A colecção
A colecção foi lançada por estes dias, está à venda em tudo o que é quiosque e até já tem anúncio na televisão. Editada pela «Planeta deAgostini», é expressamente recomendada pela «revista História», promove os «grandes protagonistas da História de Portugal» e promete contar «a vida e obra dos Portugueses que levantaram o esplendor de Portugal» (sublinhado nosso).
Que «Portugueses»?
Como quem não quer a coisa, oito nomes são proclamados em letras garrafais nos cartazes de lançamento: «Infante D. Henrique, Luís Vaz de Camões, Francisco Sá Carneiro, Amália Rodrigues, Fernando Pessoa, Marquês de Pombal, D. Afonso Henriques, António de Oliveira Salazar, entre outros».
Primeira observação: para a «deAgostini», e por recomendação da «revista História», António de Oliveira Salazar já é hoje – 30 anos após a Revolução de Abril - «um protagonista» que «levantou o esplendor de Portugal».
Todavia, Salazar não está sozinho. Dos 31 biografados, nove (quase um terço) pertencem ao século XX e todos (segundo a «deAgostini») acompanham Salazar neste fantástico papel de «levantar o esplendor de Portugal».
São eles Francisco Sá Carneiro e António de Spínola («por acaso» os únicos escolhidos do período pós-Revolução de Abril), Fernando Pessoa, Egas Moniz e Amália Rodrigues (a arte e a ciência a dourar a pílula), Humberto Delgado para disfarçar e, em remate, Afonso Costa e Sidónio Pais.
Segunda observação: para a «deAgostini», os «Portugueses» que no século XX «levantaram o esplendor de Portugal» começam no primeiro ditador português e europeu (Sidónio Pais), prosseguem com o fascista mais persistente na História da Europa (Salazar) e desembocam num populista de direita (Sá Carneiro), acompanhado por um general apoiante do fascismo, contra-revolucionário golpista e reaccionário (Spínola).
Os outros que os acompanham, no século e na colecção, espalham o jogo e tentam esbater a desfaçatez editorial numa manta de retalhos tão atabalhoada, que nela cabem o Marquês de Pombal e Santo António, D. João II e a Inês de Castro, D. Nuno Álvares Pereira e Fernão de Magalhães, ou seja, a «levantar o esplendor de Portugal» tanto nos servem estadistas fundamentais como santos consagrados em Itália, monarcas determinantes ou aias galegas, Condestáveis do Reino ou aventureiros que serviram Espanha.
Tudo isto é recomendado pela «revista História», dirigida pelo dinâmico investigador Fernando Rosas que, prudentemente (o homem sabe precaver-se de descaramentos demasiado óbvios), delega no seu director-adjunto a propaganda desta «colecção», um tal Luís Farinha que, às tantas, informa no folheto que estas biografias apresentam «uma plêiade de indivíduos» que «abriram espaços inegáveis de liberdade».
Portanto, até Salazar abriu «espaços inegáveis de liberdade». É assim que os senhores da «Editora Planeta deAgostini», acolitada pela «revista História» dos Rosas e Farinhas, querem agora impingir ao País o perfil do ditador e seus comparsas ideológicos, no embrulho de uma «colecção de biografias» para consumo popular.
Às malvas (ou seja, para o esquecimento) iriam quase 50 anos de fascismo em Portugal, de atraso generalizado, de repressão brutal, de intimidação pidesca, de impunidade criminosa do próprio Estado, tudo gizado e dirigido por este, afinal... «protagonista do esplendor de Portugal».
Recordando que a Constituição proíbe liminarmente a divulgação ou promoção da ideologia fascista, que dirão agora os guardiães da República a este «esplendoroso» branqueamento do próprio ditador?!...
Que «Portugueses»?
Como quem não quer a coisa, oito nomes são proclamados em letras garrafais nos cartazes de lançamento: «Infante D. Henrique, Luís Vaz de Camões, Francisco Sá Carneiro, Amália Rodrigues, Fernando Pessoa, Marquês de Pombal, D. Afonso Henriques, António de Oliveira Salazar, entre outros».
Primeira observação: para a «deAgostini», e por recomendação da «revista História», António de Oliveira Salazar já é hoje – 30 anos após a Revolução de Abril - «um protagonista» que «levantou o esplendor de Portugal».
Todavia, Salazar não está sozinho. Dos 31 biografados, nove (quase um terço) pertencem ao século XX e todos (segundo a «deAgostini») acompanham Salazar neste fantástico papel de «levantar o esplendor de Portugal».
São eles Francisco Sá Carneiro e António de Spínola («por acaso» os únicos escolhidos do período pós-Revolução de Abril), Fernando Pessoa, Egas Moniz e Amália Rodrigues (a arte e a ciência a dourar a pílula), Humberto Delgado para disfarçar e, em remate, Afonso Costa e Sidónio Pais.
Segunda observação: para a «deAgostini», os «Portugueses» que no século XX «levantaram o esplendor de Portugal» começam no primeiro ditador português e europeu (Sidónio Pais), prosseguem com o fascista mais persistente na História da Europa (Salazar) e desembocam num populista de direita (Sá Carneiro), acompanhado por um general apoiante do fascismo, contra-revolucionário golpista e reaccionário (Spínola).
Os outros que os acompanham, no século e na colecção, espalham o jogo e tentam esbater a desfaçatez editorial numa manta de retalhos tão atabalhoada, que nela cabem o Marquês de Pombal e Santo António, D. João II e a Inês de Castro, D. Nuno Álvares Pereira e Fernão de Magalhães, ou seja, a «levantar o esplendor de Portugal» tanto nos servem estadistas fundamentais como santos consagrados em Itália, monarcas determinantes ou aias galegas, Condestáveis do Reino ou aventureiros que serviram Espanha.
Tudo isto é recomendado pela «revista História», dirigida pelo dinâmico investigador Fernando Rosas que, prudentemente (o homem sabe precaver-se de descaramentos demasiado óbvios), delega no seu director-adjunto a propaganda desta «colecção», um tal Luís Farinha que, às tantas, informa no folheto que estas biografias apresentam «uma plêiade de indivíduos» que «abriram espaços inegáveis de liberdade».
Portanto, até Salazar abriu «espaços inegáveis de liberdade». É assim que os senhores da «Editora Planeta deAgostini», acolitada pela «revista História» dos Rosas e Farinhas, querem agora impingir ao País o perfil do ditador e seus comparsas ideológicos, no embrulho de uma «colecção de biografias» para consumo popular.
Às malvas (ou seja, para o esquecimento) iriam quase 50 anos de fascismo em Portugal, de atraso generalizado, de repressão brutal, de intimidação pidesca, de impunidade criminosa do próprio Estado, tudo gizado e dirigido por este, afinal... «protagonista do esplendor de Portugal».
Recordando que a Constituição proíbe liminarmente a divulgação ou promoção da ideologia fascista, que dirão agora os guardiães da República a este «esplendoroso» branqueamento do próprio ditador?!...