Có-có-ró-có-có
A um mês da apresentação do Orçamento do Estado para 2005, o ministro das Finanças, Bagão Félix, anunciou ao País as prioridades do Governo. Não fora a gravata às pintas cor-de-rosa e o facto de ter falado de pé e dir-se-ia que tínhamos regressado ao tempo das «conversas em família» com que o fascismo brindou os portugueses na pseudo Primavera marcelista.
Com o tom paternalista e subtilmente desdenhoso que adopta para falar ao povoléu e mandar recados às oposições, Bagão Félix fez a rábula de comparar a economia nacional à economia doméstica, falou de contenção e de justiça, acenou com a promessa de aumentar salários e pensões, lamentou a falta de dotes mágicos para multiplicar as receitas, lançou o engodo do crescimento que está para vir e mostrou-se optimista ‘ma non tropo’.
Numa postura de pai tirano e justiceiro, Bagão deixou a pairar a hipótese de rever os privilégios oferecidos pelos paraísos fiscais, mostrou-se decidido a aumentar os impostos sobre bens não essenciais e defendeu uma vez mais a tese do «utilizador-pagador» para justificar aumentos de serviços... essenciais.
Recorrendo ao discurso populista e à mensagem subliminar, Bagão tentou cativar sacrificados e privilegiados: aos primeiros mostrou a necessidade de mais sacrifícios, aos segundos garantiu moderação. Foi quase como dizer aos donos do aviário que vão ter de ceder uns ovos, poucos, e mostrá-los depois às massas como prova provada de que sem ovos não se fazem omeletes pelo que não vale a pena cacarejar.
O ministro não falou do desemprego nem anunciou medidas para o combater; não disse uma palavra sobre a indexação do preço dos transportes ao preço dos combustíveis; não dedicou uma linha às fugas ao fisco; não fez um comentário sobre as negociatas, os escândalos e as gestões ruinosas do que ainda resta do sector público. Lamentou-se, isso sim, que as «jóias» estejam a acabar e pouco mais reste para alienar; bateu na tecla da contenção qual disco riscado, queixando-se dos trabalhadores em excesso mas sem uma referência aos 50 carros topo de gama que os seus colegas de governação reivindicam para passear as ministerais bundas; e voltou de novo e sempre com a tese da produtividade - ponham ovos, ponham ovos! - para cortar cerce as veleidades de aumento real dos salários.
A comunicação de Bagão Félix ao País foi ao fim e ao cabo um retrato fiel de um governo, cada vez mais reaccionário e submetido aos ditames do poder económico, que baixa os impostos do capital e suga o sangue ao trabalho, que ao invés de estimular a solidariedade nacional promove a divisão do país, e para quem a saúde, a educação, os transportes, a habitação, a água e o solo, os combustíveis e a alimentação, a cultura e o lazer, o trabalho e a aposentação não passam de um negócio.
Depois de Ferreira Leite ter vendido os anéis ao desbarato, Bagão Félix sonha agora em nos assaltar os dedos.
A direita aplaude. Parafraseando Álvaro Cunhal, sempre que um dos seus põe ovo, cacarejam o dia inteiro.
Com o tom paternalista e subtilmente desdenhoso que adopta para falar ao povoléu e mandar recados às oposições, Bagão Félix fez a rábula de comparar a economia nacional à economia doméstica, falou de contenção e de justiça, acenou com a promessa de aumentar salários e pensões, lamentou a falta de dotes mágicos para multiplicar as receitas, lançou o engodo do crescimento que está para vir e mostrou-se optimista ‘ma non tropo’.
Numa postura de pai tirano e justiceiro, Bagão deixou a pairar a hipótese de rever os privilégios oferecidos pelos paraísos fiscais, mostrou-se decidido a aumentar os impostos sobre bens não essenciais e defendeu uma vez mais a tese do «utilizador-pagador» para justificar aumentos de serviços... essenciais.
Recorrendo ao discurso populista e à mensagem subliminar, Bagão tentou cativar sacrificados e privilegiados: aos primeiros mostrou a necessidade de mais sacrifícios, aos segundos garantiu moderação. Foi quase como dizer aos donos do aviário que vão ter de ceder uns ovos, poucos, e mostrá-los depois às massas como prova provada de que sem ovos não se fazem omeletes pelo que não vale a pena cacarejar.
O ministro não falou do desemprego nem anunciou medidas para o combater; não disse uma palavra sobre a indexação do preço dos transportes ao preço dos combustíveis; não dedicou uma linha às fugas ao fisco; não fez um comentário sobre as negociatas, os escândalos e as gestões ruinosas do que ainda resta do sector público. Lamentou-se, isso sim, que as «jóias» estejam a acabar e pouco mais reste para alienar; bateu na tecla da contenção qual disco riscado, queixando-se dos trabalhadores em excesso mas sem uma referência aos 50 carros topo de gama que os seus colegas de governação reivindicam para passear as ministerais bundas; e voltou de novo e sempre com a tese da produtividade - ponham ovos, ponham ovos! - para cortar cerce as veleidades de aumento real dos salários.
A comunicação de Bagão Félix ao País foi ao fim e ao cabo um retrato fiel de um governo, cada vez mais reaccionário e submetido aos ditames do poder económico, que baixa os impostos do capital e suga o sangue ao trabalho, que ao invés de estimular a solidariedade nacional promove a divisão do país, e para quem a saúde, a educação, os transportes, a habitação, a água e o solo, os combustíveis e a alimentação, a cultura e o lazer, o trabalho e a aposentação não passam de um negócio.
Depois de Ferreira Leite ter vendido os anéis ao desbarato, Bagão Félix sonha agora em nos assaltar os dedos.
A direita aplaude. Parafraseando Álvaro Cunhal, sempre que um dos seus põe ovo, cacarejam o dia inteiro.