os autores da mesma preparam é uma campanha, não para debater com seriedade o que está em jogo, mas sim para a fazerem resvalar para a demagógica dicotomia entre os que seriam a favor ou contra a Europa.
A gravidade do que propõe o novo tratado, o seu significado para o futuro da União Europeia e de cada um dos países membros, para o futuro de Portugal, exigem uma esclarecida, séria e soberana participação do povo português. A inequívoca importância e necessidade de os portugueses serem chamados a pronunciar-se sobre o que está efectivamente em causa não pode ser ludibriada por quaisquer tentativas de simulacro de um referendo construído na base de perguntas capciosas e indutoras do resultado pretendido pelos partidos que apoiam os actuais rumos da integração europeia.