José Sócrates é, como se sabe, o inventor da «esquerda moderna» - que é, como se sabe, uma coisa inventada, há décadas, por dedicados servidores dos interesses do capital, aos quais o novo líder do PS foi, agora, beber a inspiração. Diz José Sócrates, desta vez bebendo inspiração em John Kennedy, que os tempos que vivemos exigem criação, inovação e decisão – e, agora chupando inspiração no sorrisão do mesmo Kennedy , inventa uma coisa chamada «Novas Fronteiras» - iniciativa para a qual não é difícil augurar, antecipadamente, enorme, enormíssimo êxito. A comprovar que assim é, aqui fica a garantia de que as «Novas Fronteiras» de José Sócrates serão um espectáculo de alto gabarito intelectual e político, digno de uma «esquerda moderna» – onde se discutirá tudo excepto os problemas dos trabalhadores e que contará com a presença de milhares de candidatos a futuros cargos governamentais e de ainda mais milhares de boys candidatos a dezenas de milhares de jobs. Como se sabe, as «Novas Fronteiras» de Sócrates/Kennedy têm um outro patrono, para o caso António Guterres, inventor dos saudosos «Estados Gerais» - que foram, como se sabe, uma iniciativa de alto gabarito intelectual e político; uma iniciativa onde se discutiu tudo, excepto os problemas dos trabalhadores; uma iniciativa digna de uma «esquerda moderna» - e, por isso tudo e como se sabe, uma iniciativa na qual participaram milhares de candidatos a futuros cargos governamentais e ainda mais milhares de boys candidatos a dezenas de milhares de jobs (a título de curiosidade, registe-se que António Guterres, também buscou inspiração além Atlântico: «Eu tenho um sonho», imitou ele, um dia – aliás de forma abusiva e indecorosa na medida em que o sonho de justiça de Martin Luther King se situava nos antípodas do guterral sonho de alcançar a maioria absoluta para mais facilmente exercer a pia injustiça).
É curiosa esta apetência dos lideres do PS – nascida e criada, como se sabe, nos tempos de Mário Soares, Carlucci & Cia. - para beber em fontes made in USA. E não é menos curiosa a imediata captação, a absoluta assimilação dessa apetência por parte de José Sócrates, cujos dotes de que há muito vinha dando inequívocos sinais, mereceram a atenção do Grupo de Bilderbergh especializado, como se sabe, na escolha dos melhores executantes da política de direita – sejam eles de direita ou de «esquerda moderna».