Modernices

Leandro Martins
As modernices têm destas coisas. Dão, por vezes, muito mau resultado. A gente bem vê que certas tecnologias e alguns instrumentos não vão bem com gente que já passou de prazo e assiste, por vezes, aos esforços de alguns idosos sacudindo os telemóveis que não querem deixar falar, a empurrar portas de vidro automáticas, a dar murros nas teclas dos multibancos, a carregar violentamente nos teclados dos computadores como se fossem velhas máquinas dactilográficas. Alguns lá se vão desenrascando mas o mais comum é ver acertar a juventude no que é novo. É claro que já perceberam que me proponho a fazer desta conversa uma parábola para expor e tentar explicar o que acontece com este Governo velho e relho que como tal tenta justificar-se do que tem corrido mal, por exemplo, na colocação de professores.
Por muito jovens que sejam os ministros, o espírito que os anima tem um sopro cavernícola, bem patenteado no zelo com que têm prosseguido na destruição dos direitos, no assalto às empresas públicas, no afã de roubar aos pobres para dar aos ricos. Este caos que devasta o ensino público, com o atraso na colocação de milhares de professores e na paralisação das escolas é apenas um acidente de percurso e não constitui, de facto, novidade. Já aconteceu com esta e outra gente que pratica a política de direita e era de esperar que a coisa se agravasse. Uma velha política não produz novidades boas.
Este escândalo que prejudica gravemente os professores, os estudantes e os pais e faz abalar o Governo tem culpados. São esses culpados que procuram aliviar as responsabilidades ensaiando uma manobra velha. Primeiro foram as insinuações sobre um «boicote» que alguém teria, sorrateiramente, lançado no processo de colocação, como casca de banana sob os passinhos da ministra. Depois, à falta de melhor, as culpas são atribuídas a um certo «programa» informático, à empresa que o preparou, sabe-se lá se aos trabalhadores que aí executam as tarefas. Política velha? Nada disso. A culpa é das modernices. Por isso acenam agora aos portugueses com as maravilhas do artesanato. A coisa vai ser feita à mão...


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